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O saldo do debate final em Vitória

Confira a coluna Praça Oito deste sábado, 1º de outubro


Depois de não se cruzarem no debate CBN/A GAZETA, Amaro Neto e Luciano Rezende tiveram cinco “encontrões” no debate final da TV Gazeta, em ensaio de como pode ser eventual 2º turno entre os dois. Mostrando-se firme, seguro e desenvolto no vídeo – postura reforçada pela boa oratória e pelo traquejo de apresentador de TV em seu habitat –, Amaro ainda fica devendo quando provocado a listar propostas concretas e a explicá-las objetivamente. Mas, em matéria de performance, saiu-se melhor que Luciano nos cinco confrontos diretos com o prefeito, que por seu turno saiu-se melhor que Lelo nos embates diretos com este.

Nas três perguntas feitas a Luciano, Amaro tocou em pontos sensíveis da atual administração: entraves aos comerciantes, dívidas com fornecedores, ideias não executadas a contento e que afetam a vida dos moradores de baixa renda (púbico onde Amaro hoje derrotaria Luciano com folga), tais como o Integra Vitória. Com isso, apropriando-se em certa medida do mote da campanha de Lelo contra Luciano, Amaro pintou na atual gestão as marcas do isolamento, do improviso, do abandono e da falta de planejamento. O candidato do SDD ainda tratou de pintar Luciano como prefeito arrogante, que não admite erros e problemas da cidade. Luciano seria um “Super-Homem”; Vitória, uma “ilha da fantasia”, em contraste com o mundo real.

Amaro ainda escapou de algumas cascas de banana atiradas por Luciano. Questionado pelo prefeito por sua inércia na Assembleia – fato público e notório –, o deputado devolveu que Luciano, em seu biênio na Casa, também não teria sido legislador dos mais atuantes, em número de proposições – muito embora seja esse um critério sempre contestável.

Por sua vez, Luciano também estava seguro e também deixou alguns hematomas em Amaro, só que no estilo “bateu, levou”, sempre de forma reativa às investidas do outro. O prefeito deixou a percepção de ter poupado muito fogo para possível 2º turno contra Amaro. Mesmo assim, foi certeiro ao afirmar que o apresentador “chegou agora na cidade para disputar eleição de uma forma confusa e atabalhoada”. Também acertou ao pedir a Amaro para listar (frisando: “objetivamente”) suas medidas de combate à poluição e, mais à frente, para aumentar a receita. Amaro veio com algumas caneladas, mas de fato foi vago nas ideias próprias, citando experiências de outras cidades. Síntese do debate.

Quanto a Lelo, apresentou-se inseguro e vacilante. Até que não começou mal, mas foi se desidratando ao longo da contenda e seu saldo final certamente não foi positivo. A pergunta com que Lelo abriu o debate reflete a complicação que ele viveu na campanha e que pode lhe custar a ida ao 2º turno: espremido entre Amaro e Luciano, ficou sem saber em qual dos dois focar e acabou não sendo agudo nos ataques contra nenhum deles.

Na pergunta em questão, sobre saúde, Lelo escolheu Amaro para responder e surpreendeu num primeiro momento: a brandura e o coleguismo com que tratou o apresentador no debate da CBN deram lugar a críticas diretas: “falta de preparo administrativo”, “vontade de ganhar as eleições a qualquer custo”. Na resposta, Amaro desviou o foco para Luciano; na réplica Lelo embarcou, voltou-se para Luciano e não tirou mais a sua atenção do prefeito, contudo sem a mesma contundência de Amaro nas investidas.

À guisa de considerações finais, o que fica de mais importante: nos cinco encontros que tiveram no debate, Amaro mostrou um potencial que lhe será útil em eventual 2º turno com Luciano: o de avariar a lataria do prefeito. Este marcou pontos contra Lelo, mas também levou alguns, em cortes deixados por Amaro.

Esquiva Águia

Sobre apoios no 2º turno, PH mantém o discurso de que a fila de pedidos é enorme, de que tem se esquivado como pode, mas que é “suscetível a pressões”. “Quanto mais vivo e mais experiência acumulo, menos me envolvo em campanhas.”

Suscetibilidades

As pressões “fizeram efeito” nesta reta final. Que o digam Rodney (vitória improvável), Erick Musso (eleição incerta) e Vidigal (situação apertadíssima).

Apoio com dedos

É fato que Hartung gravou vídeo para Rodney, mas não foi “aqueeeela” fala de apoio: disse que valoriza e apoia “o trabalho do prefeito” e que deseja que ele “siga em frente”. Ou seja, não mergulhou de cabeça nessas águas. No máximo molhou os dedos dos pés. E lavou as mãos.

Falando em água

A coluna perguntou a PH se, no 2º turno, ele pode declarar apoio a Amaro, o candidato que bebe litros do líquido da vida. Ele não disse nem que sim nem que não. Nem admitiu cogitar apoiá-lo, nem afirmou “dessa água não beberei”. A conferir.

Demorou, mas foi

Hartung aposta que, por causa do estado de desânimo geral dos eleitores, muitos deixarão para definir o voto em cima da hora. Mesmo assim, a esta altura, a gravação de uma fala que só pode circular nos últimos dias de campanha pode ter influência limitada pelo tempo. Mas é claro: ele marca posição.

“Fiz minha parte”

Deixando para a última hora a tomada de posição explícita, Hartung pode ter se resguardado: se esses parceiros perderem, pelo menos não poderão debitar a derrota da sua conta, alegando que perderam porque o maior aliado omitiu-se e recusou-se a lhes estender a mão.

Cena política

No debate da TV Gazeta, Lelo foi ironizado por Luciano por ficar lendo todas as respostas em folhas com anotações. Uma raposa política – calma, gente: não é “a” Raposa – foi implacável: “Lelo quis homenagear seu líder, Michel Temer, que quer abandonar a mesóclise. Perguntaram ao deputado o que ele tinha a dizer sobre o tema. Lelo respondeu: ‘Lê-lo-ei’”.

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