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A paz não reinará na Serra

Confira a coluna Praça Oito desta quinta-feira, 27 de outubro


Na política, normalmente não há mágoa que não se cure com o tempo ou ódio entre dois caciques que não seja engolido mais à frente, seja por conveniência política e eleitoral momentânea, seja realmente por desejo de unir forças com o adversário em prol do interesse público. A Serra, um município peculiar por ter feições econômicas modernas mas política à moda antiga, passará a ser um caso atípico também nisso: o prefeito Audifax Barcelos (Rede) e o deputado federal Sérgio Vidigal (PDT) não selarão a paz nem caminharão juntos para fazer prevalecer o interesse maior do cidadão serrano nos próximos quatro anos.

De amigos e aliados políticos até 2008, Audifax e Vidigal se converteram em inimigos figadais e passaram a nutrir um pelo outro um ressentimento quase irracional que transbordou no pleito de 2012, primeiro embate entre eles nas urnas, e agora novamente, na busca de Vidigal por revanche eleitoral. Seja qual for o resultado no domingo, a única certeza é que aquele que sair derrotado não vai colaborar com a administração do vencedor. E talvez esse dia nunca chegue, a julgar pela declaração dada por Vidigal a jornalistas de A GAZETA ao ser sabatinado no quadro “Emparedados”, do Gazeta Online.

“Politicamente, eu acho difícil. (...) Para reconciliação política, nós não temos clima”, afirmou o ex-padrinho de Audifax, indagado sobre a possibilidade de reconciliação com o ex-afilhado. Ou seja, nada de estender a bandeira branca.

Já o prefeito, sabatinado para o mesmo quadro, deu resposta oposta para a mesma questão: “Pode acontecer uma reaproximação? Com certeza. Entendo que ele já foi prefeito por 12 anos e que a vez dele vai chegar, mas não agora, para que eu dê continuidade ao meu trabalho. Do ponto de vista de uma futura aproximação, meu coração está aberto.”

Audifax parece interpretar alguma disposição a estender a mão a Vidigal. Mas, se bem analisada, sua escolha de palavras suscita dúvidas quanto à sinceridade da trégua. Dá a sensação de que o prefeito até não o descarta, mas não para já, e apenas se ganhar a eleição. Pode ser uma resposta calculada para reforçar a sua estratégia de “Audifax paz e amor”, como tem se apresentado no 2º turno. Além disso, na mesma entrevista, ele tornou a criticar Vidigal – assim como, no debate CBN/A GAZETA realizado há uma semana, quando falou em reatar a amizade e a união com Vidigal, mas só nas considerações finais, após já ter despejado toda a sua artilharia contra o outro.

De todo modo, mesmo que a disposição de Audifax à paz futura seja franca, Vidigal tratou de deixar claro que essa porta está fechada a chave. Da parte do deputado, no “coração puro” que ele se atribui, não há espaço para perdão pela “ingratidão” daquele para quem, no passado, ele chegou a abrir outra porta: a da sua própria casa. E, se quando um não quer dois não brigam, quando um não quer, dois não se reconciliam.

É uma pena. Até o governador Paulo Hartung já ensaiou uma missão de paz na Serra, mas não foi muito adiante. O ódio mútuo ali ainda é mais forte que a linha de costura de PH. São dois bons quadros, dois gestores experimentados. Se pudessem pôr o rancor e as diferenças políticas de lado, a Serra só teria a ganhar com isso.

O projeto dos TAGs

A coluna abordou ontem o projeto de lei complementar do Tribunal de Contas do Estado que acrescenta na Lei Orgânica do tribunal a competência de firmar Termos de Ajustamento de Gestão (TAGs) com outros entes. Se aprovado, o projeto pode representar um alívio para os gestores do Tribunal de Justiça do Estado (TJES). Hoje ameaçado pela Lei de Responsabilidade Fiscal por excesso de gastos com pessoal, o TJES, se firmar um TAG com a Corte de Contas, pode ganhar prazo maior para se enquadrar ao limite legal.

Pois bem...

A coluna perguntou a um magistrado que acompanha de perto a questão se não seria desnecessário um TAG dilatando o prazo do TJES para cumprimento do limite de gastos com pessoal imposto pela LRF, uma vez que a própria LRF já determina esses prazos. “Numa interpretação literal da lei, seria isso. Só que o Direito vai muito além. Essa LRF não foi editada numa crise do tamanho como esta que está aí”, relativiza o togado.

Argumentos

“É preciso levar em conta que parte dos problemas do TJES decorre de uma queda profunda da receita estadual e não propriamente de um problema de má gestão. Não necessariamente o gestor foi imprudente ou lhe faltou cautela. Nessas circunstâncias, pode valer o princípio do rebus sic stantibus (imprevisibilidade)”, conclui o representante da magistratura.

Fica a pergunta

Não se pode ignorar o cenário anormal gerado pela recessão econômica. Porém, se a queda de receita foi para todos, por que só o TJES se complicou dessa forma?

Juninho sem salário

O prefeito de Cariacica abriu mão do salário de outubro, mês em que tirou “licença-campanha”.

Cena política

Neucimar Fraga costuma bater as suas peladas de várzea, atuando como lateral-direito. No último sábado, minutos antes do início da transmissão do debate da TV Gazeta, ele já estava posicionado no estúdio ao lado do adversário, Max Filho, quando resolveu brincar com o diretor de Jornalismo da Rede Gazeta, Abdo Chequer, para descontrair o clima: “Depois que acabar a eleição, eu vou lá bater uma pelada com você...” Atrás das câmeras, o jornalista Leonel Ximenes provocou: “E vai jogar no time dos prefeitos?” “Se eu for prefeito, eu já entro jogando”, respondeu o ágil Neucimar. Atento a tudo, Max não deixou passar: “Ih, então vai ficar na reserva...”

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