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Severino est Charlie: o Fuzil versus a Caneta

Depois do atentado de 7 de janeiro ao semanário Charlie Hebdo, uma emissora francesa promoveu um debate entre o Fuzil e a Caneta. Confira os melhores trechos:


Vitor Vogas ColunasCANETA:

Quando me têm em punho
Tudo se cria e transforma
Os homens fazem milagres
Em uma folha de rascunho

FUZIL:
Quando me têm em punho
Tudo se perde e deforma
Não há o que não se apague
Em um fim triste e soturno

CANETA:
Quando eles me têm em mãos
Ganha vida o talento
Toma forma a liberdade
Vive a arte e a criação

FUZIL:
Quando eles me têm em mãos
Ganha corpo o sofrimento
À barbárie e à crueldade
Trato de dar expressão

CANETA:
Sou aquilo de que um Wolinski
Um Cabu, Tignous ou Charb
Utiliza-se para deixar
Sua marca no que rabisque

FUZIL:
Pois eu, diante de um Wolinski,
De um Cabu, Tignous ou Charb
Procuro bem quieto o deixar
A fim de que bem calado fique

CANETA:
Sou aquilo de que um Wolinski
Um Cabu, Tignous ou Charb
Vale-se para debochar
Da estupidez que persiste

FUZIL:
Já eu, ao deparar com um Wolinski
Um Cabu, um Tignous ou um Charb
Busco o ameaçar e o vexar
Que com a estupidez não mais implique!

CANETA:
Eu, bem, sou aquilo que um Wolinski
Um Cabu, Tignous ou Charb
Utiliza para golpes desfechar
Em toda ignorância e burrice

FUZIL:
Pois eu, ao lidar com um Wolinski
Um Cabu, um Tignous ou um Charb
Procuro a sua voz de vez fechar
Para que não mais se multiplique!

CANETA:
Sou a arma, a dizê-lo me arrisco,
Usada pelo Charlie Hebdo
E por qualquer contestador
Que provoca o riso com um risco

FUZIL:
Sou a arma de verdade, nisso insisto,
Que atacou o Charlie Hebdo
Sou o verdadeiro risco, sou a dor
Sou eu que do mapa o riso risco

CANETA:
“Verdadeira arma”, camarada?
Pois eu, mais poderosa, sou a caneta
Muito mais forte que a espada
Pois criar, não destruir, é minha meta

FUZIL:
Eu é que sou muito mais forte!
Sou da liberdade a homicida
Sou eu quem dá vida à morte
E, assim, imponho a morte à vida

CANETA:
Haha, pois não passa é de um fracote!
Não vê que sua causa é perdida?
Faça quantos cortes, quantas mortes
Voltarei sempre fortalecida!

Considerações finais:

CANETA:
Sou do homem a ferramenta
Para a criação artística
E a feitura jornalística
O que a muitos atormenta
Sou-lhes útil ferramenta
Para a sátira política
E a crítica humorística
Que num riso se arrebenta
Sou-lhes, pois, a ferramenta
Para a reflexão crítica
O que a mente paralítica
Não tolera e não aguenta

FUZIL:
{{{Rá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá!!!}}}

 

 

* Em 2015, confira aqui um novo Cordel do Severino toda quarta-feira. 

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