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O pupilo de Luiz Paulo

Confira a coluna Praça Oito desta sexta-feira (22)


Sai Luiz Paulo, entra... Wesley Goggi?!?

Com todo o respeito que é devido ao jovem dirigente, o presidente municipal do PSDB é um quadro com potencial de crescimento e ambicioso (já disse em entrevista a A GAZETA que quer ser o presidente da República), mas trocar Luiz Paulo por ele na cabeça da chapa do PSDB em Vitória não soa como solução à altura da encruzilhada em que o próprio partido se meteu desde a última terça.

No mercado político, prevalece a percepção de que a indicação às pressas de Goggi como substituto de Luiz Paulo, feita pela executiva municipal dos tucanos quando o corpo do ex-pré-candidato ainda nem tinha esfriado, está longe de ser resposta definitiva para o problema do PSDB. Foi, isto sim, medida paliativa e com prazo de validade, para que o partido preenchesse de imediato o vácuo aberto pela saída de Luiz Paulo e assim não ficasse à deriva, sem uma referência com quem outros líderes partidários pudessem dialogar enquanto o PSDB decide o que fazer da vida na Capital. O dirigente de 35 anos teria entrado em cena para segurar aliados e conter estrago ainda maior. Mas a entrevista dele ontem não deixa dúvida: Goggi deseja muito mais e está aproveitando a sua chance.

A decisão de indicá-lo logo após a desistência de Luiz Paulo na terça foi tomada pela executiva municipal – lembre-se, comandada com rédeas curtas pelo próprio Goggi – e pela “chapa de vereadores do PSDB”. A decisão foi tomada quando todos ainda batiam cabeça, atabalhoadamente, para entender o que estava acontecendo. Não contou com a autorização da executiva estadual do partido, onde se concentram os tucanos de alta plumagem do Espírito Santo. O presidente estadual do PSDB, Jarbas de Assis, se disse até meio pego de surpresa pelo indicativo da municipal.

Com base nas regras internas, não seria mesmo necessário esse aval da direção estadual para a municipal, como afirmam Goggi e o próprio Jarbas. Mas o apoio e até mesmo o incentivo a Goggi para tomar essa iniciativa partiram de ninguém mais, ninguém menos que o próprio Luiz Paulo, a quem o dirigente municipal chama de “professor”. Essa é a versão de Goggi – a qual Luiz Paulo nem confirma, nem desmente. Mas alguns indícios e fatos a reforçam.

Segundo Goggi, Luiz Paulo há um mês já discutia com ele a possibilidade de se retirar e de ser substituído por ele na cabeça da chapa. Ambos voltaram a conversar na residência de Luiz Paulo em Fradinhos na terça à tarde (informação confirmada por Luiz Paulo), imediatamente após a publicação da nota do ex-prefeito, que tornou a apresentar a ideia ao discípulo. No início daquela noite, horas após o anúncio do recuo, Luiz Paulo deu entrevista falando em priorizar a preservação da chapa de vereadores.

Um par de horas depois, a executiva municipal do partido reuniu-se em convocação relâmpago e lançou a pré-candidatura de Goggi a prefeito, preenchendo de imediato o vazio deixado por Luiz Paulo. Na foto enviada à imprensa, identificam-se assessores ligados ao ex-prefeito. A explicação de Goggi para a decisão municipal casa perfeitamente com a entrevista de Luiz Paulo: preservar a chapa proporcional. “O meu lançamento como pré-candidato a prefeito é para que a gente mantenha a liderança do PSDB e a chapa de vereadores. O Luiz Paulo apoia a nossa decisão”, disse à coluna.

Sem poupar autoconfiança e autoelogios, Goggi quer ir além. “Me preparei, me capacitei, estou estudando há alguns anos. Estou preparado não só para a campanha, mas para administrar a cidade. Vocês vão perceber nos debates. O PSDB nacional investiu no Wesley. Fui treinado e preparado pra este momento. É a chance de provarmos que o PSDB tem novos quadros e que um jovem pode fazer as mudanças de que Vitória precisa.”

O que teria levado o experiente Luiz Paulo a tirar esse gênio da garrafa não está tão cristalino. Claro está, porém, que o tucano em formação no ninho quer bater as próprias asas e voar. Ocorre que esse jogo será jogado em outra altitude. Espécimes mais desenvolvidos podem estar se aquecendo para aterrissar de surpresa na ilha, assim que o alto tucanato de Brasília cortar as asas de Goggi, sem trauma para ele. É tema de outra coluna.

Abaixo, buscamos responder a três perguntas latentes neste processo: 

1. Por que Luiz Paulo estimulou esse caminho, ainda que provisório?

Pode ser que ele tenha se apressado a apresentar outra referência, algo como um porta-voz suplente enquanto as coisas se ajeitam, realmente preocupado em não deixar a chapa do PSDB se esfarelar no processo com o impacto de sua retirada.

