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Rodney: "Saio de cabeça erguida"

Confira a coluna Praça Oito desta quinta-feira, 22 de dezembro


O prefeito Rodney Miranda (DEM) recebeu a coluna na última terça-feira para um balanço de seus quatro anos de governo, no recinto que, daqui a dez dias, não será mais ocupado por ele: seu gabinete na Prefeitura de Vila Velha. Um Rodney sereno disse não se arrepender de nada, afirmou que fez tudo o que podia, mas admitiu um erro: acha que pecou por não ter feito política. “Fui muito técnico. Fiz pouca política. Isso pode ter pesado em meu resultado eleitoral.”

A coluna pediu a Rodney para destacar qual foi o seu maior erro e o seu maior acerto naquela cadeira. O prefeito acabou juntando os dois extremos na mesma resposta. “Acho que o maior acerto, e a gente pode comparar o maior erro junto, foi eu ser técnico demais. A minha postura de querer fazer e ir acelerando, às vezes sem valorizar tanto alguns atos, foi talvez o grande mérito, porque se eu não fizesse isso eu não teria alcançado tantos bons resultados, mas ao mesmo tempo essa informação chegava mais devagar à cidade”, disse Rodney.

Questionamos, então, se isso não teria porventura sido um erro estratégico. “Não sei. Talvez, para resultados eleitorais, sim. Senão eu teria tido um resultado melhor na eleição”, concede o prefeito. “De qualquer maneira, isso não está me incomodando. Fiquei chateado, mas, logo que passou a ressaca da derrota, vi que a gente fez o melhor possível dentro das circunstâncias.”

Ao lado desse fator, Rodney atribui a sua derrota ainda em 1º turno (algo raro para quem já está no cargo) à alta abstenção do eleitorado e à pulverização dos votos em função do alto número de candidatos competitivos. Cita, ainda, o encurtamento do período de campanha com a nova legislação eleitoral. “Deixei para fazer política e mostrar o que eu tinha feito na campanha eleitoral. E não houve tempo suficiente.”

Por fim, ele menciona a entrada de Max Filho de última hora no processo, quando ele e Neucimar se preparavam para enfrentar um ao outro, e o fato de os dois adversários terem disputado outra eleição dois anos antes, enquanto ele carregava o ônus de governar em período dificílimo. “Max e eu dividimos o mesmo eleitorado. Além disso, o prefeito eleito e o ex-prefeito já tinham participado da campanha dois anos antes, enquanto eu estava aqui com o desgaste de dizer não no dia a dia, por conta da necessidade de manter a cidade em funcionamento e com as contas equilibradas.”

Apesar da derrota, Rodney rechaça qualquer arrependimento, nem mesmo a fatídica viagem a Nova York em 2013. “Nenhum arrependimento. Fiz o que foi possível. Já conversei sobre a questão da viagem. Era uma questão familiar que eu não podia deixar de atender. E acho que fiz o que foi certo. Fui, voltei, respondi, ouvi as críticas, mas acredito que a cidade entendeu, até porque ninguém nunca mais lembrou disso nem me cobra isso.”

Convidado a avaliar o seu próprio desempenho como prefeito, Rodney diz ter cumprido até um pouco mais do que se comprometera com a população na eleição de 2012. “Agi de maneira técnica e responsável. Nós não tivemos nenhuma denúncia, nenhum escândalo, nenhuma notícia de irregularidade. Então, estou saindo da mesma maneira que entrei: de cabeça erguida, mãos limpas e consciência tranquila de que fiz tudo o que foi possível dentro de todos os problemas.

Sai de cabeça erguida. Só não sabe ainda para onde. Mas o Palácio é logo ali.

Confira abaixo a entrevista do prefeito Rodney Miranda na íntegra:

Como o senhor avalia o seu próprio desempenho como prefeito de Vila Velha nestes últimos quatro anos?

Eu cumpri até um pouco mais do que eu tinha me comprometido com a população de Vila Velha na minha eleição em 2012. Agi de maneira técnica, de maneira responsável. Nós não tivemos nenhuma denúncia, nenhum escândalo, nenhuma notícia de irregularidade, de desvio, de ilegalidade. Então, estou saindo da mesma maneira que entrei: de cabeça erguida, mãos limpas e consciência tranquila de que fiz tudo o que foi possível dentro de todos os problemas, catástrofes ambientais – não só as enchentes, a pedra – como também dessa crise econômica e institucional violentíssima que o país está vivendo. Então, dentro daquilo que eu podia fazer para melhorar a cidade, para melhorar a condição de vida da população, nós fizemos. Se a gente for ver, a gente avançou até além da nossa expectativa.

