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Rodney está na batalha


Rodney Miranda (DEM), quem diria, conseguiu se viabilizar. Contra todas as apostas, prognósticos e fatores contrários – incluindo os seus índices muito ruins na pesquisa Avaliação da Gestão publicada por A GAZETA em março –, o prefeito vestiu o colete à prova de balas e bancou a própria candidatura à reeleição. Em parte pela própria persistência, em parte por inércia de alguns adversários importantes, o fato é que agora, por incrível que pareça, o prefeito outrora desacreditado está prestes a alinhar seu carro na linha de largada em condições de pelo menos disputar. Como gostam de dizer, está no jogo.

Na referida pesquisa de março, o quadro era muito diferente em relação ao que se desenha hoje e muito mais desfavorável a Rodney: três potenciais adversários muito fortes (Neucimar Fraga, Max Filho e Hércules Silveira) então saltavam na frente, enquanto o prefeito comia poeira. Àquela altura, ele era tido por políticos vila-velhenses como carta fora do baralho, um prefeito agonizante e condenado por seus erros de gestão.

Agora, porém, com o interminável jogo de empurra mantido por Max e Hércules e com o provável aborto da candidatura de ambos, o cenário caminha para uma possível repetição da eleição polarizada de 2012 entre Rodney e Neucimar, o que pode lhe facilitar a vida.

Além de ter a máquina na mão, o demista tem conseguido algo que parecia difícil há meses e que pode vir a decidir uma eleição eventualmente apertada: agregar apoiadores. Seu arco inclui de Paulo Hartung (veladamente) a Amaro Neto, com a possibilidade de ainda aglutinar dissidentes do blocão que já se desmanchou no ar com a demora de Hércules e, talvez, até o PMDB do próprio deputado estadual. Não é pouco.

Primeiro, o Palácio Anchieta. Como Hartung já disse de público e sem rodeios, ele está tratando de empurrar Rodney morro acima, “com as duas mãos nas costas”, desde que voltou à cadeira de governador – afinal, o êxito de Rodney, ou pelo menos um fim decente de mandato, é questão de honra para ele. A grande marcha de Hartung com o seu pupilo em Vila Velha continua (com evento esta semana, inclusive). O próprio governador tem dito que não vão encontrar suas impressões digitais em nenhuma candidatura, mas em Vila Velha é mais que isso: é a marca das duas mãos inteiras nos ombros do apadrinhado.

Ao lado disso, em possível costura palaciana, Rodney recebeu, no último sábado, a confirmação do apoio do SDD e da presença de Amaro em seu palanque – ativo que pode compensar um pouco sua notória ausência de carisma e lhe abrir portas na periferia da cidade, onde Neucimar tem bom trânsito e aceitação.

No caso do PMDB, o partido de Lelo Coimbra também flerta com o PSD de Neucimar numa conexão Vila Velha–Vitória. Mas Rodney e seus articuladores continuam trabalhando para também conseguir atrair a sigla de Hartung para sua coligação – e nisso, mais uma vez, a ação do Palácio pode ser determinante.

Em paralelo, Rodney busca lucrar com a erosão do bloco de partidos de portes diversos que antes apoiariam Hércules, mas que já desistiram de esperar e de apostar na candidatura do peemedebista. O prefeito já se reuniu com algumas dessas siglas e está atento, com a rede a postos, para capturar fragmentos desse espólio. Entre eles, talvez se possa somar o reforço de peso do PDT (veja notas).

Por ora não há elementos para avaliar o quanto Rodney pode ser verdadeiramente competitivo, mas ele ao menos chega vivo ao início da competição. Se sobreviverá à campanha, é outra história. Mesmo com a ajuda do Palácio, o prefeito tem resultados magros a exibir ao eleitorado. Aposta em seu caixa supostamente equilibrado (pôs em prática a cartilha do “ajuste fiscal” assimilada do mentor). Esta, porém, é vantagem que não lhe rende frutos imediatos, mas talvez a serem colhidos só pelo seu sucessor.

Para completar, o colete do delegado aposentado terá de ser reforçado para suportar a saraivada de críticas que ele já pode esperar de Neucimar e companhia. Será difícil, ainda, explicar a sua insólita união com Amaro a setores mais críticos da sociedade canela-verde. Chegar, enfim, é uma coisa; levar é outra. A conferir.

Pesquisa

Conforme a pesquisa Futura publicada na última quarta, Lelo Coimbra tem mais ou menos o mesmo tamanho em todas as classes sociais, ao contrário de Amaro e Luciano. É no que aposta para crescer.

PDT dividido

Se depender da executiva do PDT em Vila Velha, presidida por Euclério Sampaio, e de parte da executiva estadual (como o vice-presidente, Josias da Vitória), o partido hoje fica com Rafael Favatto (PEN) e não há força no mundo que os faça se aliar a Rodney Miranda.

PDT dividido – 2

Mas isso não depende só deles. A palavra de quem mais importa, a de Sérgio Vidigal, ainda está em aberto. O presidente estadual do PDT, que se confunde com a sigla no Estado, ainda pode conduzi-la aos braços de Neucimar ou de Rodney, dependendo do que mais convier à sua própria candidatura a prefeito da Serra.

O que diz Euclério

“A palavra ‘Rodney’ não existe no meu dicionário. É um político criado em laboratório e está acostumado a comprar o que quer. Só se tiver algum tipo de intervenção, mas nesse caso vocês vão ver um deputado ensandecido em plenário.”

O que diz Da Vitória

“Não estou com Rodney lá não. Tenho compromisso intransigente e integral com o deputado Euclério Sampaio. Rodney tem que lembrar que existe um diretório municipal eleito. Acredito que Vidigal também estará com a executiva municipal. Ele é muito fiel ao partido.”

O que diz Favatto

“Vidigal é um cara consciente e Euclério vai ser respeitado nesta hora.”

O que diz o DEM

“Está bem trabalhado. Conversamos com Vidigal na semana passada. Por enquanto só com Vidigal, mas vamos procurar Euclério. Quem vai decidir isso é a executiva nacional do PDT.” (Toninho Magalhães, secretário-geral do DEM no Estado)

O que diz Vidigal

Nada. Procurado pela coluna nos últimos dois dias, não comentou a situação do PDT em Vila Velha. Silêncio ruidoso.

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