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De quem desconfiar menos?

Confira a coluna Praça Oito desta segunda-feira em A GAZETA


Muitas declarações dadas pelo prefeito Juninho e pelo deputado estadual Marcelo Santos no transcurso da campanha a prefeito de Cariacica merecem atenção redobrada. Dizer que os dois têm mentido acerca de determinados pontos talvez seja um exagero. Talvez a melhor palavra seja exatamente esta: o exagero que ambos têm demonstrado, ou a tendência a flexibilizar os fatos conforme convém a cada um deles, principalmente quando se trata de realçar os próprios méritos.

Comecemos por Marcelo Santos, subitamente convencido de que o governador Paulo Hartung e ele sempre foram “best friends”.

No debate CBN/A GAZETA promovido na semana passada, Juninho – como já fizera no debate do 1º turno – cobrou de Marcelo o baixo percentual de emendas parlamentares destinadas pelo deputado a Cariacica – desta vez, porém, o prefeito não as enumerou. Marcelo deixou essa questão sem uma resposta convincente.

Mais uma vez, o que fez o deputado foi valer-se de um truque que não cola: o de depositar na própria conta os créditos por uma série de realizações do governo estadual no município, como a Rodovia José Sete, a Beira-Mar de Porto de Santana, o Kleber Andrade, o PA do Trevo, a Leste-Oeste e, mais recentemente, os R$ 50 milhões garantidos no orçamento do Estado para o Hospital Geral. Tudo, segundo ele, “com o nosso apoio na Assembleia e a relação estreita que tenho com o governo do Estado”.

Quem ouve o deputado incautamente pode até achar que, sem sua atuação na Assembleia, nada disso teria sido possível. Para se associar à imagem de Paulo Hartung, Marcelo chegou ao cúmulo de se arvorar em corresponsável pelo “processo de reconstrução do Estado”. Frisando várias vezes a “parceria” e a “sintonia perfeita” que alega ter com o governador, fez um esforço exagerado no sentido de convencer que os dois são os maiores aliados políticos – o que, evidentemente, também não cola. Até o fim do governo Casagrande, Marcelo foi leal na Assembleia ao ex-governador Renato Casagrande, desafeto de PH, cujo PSB, inclusive, apoia-o no 2º turno por essa razão, como afirmou à coluna o deputado federal Paulo Foletto, presidente estadual da sigla.

Por sua vez, Juninho não consegue convencer ao ser confrontado com os problemas vividos pelos moradores de Cariacica na prestação de serviços municipais, sobretudo na Saúde, e com os delizes cometidos por sua administração, sobretudo nos primeiros dois anos, marcados pelo intenso troca-troca de secretários que expôs a falta de planejamento.

Para se esquivar, em muitos pontos do referido debate, Juninho destacou as dificuldades financeiras que enfrentou. Chegou a dizer que “é o pior período para ser prefeito no Brasil”. Ainda assim, sustentou que conseguiu fazer muito com poucos recursos. E que, apesar de ter a menor arrecadação per capita, Cariacica é a 6ª cidade capixaba que mais investiu em 2015 e a única da Grande Vitória que deu reajuste para o magistério. Vá lá.

Em alguns momentos, porém, o prefeito abusou do autoelogio. “Aquele jogador de futebol que começou na prefeitura hoje transformou a realidade de Cariacica numa gestão eficiente e equilibrada, com planejamento e valorização do servidor.” Uma revolução, não?

Juninho ainda buscou comparar seu governo com o de antecessores e imputar a Marcelo “responsabilidade solidária” por erros do passado, já que o deputado fez parte de administrações anteriores à de Helder Salomão (2005-2012). Acontece que o próprio Juninho foi vice-prefeito de Helder por quatro anos. Por essa lógica, não seria também ele corresponsável pelos problemas que assumiu?

Num duelo de “verdades tão elásticas”, em qual deles o eleitor poderá confiar mais? Ou melhor, desconfiar menos? Saberemos no próximo domingo.

Prazo dobrado

No debate final CBN/A GAZETA com os candidatos a prefeito da Serra, na última quinta-feira, Audifax Barcelos afirmou: “Nosso planejamento é para oito anos”. Alguém, por favor, avise ao redista que um prefeito é eleito para um mandato de quatro anos e que é nesses quatro anos que deve cumprir tudo que se propôs fazer quando eleito. A propósito, peçam a Audifax para passar a mensagem ao aliado Luciano Rezende. Grato.

Vira o disco

Na propaganda eleitoral de Luciano, o lado brega está batendo recordes. A chatíssima música “Vitória, cidade sol” é executada sem parar. Num verso desse “hino de Vitória”, a Capital é chamada de “cidade sol, com o céu sempre azul”. Mais ou menos a imagem que o prefeito procura atribuir à cidade, sob seu comando.

O sol vai brilhar

Além disso, um dos bordões de Luciano é que “passada a tempestade, o sol vai voltar a brilhar na cidade de Vitória”. O prefeito disse isso no fim do debate da TV Gazeta no 1º turno e em pelo menos dois eventos testemunhados pela coluna: seu jantar de adesão, no 1º turno, e o anúncio de apoio de Zezito Maio, na casa do vereador, na Praia do Suá, já no 2º.

Céu sempre azul?

Há uma ironia, entretanto: contrastando com o hino e com o bordão de Luciano, a música de fundo das inserções da propaganda sobre a malha cicloviária é “Rain drops keep falling on my head”, tema do filme “Butch Cassidy” (1969). Em livre tradução, “gotas de chuva seguem caindo na minha cabeça”.

Bicicleta

A escolha da música-tema talvez se justifique pela associação subliminar de ideias. Na sequência mais marcante do longa, o protagonista, vivido por Paul Newman, aparece a se exibir para uma moça. Como? Precisamente fazendo acrobacias sobre uma bicicleta. Por isso, a música cobre imagens de ciclovias.

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