Gabriel Tebaldi

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Cheios de si

Confira a coluna Outro Olhar deste sábado, 17 de dezembro


Caminhar pelos movimentos sociais e políticos é um convite ao inesperado. Em tempos líquidos, jovens buscam a autoafirmação em ideologias e causas que preencham o vazio moral e intelectual de nossa época.

Para muitos, a mistura de paixão e política deixou de ser um risco para virar regra geral. Não interessa o embasamento teórico e racional das ideias; hoje, o grito e a força de uma massa qualquer bastam para legitimar certos coletivos.

Setores da imprensa têm parcela de culpa em tal aval ao chamar criminosos e terroristas de “manifestantes”. O cansativo discurso de “protesto pacífico que terminou em violência” beira à má-fé. A intenção de quem porta armas, pedras e explosivos em atos públicos é somente a violência e a depredação. Quando a destruição é o objetivo, a prisão deve ser o resultado.

Nos grupos “estudantis”, lamentavelmente, falta estudo. A tentativa de um debate sobre a PEC, direitos trabalhistas e reformas econômicas é impossível. O mantra sobre “direitos adquiridos” inviabiliza a percepção sobre os prejuízos de algumas “garantias”, como o FGTS e alguns “seguros".

Pouco importa ler os documentos oficiais do governo; bom mesmo é lutar contra e ver ideologia em tudo. Na cartilha dos extremistas é assim: o governo é o inimigo, o capitalismo é o vilão, a igualdade resolve, a direita é ditatorial, a polícia não presta, a economia é detalhe, os empresários exploram, a burguesia fede e a revolução salva. Potencializados pelas redes sociais, os “engajados” são, hoje, a nova versão do clássico “muito barulho por nada”.

A busca dos jovens pela inserção em algum coletivo leva à formação de tribos sociais que constroem para si verdades inquestionáveis. Além de canalizar a energia dos participantes, tais grupos dão sentido àqueles que buscam algo em que acreditar. O resultado, porém, decepciona: estamos formando jovens vazios de conteúdo e cheios de si.

Em verdade, o nada liga-se a lugar nenhum e tais movimentos se esquecem que o radicalismo faz do crítico a imagem e semelhança do criticado.

Gabriel Tebaldi é graduado em História pela Ufes

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