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'Gerar medo é criar armadilha', diz psicóloga sobre ameaças na Ufes

"Gerar medo é criar armadilha", diz psicóloga sobre ameaças na Ufes

Após ameaças de ataque a universitários em Vitória, clima entre estudantes é de medo; preparo é melhor forma de combater fragilidade, segundo defende psicóloga

Publicado em 19 de junho de 2019 às 21:53

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(Reprodução)

Desde que vazaram prints da deep web que denunciavam um ataque na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) nesta quarta-feira (19), os comentários entre um corredor e outro só giram em torno do medo que os universitários e professores estão sentindo de uma tragédia realmente acontecer. E se essa era a intenção do autor dos comentários na web, parece que ele conseguiu fazer com que os alunos caíssem em sua armadilha digital, como explica a psicóloga Adriana Muller.

“Gerar medo é criar armadilha. Se as pessoas estão caindo no medo, caíram na armadilha. Não se pode desconsiderar afirmações como as que foram feitas na ameaça de ataque na Ufes, mas existem formas de lidar melhor com toda a situação”, defende, indicando que se preparar para crises como essas é a melhor saída sempre.

O que significa o pânico após as ameaças de ataque na Ufes vazarem?

Acho que essa situação evidencia uma necessidade que nós precisamos ter de desenvolver estratégias de lidar com possíveis problemas. A gente não tem a cultura, no Brasil, de treinamento de rota de fuga, de evacuação de local público em situação de incêndio, treinamento que dê conta de o que fazer em situações de ataque real… A gente não tem esse preparo.

É isso o que nós faz sentir vulneráveis?

A gente se sente tão vulnerável porque nós temos consciência de que não sabemos o que fazer diante um ataque, por exemplo. Quando as pessoas não sabem agir, via de regra, elas vão reagir.

Mesmo sem saber o que fazer?

Sim. Vão tomar atitudes impulsivas, impensadas, baseadas em uma reação automática. Porque não foi desenvolvido um plano de ação para lidar com uma situação como essa. A gente ouve um ou outro dizer: ‘Ah, já pensei que vou fazer tal coisa em tal situação’, mas são poucas as pessoas que realmente se empenham em analisar esses casos.

E são esses os sentimentos que mais predominam depois de episódios como esse?

Essa situação específica nos faz sentir vulneráveis e fragilizados. E a gente só vai começar a se sentir mais protegido quando a gente souber o que fazer em cada uma dessas situações.

E o que fazer, então?

Pedir ajuda à polícia, aos Bombeiros, pode ser uma boa. Eles estão acostumados com isso e sabem o que devemos fazer. E diante disso, criar uma rede de apoio, de suporte, que pode unir várias pessoas para criar essas táticas. A gente mesmo pode ir às autoridades de segurança e resgate e perguntar sobre isso. O momento atual, depois desse episódio das ameaças, é de as pessoas tirarem dúvidas, buscarem formas de saber como se proteger para não criar uma rotina de medo.

E qual é a intenção do autor de uma ameaça com o teor da que foi apontada na Ufes?

A intenção é criar fragilidade. Uma pessoa que comunica o que vai fazer ela tem um objetivo claro de deixas as pessoas com medo e, por causa do medo, paralisadas e sem saber o que fazer. A reação é nessa ordem mesmo. Uma pessoa que quer pegar as outras de surpresa não avisa.

Então quem avisa tem menos probabilidade de efetivamente realizar a promessa?

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Não. Também não se pode ignorar um fato desse quando ele é avisado. Mas um ladrão que está na rua não vai te avisar: ‘Olha, vou roubar seu celular hoje às 20h30’. Não dá para dizer que a pessoa não vai fazer o que está falando, mas o fato é que ela tem a intenção de instaurar esse clima de insegurança, com pessoas perdidas e paralisadas.

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