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Mad Max vs. Neucimarvel (Parte 2)

Confira a coluna Praça Oito deste domingo, 23 de outubro


Vinte minutos antes do debate da TV Gazeta neste sábado, Max Filho e Neucimar Fraga foram conduzidos para o estúdio por percursos distintos, para se evitar um esbarrão precoce que poderia ser tenso. Acabaram se cruzando por acaso no meio do caminho e, sem hesitar, se saudaram com toda a civilidade, ditando ali o tom que dariam ao debate propriamente dito: um confronto que acabou sendo muito mais civilizado do que se esperava, com base nas declarações prévias de ambos e, principalmente, no show de acusações e direitos de resposta que coprotagonizaram naquele debate CBN/A GAZETA realizado em 28 de setembro, de longe o mais bélico desta eleição no Estado.

Não que os dois não tenham trocado provocações e alfinetadas. Só que o debate provocativo que se esperava deu lugar a outro, fundamentalmente comparativo. Os dois vieram dispostos a cotejar as respectivas administrações e estilos de governo, já testados e largamente conhecidos pelos cidadãos vila-velhenses. A estratégia chegou a ser explicada, de modo quase didático, por cada um deles.

“Você tem a chance de comparar modelos: de um lado, um prefeito lento. Do outro, um prefeito empreendedor, articulado, que aumentou a carteira de investimentos e a receita do município em quatro anos”, afirmou Neucimar. “Temos uma diferença fundamental: ele é o candidato que investe no concreto, enquanto eu sou o candidato que investe nas pessoas, no desenvolvimento humano”, rebateu Max, adiante. Só faltou eles desenharem para os telespectadores.

De um lado, Neucimar buscou se projetar como um prefeito desenvolvimentista, amigo dos negócios e dos empresários, aquele que (números dele) pavimentou e drenou mais de 700 ruas, ajudou a gerar mais de 50 mil empregos e garantiu a construção de um Ifes. Max, em contraposição, foi exibido pelo adversário como o prefeito isolacionista, que conseguiu arrumar briga com todos, de políticos a empresários, e que perseguia e afugentava empreendedores da cidade.

“Ele queria derrubar um shopping; eu trouxe dois para a cidade”, condensou Neucimar. Para realçar a diferença, o ex-líder comunitário de Soteco ainda chamou Max de “tartaruguinha, filho do tartarugão (Max Mauro)”, propiciando ao oponente o único direito de resposta.

Por sua vez, Max buscou se reapresentar como um prefeito mais humanista, amigo da criança e dos professores. Disse que retomará o foco na área social e, centrado na educação, prometeu zerar o déficit de vagas no ensino infantil e revogar a “lei herodiana” de Neucimar que impediria a matrícula de crianças de até três anos nas creches.

Max não exatamente rebateu a imagem de lentidão, mas argumentou que “o mais importante não é a velocidade e sim estar na direção certa” – sugerindo, no subtexto, que o estilo “empreendedor” de Neucimar se traduziria em precipitação, descaso e negligência com procedimentos corretos da boa gestão pública. Na mesma linha, afirmou que Neucimar não cumpriu as promessas feitas em 2008 e pôs em xeque a sua capacidade de cumprir o que promete agora. “Quem é seu avalista? (...) Eu não sou de prometer, mas de realizar”, contrastou o tucano.

Embora não tenha sido o principal, o debate também teve comparação dos respectivos padrões éticos. Diferentemente daquele no 1º turno, no qual parecem ter vindo dispostos a queimar todos os cartuchos de uma vez (e à queima-roupa!), desta vez ambos foram bem mais cautelosos e comedidos nos ataques de parte a parte. Bem que tentaram atirar cascas de banana para o outro se complicar. Mas, esquivos e safos como são, ambos souberam escapar das armadilhas.

Assim, parece que, ao vivo e a cores na TV, os dois calcularam melhor o risco de ir com tudo para cima do outro e se concederam uma tácita e relativa trégua. O debate não chegou a ser morno, mas ficou abaixo da temperatura prevista na véspera – previsão essa que os dois mesmos geraram, com a postura mantida ao longo da campanha. É grande a chance de que tenham poupado munição para o debate final CBN/A GAZETA, na próxima quinta. Será o encerramento da trilogia.

