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Enio Bergoli provoca o debate

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Mesmo despontando como absoluto azarão na eleição para prefeito de Vitória – tem só 0,2% das intenções na pesquisa do Instituto Futura publicada em março –, o ex-secretário estadual de Agricultura Enio Bergoli não quer passar despercebido na campanha. Filiado ao Partido Verde, garante que a candidatura é para valer, por resolução do comando nacional. Ligadas à sustentabilidade, as bandeiras do PV prometem estar presentes como nunca no debate municipal, em razão dos problemas ambientais em série que tanto afligem os cidadãos da Capital (pó preto, pó vermelho, língua negra e por aí vai). E é justamente empunhando tais bandeiras históricas do PV que Bergoli se diz disposto a deixar a marca do partido nos debates.

“A história do PV hoje tem tudo a ver com o que as pessoas estão pensando, não só em Vitória. Nós precisamos resolver essa questão ambiental da Grande Vitória como um todo. Inclusive deve ser uma agenda compartilhada com os demais municípios, pois há impactos provocados de forma articulada. Pensamos Vitória como uma cidade verde, acolhedora e sustentável. Além da poluição em si que precisamos resolver, temos que fomentar o uso de energias mais renováveis para a nossa capital”.

Com 30 anos de carreira recém-completados no Incaper, Bergoli aposta em seu perfil técnico e critica a ingerência de questões políticas que atravessam o debate da agenda ambiental entre gestores, dificultando o trabalho conjunto em busca de uma necessária agenda metropolitana. Ele constata a falência do modelo de gestão das pautas ambientais aplicado pelo atual prefeito, Luciano Rezende (PPS), e por seus antecessores.

“De fato, precisamos mudar o rumo da gestão com base em um pouco mais de conhecimento, tecnologia e inovação e um pouco menos de política, menos geopolítica, no sentido negativo da palavra. O PV hoje quer fazer esse debate, sem bravata, até porque acreditamos que esse modelo faliu. Acreditamos que a cidade está preparada para um prefeito de perfil mais técnico”, diz o verde.

Segundo ele, é preciso evoluir muito além do campo da política, com inovações técnicas, para construir um novo modelo para Vitória. “Se continuarmos nesse mesmo rumo, nessa mesma marcha e nesse mesmo modelo de gestão, não vamos conseguir avançar em aspectos fundamentais de mobilidade urbana e de sustentabilidade.”

O pré-candidato afirma que, se depender dele, o eleitor verá seu nome na urna. Tanto que está construindo um plano de governo, em diálogo com a universidade. “Tenho perfil bem técnico. Num ano eleitoral, os debates às vezes saem um pouco da questão técnica e avançam nas questões políticas, o que é absolutamente normal. Agora, não podemos misturar as coisas. Queremos mudar exatamente esse modelo. Temos um perfil diferente de não envolver as questões políticas nas discussões sobre os entraves ao desenvolvimento sustentável.”

Com passagens pelos governos tanto de Paulo Hartung como de Casagrande, o verde ainda critica a “geopolítica” que tem se sobreposto à agenda técnica e determinado os acordos político-eleitorais. “Não estamos pensando em 2018, como é comum não só aqui, mas no Brasil inteiro. Nossa candidatura não tem olhos nem para 2020 nem para 2022. A candidatura do PV é do PV, não é da geopolítica, não é nem de Hartung nem de Casagrande, o que não significa que não vamos dialogar.”

Se a candidatura de Bergoli não acabar cedendo à mesma “geopolítica” e sendo engolida em uma coligação, será interessante acompanhar o efeito que esse discurso de um outsider da política exercerá na agenda de campanha, inclusive pautando os demais candidatos.

Veja abaixo a entrevista de Enio Bergoli na íntegra:

A sua candidatura é para valer?

Temos tido discussões sobre o tema no partido. Além de mim, havia outros dois nomes: o do professor Ademir Cardoso e o do presidente do CREA, Luiz Fiorotti. Chegamos a um consenso em relação ao meu nome. É um momento de articulações e estamos ouvindo vários segmentos.

Por conta de uma série de problemas ambientais, a agenda da sustentabilidade nunca esteve tão presente na agenda metropolitana, sobretudo em Vitória. Essa é precisamente uma agenda histórica defendida pelo PV. O senhor pretende priorizar este debate durante as eleições?

O PV tem uma história, e a história do partido hoje tem tudo a ver com o que as pessoas estão pensando, não só na cidade. Quer dizer, nós precisamos resolver essa questão ambiental da Grande Vitória como um todo. Inclusive é uma agenda compartilhada com os demais municípios, pois há impactos provocados de forma articulada. Temos estudos de poluição que mostram que não adianta resolver só em Vitória. Os rios que deságuam na Baía de Vitória também precisam de ações urgentes. Pensamos Vitória como uma cidade verde, acolhedora e sustentável. Além da poluição em si que precisamos resolver (com o pó preto, pó vermelho e as praias, entre outros problemas), temos que fomentar o uso de energias mais renováveis para a nossa capital.