Em que, por exemplo?

Saúde, por exemplo. Quando nós chegamos aqui no município, a saúde pública de Vila velha não tinha porta de entrada. Isso foi a primeira coisa que a minha secretária de Saúde identificou. Era horroroso! Não tínhamos farmácia, não tínhamos remédios, não tínhamos estrutura as unidades de saúde estavam todas sucateadas, não tínhamos equipamentos, os poucos profissionais que tínhamos estavam desmotivados. De lá para cá, nós reconstruímos praticamente toda a rede, reconstruímos 14 unidades, inauguramos mais três, montamos uma nova metodologia de trabalho. O PA da Glória, por exemplo, que era um caos, fizemos uma parceria com uma OS, e hoje estamos atendendo num padrão muito bom, sete, oito vezes mais pessoas diariamente, tanto que vocês não noticiam nada negativo ali há muito tempo, desde que fizemos essa parceria. Aumentamos em mais de 30% os atendimentos nas nossas unidades de saúde. Temos um destaque, que é o Centro de Especialidades, que tinha de 16 a 17 especialidades, e hoje estamos com 28. Atendia, em média, 400 mil pessoas por ano; ano passado, nós consolidamos com mais de 1 milhão. Hoje não temos mais fila de mamografia no nosso município. Tanto que nós ganhamos dois prêmios nacionais de gestão na saúde nesse período. Para quem não tinha porta de entrada, chegar aonde nós chegamos...

A educação hoje é uma das coisas que me alegram, porque nós regulamentamos, implantamos o Saed (Sistema de Atividades Educacionais), implantamos escolas em tempo integral. A Guarda Armada também foi um grande avanço para o município. Em todos os crimes, principalmente patrimoniais, nós tivemos redução consistente. Na área de drenagem, eu não esperava que a gente conseguisse construir três estações de bombeamento: Guaranhuns, Canal da Costa e Sítio Batalha. E tem mais uma quarta viabilizada, com recursos do governo do Estado, que nós conseguimos para o Canal Bigossi. Tanto que você está vendo, nas últimas chuvas, o município de Vila Velha é um dos que está tendo menos problemas. Podem dizer “ah, mas não tem chovido tanto...”. Choveu mais de 100 milímetros um dia desses, e não tivemos um problema de água invadindo casa ou água permanecendo mais do que devia nas ruas.

Qual foi o seu maior acerto e qual foi o seu maior erro?

Acho que o maior acerto, a gente pode comparar o maior erro juntos, foi eu ser técnico demais. A minha postura de querer fazer e ir acelerando, às vezes sem valorizar tanto alguns atos, foi talvez o grande mérito, porque se eu não fizesse isso eu não teria alcançado tantos bons resultados, mas ao mesmo tempo essa informação vai chegar mais devagar à cidade.

Como assim “sem valorizar tanto”? Sem dar a devida publicidade?

Eu não gosto de pirotecnia, eu fiz pouca publicidade, até porque tínhamos poucos recursos, e eu tive que optar. Optei pela melhoria da saúde, da segurança, da educação. Eu fiz pouca política, tá?

Isso foi um erro, prefeito?

Não sei, Talvez, pra resultados eleitorais, sim. Pra resultados eleitorais, sim. Senão, eu teria tido um resultado melhor na eleição. De qualquer maneira, isso não está me incomodando. Fiquei chateado, mas, logo que passou a ressaca da derrota, vi que a gente fez o melhor possível dentro das circunstâncias.

O senhor acha que foi esse o fator preponderante para a sua derrota?

Isso talvez um pouco. Essa também foi uma campanha diferente, menor, mais enxuta e com meios limitados de recursos e de divulgação. Talvez eu, como outros candidatos, tenha sofrido mais com isso. Não estou reclamando não. O formato é esse que foi apresentado para cada um. Só que eu deixei para fazer política e mostrar o que eu tinha feito na campanha eleitoral. E não houve tempo suficiente. Vamos pensar que, em todas as pesquisas, eu não saí de 10%, 11% das intenções de voto, em todas as pesquisas nestes quatro anos. Acabei a eleição com 20%. E teve um grupo forte de candidatos, que pulverizou muito os votos.

Essa pulverização pesou muito também?

