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Cachoeiro, a Mesa e o Palácio

Confira a coluna Praça Oito desta quinta-feira, 26 de maio


Na aparência, a eleição municipal de Cachoeiro (2016), a da Mesa Diretora da Assembleia (2017) e a próxima eleição estadual (2018) são completamente independentes. Mas as aparências enganam. O xadrez político estadual tratou de interligar esses três pleitos, a princípio desconectados, em uma triangulação que começa no sucessor do prefeito Carlos Casteglione (PT) em Cachoeiro, passa pelo próximo presidente da Assembleia Legislativa e culmina com o sucessor do governador Paulo Hartung (PMDB).

Como a coluna noticiou nesta quarta-feira, ganha força na Assembleia o movimento de aliados do atual presidente, Theodorico Ferraço (DEM), a fim de permitir que ele emende novo mandato de dois anos (2017-2018) no comando da Mesa Diretora. Isso, é claro, com o consentimento velado do próprio cachoeirense.

É cada vez mais seguro o fato de que Theodorico não tem a menor intenção de concorrer mais uma vez à Prefeitura de Cachoeiro. Seu desinteresse em tal disputa é proporcional ao seu interesse em permanecer onde está. Mas por que todo esse interesse em continuar dando as cartas na Mesa Diretora do Legislativo?

A opção passa por 2018. Na presidência da Assembleia, o veterano deputado preserva seu status na geopolítica estadual e a sua influência sobre o Legislativo e os demais Poderes. Consequentemente, mantém-se como ator relevante na definição das eleições de 2018, quando estarão em jogo o cargo de governador e duas vagas no Senado Federal.

Nesta ocasião, o senador Ricardo Ferraço (PSDB), filho de Theodorico, estará em um dos páreos, seja buscando a reeleição – em uma disputa que se anuncia complicada –, seja revivendo o projeto de chegar ao Palácio Anchieta, abortado em 2010. Nesse caso, em nome do filho, a permanência de Theodorico onde hoje está ganha ainda mais peso. Dependendo do grau de sintonia eleitoral entre Hartung e Ricardo, o presidente da Casa pode tanto facilitar como dificultar as coisas para o governo PH no Legislativo.

Por isso, precisamente por isso, o Palácio Anchieta hoje não teria o menor interesse em que Theodorico continue onde está até 2018. Ao contrário: muito mais conveniente seria vê-lo fora do eixo de poder em Vitória, isolado e praticamente aposentado em uma volta triunfal, mas crepuscular, a seu reduto no Sul.

Pode até não haver propriamente um incentivo nesse sentido, mas o Palácio teria simpatia pela ideia de ver a velha raposa novamente se candidatando e virtualmente se elegendo prefeito de Cachoeiro. Concorre para isso o próprio movimento de Hartung de tirar do páreo o deputado licenciado Rodrigo Coelho (PDT), potencialmente o maior adversário de Theodorico na cidade, ao levá-lo para ocupar uma secretaria de Estado.

Rodrigo tem dito que fica no governo pelo menos até o fim do ano, o que reforça a impressão de ter sido essa uma ação de Hartung com o intuito de limpar ainda mais o terreno para Theodorico em Cachoeiro. Com o demista eleito prefeito, Rodrigo teria por sua vez caminho livre para voltar à Assembleia e se fazer presidente da Mesa pelo próximo biênio com apoio e respaldo político do governo PH.

Mas Theodorico, ao que parece, decidiu dobrar a aposta. Partiu para a PEC da Reeleição e à coluna, surpresa das surpresas, admitiu que hoje estaria disposto até a apoiar Rodrigo a prefeito de Cachoeiro, “se for da vontade da população”. Estará querendo virar a mesa?

Como disse um experiente deputado, isso não é jogo de baralho em pracinha, mas carteado profissional, de cassino. Hartung e Theodorico são dois ases do pôquer político. E, como estamos vendo, dois podem jogar esse jogo.

Rodrigo e Theodorico

Theodorico Ferraço e Rodrigo Coelho, nas últimas semanas, chegaram a ensaiar uma inédita aproximação. Em abril, Rodrigo procurou Theodorico e, pela primeira vez na história, ambos conversaram sobre o processo eleitoral em Cachoeiro.

Aproximação

Há cerca de duas semanas, Theodorico ligou para Rodrigo convidando-o para participar da reunião com líderes partidários que ele tem coordenado em Cachoeiro a fim de chegar a um candidato de consenso a prefeito do município. Rodrigo agradeceu, mas declinou.

CPI emperrada

A reunião da CPI dos Empenhos marcada para ontem acabou não ocorrendo. O vice-líder do governo PH na Assembleia, Erick Musso (PMDB), pediu mais tempo para analisar o relatório final de Euclério Sampaio (PDT), após ter pedido vista do texto na semana passada. Todos consentiram, inclusive Euclério. “Não quis esticar a corda”, disse o relator.

Olha o blefe...

Na última terça-feira o deputado Cacau Lorenzoni (PP) disse já ter reunido mais do que as dez assinaturas necessárias para protocolar a PEC da Reeleição Eterna. Na sessão ordinária de ontem, Cacau passou recolhendo as firmas dos colegas e, até o fim da sessão, não tinha conseguido obter as 10 necessárias, no papel.

Reação em bloco

Um grupo de dez deputados descontentes com a movimentação em favor de Theodorico se formou brevemente durante a sessão e combinou reunião na próxima segunda para articular a reação à manobra. São eles: Amaro Neto, Da Vitória, Erick Musso, Euclério, Gilsinho Lopes, Janete de Sá, José Esmeraldo, Marcelo Santos, Raquel Lessa e Sergio Majeski.

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