Mas pode ser que, simplesmente, sem mais nada a perder e irritado com a inoperância do comando estadual (César Colnago/Jarbas de Assis) a seu favor, tenha alimentado a já latente ambição de Goggi e estimulado seu lançamento para embolar ainda mais o cenário e ver o que acontece a partir daí.

Como é sabido, Goggi derrotou o grupo dos caciques estaduais na eleição interna em Vitória em 2015 e não priva da predileção de Colnago e companhia, muito menos para ser o candidato a prefeito.

2. Quais são as chances reais de Goggi persistir no páreo?

O próprio Goggi admite que a decisão sobre candidatura será tomada de forma conjunta estre as executivas municipal, estadual e nacional. A esta última (entenda-se Aécio e companhia) cabe juridicamente a palavra final sobre qualquer decisão tomada em Vitória, como bem sabe Goggi.

“Mas a municipal já expressou o que ela quer”, afirma Goggi. Leia-se: ele mesmo, que, tenaz e destemido, já surpreendeu a velha guarda do PSDB-ES quando, agindo por baixo dos bigodes dos caciques estaduais, despojou-os do comando e do controle da executiva municipal de Vitória, em eleição interna marcada por denúncias de fraudes de parte a parte.

Se os mesmos caciques não puserem as barbas de molho e abrirem bem os olhos, podem acabar sendo surpreendidos novamente pelo insidioso jovem dirigente, que leva a própria pré-candidatura muito a sério e que ambiciona chegar até à Presidência da República. A prefeitura seria o primeiro passo do caminho.

3. Quais são os outros candidatáveis?

O autolançamento de Goggi teria partido também de um desejo de se colocar no jogo contra outros nomes mais fortes que já começaram a se ventilar na terça-feira mesmo, prenunciando novo cabo de guerra interno no PSDB-ES – disputa em que o jovem dirigente se agarra ao lado mais fraco da corda.

Enquanto a executiva municipal lançava Goggi, o presidente estadual, Jarbas de Assis, fazia convite “de brincadeira”, com muitas aspas, a Ricardo Ferraço, e Colnago tratava de reinflar um antigo balão de ensaio que sempre lhe soou interessante e que ele chegou a testar no ano passado: o deputado estadual Sérgio Majeski. Tanto Ricardo como Majeski podem ser alternativas.

Ricardo pode estar a fim

Cresce a especulação de que Ricardo Ferraço pode entrar no lugar de Goggi como candidato do PSDB a prefeito da Capital. Questionado diretamente se topa, o senador dá risada enfática (meio forçada). “Agora você me apertou sem me abraçar.” Diante da insistência da coluna, dá nova risada, mas não descarta essa opção. “Não sei, né? Tem que ver. Como se diz em Minas, nem assumo nem descarto.”

Ricardo se movimenta

“Estou conversando com todo mundo. Baianos, alagoanos e sergipanos”, diz o senador. As conversas, entretanto, não incluem mais Luciano. Apesar do aperto em que Luiz Paulo deixou o PSDB, Ricardo defende que o tempo é aliado do partido. “Dá para ir ao Japão duas vezes e voltar.”

Serjão se descola de Lelo

Logo após conversa com Luciano ontem, Luiz Paulo “esbarrou” em Serjão (PTB). O vereador também pediu o apoio do tucano. Serjão desmanchou o acordo com Lelo (PMDB) de formarem chapa já no 1º turno. Acha que cresceu com a saída de Luiz Paulo e quer se lançar. Segundo ele, aliança com Lelo só no 2º turno.

Para crescer em Vitória

Goggi aposta em sua folha de serviços prestados ao PSDB país afora e em sua alegada proximidade com caciques nacionais. Como um típico candidato, fala de si na 3ª pessoa e já pede votos até a jornalistas. “Aécio e Serra veem o Wesley como candidato competitivo. Com o apoio das lideranças nacionais, vou pro 2º turno. Recebi 200 mensagens vindas de todo o país. O que aqui é visto como surpresa é visto nacionalmente com naturalidade.” Mas o que conta é aqui, não?

Vereadores do PSDB

Segundo Goggi, manter a chapa majoritária do PSDB puxa votos de legenda e ajuda na eleição de vereadores em uma chapa proporcional puro sangue. O PSDB tem 15 pré-candidatos. “Faremos 18 mil votos e três vereadores”, projeta. Será?

Cena política

Escolinha do Professor Manato: em recente visita de Amaro Neto a Brasília, o presidente estadual do SDD resolveu dar a seu pupilo lições de como funciona a Câmara dos Deputados: “Aqui você tem que botar a cabeça para fora mesmo, senão os outros te derrubam”. Bom aluno como Seu Ptolomeu

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