Gabriel Tebaldi

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Necessário e injustificável

Confira a coluna Outro Olhar deste sábado, 24 de setembro


Parece absurdo, mas num país onde apenas 27% do povo é plenamente alfabetizado, 95% dos alunos saem do Ensino Médio sem conhecimentos básicos de matemática e somente 12,71% da população possui ensino superior, ainda há quem acredite que é possível construir “um novo ensino” com a imposição de medidas unilaterais que dão analgésicos para doenças crônicas e terminais.

Impulsivo, o governo Temer propôs radicais transformações no Ensino Médio sem deixar claro como fazer para cumprir algumas das metas propostas. A carga horária anual, por exemplo, saltaria de 800 para 1.400 horas, implantando o horário integral. Contudo, o MEC não soube dizer quando isso aconteceria ou como implementar tal medida na estrutura sucateada do serviço público.

Um dos pontos positivos da reforma também segue nebuloso: o direcionamento do estudante em sua área de afinidade. É evidente que o ensino médio é pouco atraente ao adolescente e desconexo da realidade. Porém, o governo aparenta não saber ao certo como colocar em prática tal mudança.

Embora bem articulado politicamente, o governo Temer tem sido um péssimo comunicador com seu público. De início, o MEC propôs arbitrariamente a exclusão das disciplinas de Artes, Educação Física, Filosofia e Sociologia. Diante da polêmica, o governo mais uma vez voltou atrás, alegando ter havido “apenas uma falha na divulgação”.

Mais absurda é a ideia de eliminar a exigência de uma licenciatura para se atuar no médio. Para o governo, as escolas podem contratar “profissionais de notório saber” para lecionar disciplinas “afins a sua formação”. A desvalorização das licenciaturas e da pedagogia evidencia o desprezo ao educador.

Ora, não se reforma a educação na canetada, de cima para baixo. A sala de aula é apenas o estopim de um complexo sistema mal-arranjado e relegado a último plano. Num país onde ser professor é sinônimo de desperdício de talento, o governo Temer deixa evidente a incapacidade de gerir a educação em parceria com quem de fato a vive no dia a dia. Nesse violento retrocesso, medidas necessárias se perdem em meio ao injustificável.

Gabriel Tebaldi é graduado em História pela Ufes

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