Que propostas específicas o senhor tem para essa área?

Podemos ter geradores de energia solar e eólica em Vitória. Ações educativas mesmo, como por exemplo sobre o problema do lixo. Melhorar e ampliar a coleta seletiva. Dar destino de reciclagem. Campanhas educativas para adultos e crianças.

E quanto aos grandes empreendimentos ligados ao polo siderúrgico e minerador?

As opções geradoras de emprego têm que estar compatíveis com as nossas limitações. Vamos ter que conviver com esses grandes empreendimentos já instalados, mas vamos atuar no sentido de que eles estejam mais adequados ao que se preconiza no mundo todo hoje, não só pela OMS (Organização Mundial da Saúde). É questão de saúde também. Ninguém vai colocar a espada na cabeça das grandes empresas. Precisamos delas, mas dá para sentar e discutir à luz do que há de melhor e de mais inovador no mundo. Ao mesmo tempo, a atração de novas oportunidades de emprego tem que ter a ver com isso. Temos que ser polos de serviços especializados, de economia criativa, serviços mais ligados à cultura e ao turismo. É preciso conviver com esses grandes empreendimentos de uma maneira mais contemporânea. E Vitória não pode ser uma ilha no sentido de ficar ilhada. É necessária uma articulação metropolitana.

Qual é a sua posição a respeito do problema da poluição do mar de Camburi gerado pelo despejo de esgoto não tratado pela Cesan, motivo de uma recente crise política entre a Prefeitura de Vitória e o governo estadual?

Precisamos resolver objetivamente essa questão. Vitória já tem praticamente 100% da rede coletora, mas faltam ligações. Porém isso não é suficiente para garantir níveis aceitáveis em relação aos impactos ambientais. Precisamos discutir isso à luz de tecnologias que sejam mais contemporâneas no que diz respeito a coleta e tratamento. E precisamos discutir com a Cesan. Será que o método ali, mesmo o de esgoto tratado, é o mais adequado? Precisamos evoluir nas próximas licitações, nos próximos trabalhos. Precisamos usar métodos de tratamento mais modernos. Precisamos evoluir muito nisso. Precisamos evoluir muito além do campo da política, com inovações técnicas, para construir um novo modelo para Vitória. Se continuarmos nesse mesmo rumo, nessa mesma marcha e nesse mesmo modelo de gestão, não vamos conseguir avançar nesses aspectos fundamentais de mobilidade urbana e de sustentabilidade, com as nossas limitações.

Então o modelo atualmente praticado para tratar de questões ambientais na cidade está errado e, a seu ver, precisa ser alterado?

De fato, precisamos mudar o rumo da gestão com base em um pouco mais de conhecimento, tecnologia e inovação. E um pouco menos de política, no sentido negativo da palavra, da geopolítica. O PV hoje quer fazer esse debate, sem bravata, até porque acreditamos que esse modelo faliu.

Ou seja, as questões políticas estão se sobrepondo e atrapalhando um debate político sério e verdadeiramente voltado para a resolução dessas questões ambientais?

Num ano eleitoral, os debates às vezes saem um pouco da questão técnica e avançam nas questões políticas, o que é absolutamente normal. Os assuntos de natureza técnica, vamos discutir de maneira técnica. As políticas de coligações, vamos discutir politicamente. Agora, não podemos misturar as coisas. Queremos mudar exatamente esse modelo. Tenho um perfil muito técnico, um perfil diferente, de não envolver as questões políticas nas discussões dos entraves. Gestão se faz com conhecimento técnico e, claro, com habilidade política. Senão fica uma gestão só pensando em processo eleitoral, seja 2018, seja 2020, seja 2022. A candidatura do PV é do PV, não é da geopolítica. Não estamos pensando em 2018, como é comum não só aqui, mas no Brasil inteiro. A candidatura do PV não tem olhos nem para 2020 nem para 2022.

A sua candidatura foi encorajada pelo governador Paulo Hartung? E pelo ex-governador Renato Casagrande?

Nem Paulo Hartung nem Casagrande. É uma candidatura do PV, o que não significa que não vamos dialogar. O diálogo é absolutamente normal. Agora, a decisão de ser candidato não foi em nível estadual. Veio em nível nacional. Não teve uma influência de lideranças locais e não é fruto desse arranjo.

Então o senhor está mesmo determinado a ter o seu nome na urna?

Se depender de mim, sim. Acreditamos que a cidade está preparada para um prefeito de perfil mais técnico.

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Dia D para Paulo Roberto

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