Gabriel Tebaldi

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Protagonismo popular

Confira a coluna Outro Olhar deste sábado, 27 de agosto


Foi incrível: em 16 dias, o Brasil viveu o orgulho, patriotismo e otimismo que os últimos seis anos ceifaram de nossa gente. A Olimpíada parecia pronta para anunciar o caos e escancarar nossa ineficiência, contudo, o protagonismo de nosso povo foi a grata surpresa dos jogos!

É fato: ninguém faz festa como o brasileiro, e na terra da miscigenação o mundo se sente em casa. Não há aqui um elogio romântico; nos esforçamos de modo único para agradar e celebrar os visitantes.

Nos estádios, a torcida gritou, aplaudiu, vaiou e cantou mesmo quando se pedia silêncio. Modalidades de pouca tradição lotaram arenas e o boxeador equatoriano Carlos Mina foi saudado por uma multidão cantando “Pelados em Santos”, dos Mamonas Assassinas.

No vôlei de praia, a criatividade ficou por conta de um DJ, que tocou “É o Tchan no Egito” para saudar as atletas muçulmanas da delegação egípcia em Copacabana.

No boxe, diante da ausência de brasileiros no ringue, o público decidiu torcer para o árbitro Jones Rosário. Natural do Pará, Rosário tornou-se o primeiro juiz da história do boxe a ser ovacionado pelo público em todos os rounds de uma luta.

O povo também não perdoou atletas que zombaram do país, como a goleira Hope Solo, dos Estados Unidos. Após ironizar o zika vírus e se blindar para a viagem, a Hope foi saudada pelo povo ao som de “Ô Zika” cada vez que pegava na bola.

Por fim, o brasileiro pôde, por duas semanas, emocionar-se com os exemplos de superação, testemunhar recordes mundiais e assistir de perto à escrita da história do esporte. O envolvimento popular se sobrepôs aos desajustes estruturais e deixou em segundo plano as falhas dos poderes públicos e privados.

Passado os jogos, a vida volta ao normal, com suas polêmicas, crises e seus desafios. Porém, assim como a chuva que apagou a histórica pira brasileira, a Olimpíada lavou a alma de nossa gente e nos permitiu, ao menos por instantes, voltar a bater no peito com orgulho de nossa nação.

Em tempos tão difíceis, esse, sem dúvida, é o maior legado dos jogos.

Gabriel Tebaldi é graduado em História pela Ufes

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