Ao pé do ouvido

Para acompanhá-lo dentro do estúdio da TV Gazeta, Max Filho escolheu o professor Roberto Beling, um de seus conselheiros políticos. Neucimar optou pelo assessor de imprensa Sandro Fuzatto.

Pra que desespero?

No início do debate, Max até ensaiou abordagem mais áspera, perguntando de saída ao concorrente se ele continuaria com o desespero e com a falta de respeito. Neucimar devolveu que é Max quem tem feito campanha desesperada, de calúnia e difamação. E ficou nisso.

Deu escritura

O mais perto que Max chegou de alvejar Neucimar foi dizer, sem o citar, como faz desde o 1º turno, que alguns ex-prefeitos “viram prósperos empresários do ramo imobiliário”. Firmando a escritura, Neucimar pediu direito de resposta, negado de plano pelo mediador, André Junqueira.

Engoliu o sapo

Na sua vez de provocar, Neucimar disse que Max é o “prefeito da contradição”. Trouxe à tona a denúncia de favorecimento de Max a um tio em contratações emergenciais da prefeitura. Sem dar trela, o tucano mordeu os lábios, engoliu o sapo, e o caso morreu ali.

Jogando a toalha

Neucimar parece ter desistido de captar eleitores de Max (parte deles emigrados de Rodney Miranda) nos bairros nobres de Vila Velha, onde é forte a rejeição ao candidato do PSD. Ele admite que, nos últimos dias de campanha, concentrará as atividades de rua em bairros de mais baixa renda média, a fim de se consolidar onde já é mais bem votado.

Começando neste sábado

Logo após o debate da TV Gazeta neste sábado, Neucimar realizou carreata pela Grande Terra Vermelha. Hoje, nova carreata na mesma região da cidade e outra pela Grande Cobilândia. Para atrair eleitores dos nichos A/B, ele aposta nos efeitos dos debates, na propaganda eleitoral gratuita e nas redes sociais.

“Direção certa”

Indagado sobre a estratégia de rua, Max Filho afirmou que seu foco seguirá o mesmo: difuso por toda a cidade.

Neucimar promete

Determinado a rebater acusações de Max Filho e a afastar de cima de si mesmo suspeitas de improbidade, Neucimar afirma que pretende criar a Secretaria Municipal de Controle e Combate à Corrupção. Convidou o promotor de Justiça aposentado Gilberto Toscano para chefiar a pasta a ser criada se ele for eleito.

Qualificações

“Toscano atuou firmemente na fiscalização das leis durante 34 anos. Durante muitos anos atuou na Vara de Improbidade de Vila Velha e fez parte do Grupo de Repressão ao Crime Organizado (GRCO) do MPES. É um homem que corta reto, que tem pulso firme e vai intimidar qualquer ato de corrupção e de mau uso dos recursos públicos dentro da prefeitura”, explica o candidato do PSD.

Por que o incômodo?

Neucimar ingressou com ação para que Max tirasse do Facebook o comentário de que o governo do Estado o apoia.

Derrotas em série

Mas foi o próprio Neucimar quem sofreu as piores derrotas na Justiça Eleitoral nos últimos dias. Na última quinta-feira, o juiz José Augusto Farias de Souza acolheu uma representação de Max contra o adversário por veiculação de “propaganda eleitoral irregular, na qual se utilizam de afirmações sabidamente inverídicas com o objetivo de promover ofensa à sua honra”. Isso inclui a distribuição de 30 mil panfletos com acusações a Max.

Multa e recolhimento

O juiz entendeu que as informações divulgadas por Neucimar sobre Max consistem em “insinuações maliciosas dissociadas da realidade, que ofendem e maculam a honra e a moral do candidato e podem induzir o eleitor a erro”. O magistrado foi até além do que pedira Max, impondo multa de R$ 40 mil a Neucimar, pela “gravidade da conduta”, e obrigando a coligação ao recolhimento total dos panfletos em circulação. Em caso de descumprimento da decisão, serão cobrados mais R$ 10 mil por dia.

Reincidência

O detalhe é que a Justiça Eleitoral já havia concedido a Max 40 minutos de direito de resposta, dentro do horário eleitoral de Neucimar, por motivo similar.

Ou seja...

Juntos, os adversários em Vila Velha já ganharam a eleição de campanha municipal mais tensa do Espírito Santo.

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