• Últimas da coluna

Vai ter golpe?

Confira a coluna Praça Oito deste sábado, 30 de abril


A reabertura da discussão da PEC que autoriza reeleições ilimitadas para os membros da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa passa diretamente pelo contexto da eleição municipal em Cachoeiro. Resume-se à resposta para uma questão: o atual presidente da Mesa, Theodorico Ferraço (DEM), será ou não candidato a prefeito dessa vez?

O próprio faz jogo de cena, mas três experientes deputados e um influente assessor parlamentar afirmam, em uníssono, não ter a menor dúvida de que ele não o será. “Cachoeiro está quebrada, os prefeitos estão todos mal. Ele sabe que pode ser a próxima vítima”, diz um deles.

Uma conjugação de fatores indica que Ferração está mesmo predisposto a se aposentar de eleições para o Executivo: idade avançada, beirando os 80 anos; o aumento do rigor do MPES, que deve pôr sua lupa sobre cada gesto de cada gestor municipal por pressão crescente da sociedade; o prenúncio de um mandato dificílimo para quem quer que seja o próximo prefeito de Cachoeiro, por causa da penúria financeira; na soma, um abacaxi que promete um ônus muito maior do que o bônus de governar uma cidade que, afinal, ele já administrou em quatro ocasiões. Um abacaxi que ele não teria mais por que pegar para descascar.

Hoje, Theodorico figura com cerca de 60% das intenções de voto na cidade. Mas isso quer dizer pouco. Calejado, ele sabe que, assim que tomar o assento desocupado por Casteglione, esse índice pode se reverter em rejeição contra ele.

Por outro lado, animal político que é, a raposa de Cachoeiro não consegue viver longe do poder. Ficar na Assembleia por ficar, para voltar a habitar a planície, como só mais um dos 30 deputados, talvez não lhe soe tão interessante a ponto de o fazer abdicar de uma candidatura “condenada ao sucesso”. Como presidente da Assembleia, a coisa já muda de figura, por dois motivos fundamentais.

Primeiro, sem esforço tão grande (até porque já está no cargo há tanto tempo que pode pilotar no automático), ele permaneceria em posição que lhe proporciona não só prestígio mas inegável influência política. Esta vale naturalmente para o próprio Legislativo, já que o presidente é quem rege a orquestra lá, mas se estende para a relação com os outros Poderes. E aí entra a segunda razão:

O projeto prioritário do demista hoje é voltar a eleger a esposa, Norma Ayub (DEM), prefeita de Itapemirim. Isso é questão de honra para ele. Mas, já mirando 2018, o senador Ricardo Ferraço (PSDB), herdeiro político de Theodorico, é potencial candidato à sucessão de Paulo Hartung (se este não concorrer mesmo à reeleição). Se isso se confirmar, será importantíssimo para o pai, em nome do filho, seguir guardando essa estratégica posição, que permite a ele pressionar o governo a seu bel prazer.

Assim, do ponto de vista meramente pragmático, até faz sentido essa movimentação em prol da “PEC da reeleição eterna”, sobretudo para o próprio Theodorico. Agora, do ponto de vista democrático, nova manobra nessa direção seria uma piada de mau gosto. A primeira já ficou estranha, mas vá lá, Ferração vinha de mandato tampão. A segunda, de uma legislatura para outra, já desceu quadradíssima, mas passou. Agora, essa terceira artimanha em sequência, ao permitir na prática a reeleição infinita do presidente, abriria também uma brecha perigosa para algo que se viu na Assembleia em um nada saudoso passado recente: a perpetuação do mesmo grupo no poder.

Theodorico não é José Carlos Gratz. Aliás, ao contrário do ex-“invencível”, tem feito gestão séria e austera. Mas, como prova o atual momento político do país, a ausência de alternância no poder tende a facilitar o entranhamento de “malfeitos” na administração pública. Nesse caso, a exceção para favorecer o atual presidente seria um atalho para a perdição. Um caminho muito ruim, tanto para a política capixaba como para a sociedade.

Abre o olho, Rodney!

Não é só com o deputado federal Max Filho (PSDB) que o governador Paulo Hartung anda se reunindo. Há cerca de um mês, Hartung conversou, no Palácio Anchieta, com o ex-prefeito Neucimar Fraga (PSD), também pré-candidato a prefeito de Vila Velha. Assunto: eleições municipais.

Mediadores

Quem intermediou a agenda foi o presidente estadual do PSD, Zé Carlos da Fonseca Jr. (assessor do governo para atração de investidores estrangeiros), e o secretário estadual de Agricultura, Octaciano Neto (sem partido). Muito ligado a Neucimar desde a origem política, Octaciano foi secretário de Desenvolvimento Econômico na gestão dele em Vila Velha.

Caminho livre

Conforme apurou a coluna, a tônica da conversa foi a seguinte: Hartung logicamente não vai apoiar Neucimar ou ajudá-lo, mas tampouco moverá uma palha para atrapalhar seus planos.

Equipe liberada

Aliás, segundo fontes palacianas, Hartung já tem adotado a postura de liberar secretários para fazerem os próprios movimentos de apoio eleitoral. Melhor exemplo disso é Vitória: a subsecretária de Turismo, Simone Modolo, e o assessor Robinho Leite estão com Lelo Coimbra (PMDB). Já Octaciano, o vice-governador César Colnago (PSDB) e o secretário de Cultura, João Gualberto Vasconcellos, estão com Luiz Paulo Vellozo (PSDB).

Bastidor da Assembleia

O governador PH ligou para Theodorico Ferraço para agendar um almoço com todos os deputados esta semana. Depois decidiu desmarcar, mas quem ligou para Theodorico foi uma secretária, deixando magoado o presidente da Mesa Diretora.

Cena política

Conhecido pelo olhar de águia, o presidente da Assembleia Legislativa não estava satisfeito e resolveu ampliar o alcance da visão, fazendo recentemente uma cirurgia de catarata. “O velhinho está enxergando muito bem! Outro dia fiz exame de vista para tirar carteira de habilitação. Tudo em ordem! Estou até lendo sem óculos”, contou ele a um colega de A GAZETA.

Ver comentários