Em "Um Bonde Chamado Desejo", escrito no final da década de 1940 por Tennessee Williams, a exuberante Blanche DuBois (eternizada na Broadway por Vivien Leigh) afirma, em um certo momento: "O oposto da morte é o desejo. Você se admira? Como é possível que se admire?".
A morte, usada como paralelo para a quebra de convenções sociais, conexões políticas, desejos lascivos ou mesmo expressões da sexualidade, pontua o exercício cênico "Flores para os Vivos", que será apresentado neste domingo (21), às 18h, no Palácio Sônia Cabral, em Vitória. Antônio Apolinário é o instrutor e orientador do espetáculo. Por sua vez, a composição dos arranjos e a preparação vocal ficou sob a responsabilidade da professora de canto Priscila Reis.
A apresentação serve para marcar o final do segundo semestre da turma de estudantes do curso de teatro da Fafi, o primeiro da escola de artes após a sua reabertura (fechado por dois anos por conta de uma reforma).
Uma das 15 intérpretes da montagem - que conta com oito cenas -, Karolina Lopes revela que a ideia é fazer um mergulho laboratorial, no qual os os alunos-atores experimentam a criação de personagens e vivenciam o processo criativo de um espetáculo teatral.
"Será uma imersão completa no ato de fazer teatro. Além de atuar, os intérpretes são os responsáveis pela trilha sonora, criações de dança e de sapateado e pela mudança dos cenários ao vivo. A montagem conta com cerca de 80 minutos e todos estão sempre presentes, em várias atividades simultâneas", garante.
CLÁSSICOS
Voltando a "Um Bonde Chamado Desejo", o texto é um dos oito selecionados para compor as cenas de "Flores para os Vivos", sempre tendo o luto como epicentro narrativo.
Todos são clássicos da literatura ou dos palcos: "A Casa de Bernarda Alba" (1936) e "Bodas de Sangue" (1932), de Federico Garcia Lorca; "Maria Stuart" (1801), de Friedrich Schiller; "A Falecida" (1953), de Nelson Rodrigues; "A Mais Forte", de August Strindberg (1889); "Gota Dágua" (1975), de Chico Buarque de Holanda e Paulo Pontes; e "Eles não Usam Black-tie" (1958), de Gianfrancesco Guarnieri, completam a seleção.
"A escolha dos textos teve como premissa o tema usado para estudo no semestre, o drama. Os alunos, então, citaram nomes de algumas peças. Curiosamente, a morte e o luto sempre permeavam os escolhidos. Foi uma coisa natural, sem decisão prévia", lembra.
Há, também, o apoio da metalinguagem, que serve para aprimorar ainda mais o conhecimento técnico dos alunos. "Bodas de Sangue", por exemplo, foi eternizado também nos cinemas em 1981, com um trabalho primoroso de direção de Carlos Saura e coreografia de Antonio Gades, um filme que popularizou e definiu padrões para a dança flamenca.
Karolina Lopes, inclusive, interpreta a noiva, uma das protagonistas da obra espanhola, em "Flores para os Vivos". "Assisti ao filme e o trabalho de Saura foi uma influência para compor o personagem", conta, afirmando que a peça tem o mérito de desenvolver nos intérpretes a questão de atuação e postura gestual.
A escolha do Teatro Sônia Cabral também foi uma chance dos alunos exercitarem outras habilidades do curso. "Fomos incentivados a trabalhar todo o processo de produção. não só o ato de encenar. Trabalhamos a noção de mercado, pois tivemos que negociar um espaço e propor toda a produção", adianta.
SERVIÇO
"Flores para os Vivos"
Onde e quando: Domingo (21), às 18h, no Teatro Sônia Cabral. Praça João Clímaco, Centro, Vitória
Ingressos: R$ R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia). Disponível na bilheteria do teatro, de 12h às 18 horas.
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