Claro, claro. A pulverização e a abstenção.

E a entrada de Max Filho de última hora nesse pleito, uma vez que o senhor estava esperando uma disputa polarizada com Neucimar? Não só o senhor como também o próprio Neucimar estavam se preparando para enfrentar um ao outro...

Lógico, até porque Max e eu dividimos o mesmo eleitorado. O prefeito eleito e o ex-prefeito já tinham participado da campanha eleitoral dois anos antes, enquanto eu estava aqui com o desgaste do dia a dia, de dizer não no dia a dia, por conta da necessidade de manter a cidade em funcionamento e com as contas equilibradas.

Algum arrependimento?

Nenhum arrependimento. Eu fiz o que foi possível. Já conversei sobre a questão da viagem. Era uma questão familiar que eu não podia deixar de atender. E acho que fiz o que foi certo. Fui, voltei, respondi, ouvi as críticas e tal, mas acredito que a cidade entendeu, até porque ninguém nunca mais lembrou disso nem me cobra isso.

Que conselho o senhor daria a Max Filho?

Não vou falar para ele, mas vou dizer o que eu faria: manter a política de austeridade. Porque, pelo que eu estou vendo, os horizontes principalmente econômicos e também institucionais são sombrios. Então é preciso manter a política de austeridade, de pés no chão. E desejo com toda a sinceridade que ele faça mais do que eu fiz. Um amigo me fez uma analogia muito interessante, do sarrafo [barra que demarca a altura que o atleta deve superar no salto com vara]. Cada administrador tenta botar o sarrafo mais alto e pular. Eu estou deixando o sarrafo bastante alto. E espero que ele ultrapasse. Porque, se ele ultrapassar, ganha a cidade, ganhamos nós.

O senhor pretende colaborar com seu sucessor?

Já estamos colaborando. Primeiro, deixando as contas equilibradas. O município está saneado, a prefeitura enxuta, com tudo funcionando e, na maior parte das áreas, funcionando melhor do que nós pegamos. Nós reestruturamos toda a área de saúde, toda a área de educação, fizemos avanços importantíssimos na segurança, avanços importantíssimos também na infraestrutura de modo geral, com destaque para a questão do combate aos alagamentos. Então, vamos deixar um município bem melhor do que encontramos. A casa está arrumada. Depois da eleição do Max no segundo turno, já estive duas vezes com ele.

Em 2018, o senhor tem projeto eleitoral?

Não. Não sei nem o que vou fazer em 2017 ainda (risos). Mas vou continuar na política. Independente se eu for para o governo estadual ou não. Ainda sou presidente estadual do DEM e meu mandato vai até 2018. Vou continuar ajudando no que eu puder, interagindo com amigos, com apoiadores, como sempre fiz. Agora mais porque estou com um pouco mais de know how. E devo ter, caso não vá para o governo do Estado, um pouco mais de tempo para cuidar disso.

E se o senhor for para o governo, que secretaria pode ocupar?

Não sei. As pessoas têm falado de Sedurb (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano). Mas eu não falei absolutamente nada sobre isso com o governador, nem sobre nenhuma secretaria. Falam a área de Segurança, mas dificilmente eu aceitaria um desafio nessa área.

E a Sedurb, balançaria o senhor?

Não sei. Vamos ver o que o governador quer de mim, o que ele pretende na secretaria. Hoje a minha prioridade é me reorganizar, pessoalmente, familiarmente. E, a partir daí, ver o que nós podemos fazer. Estou com 52 anos, ainda posso contribuir um pouco, não só com o público mas com o privado também.

Escritório de consultoria

Ex-instrutor de gerenciamento de crise na Academia Nacional da Polícia Federal, Rodney estuda abrir um escritório de consultoria para empresas nessa área e no setor de compliance. Delegado aposentado da Polícia Federal, Rodney vai tirar a carteira da OAB. Está está discutindo a ideia do escritório com a mulher dele, Raquel.

Cena Política

Seguindo o padrão manifestado ao longo dos últimos dois anos, o governador PH reservou uma bateria de entregas e pautas positivas para Rodney nos últimos dias do mandato, incluindo o restauro da Igreja do Rosário e a inauguração de estações de bombeamento. Quanto ao Farol de Santa Luzia, a barra foi um pouco forçada: em março houve solenidade de início das obras de reforma e acessibilidade; no dia 19 de novembro houve a abertura para visitações; ontem à noite, “visita às obras inauguradas” (???).

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