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Militares só querem ir para a África ganhar comenda, diz deputado

Militares só querem ir para a África ganhar comenda, diz deputado

Deputado federal eleito na onda direitista de outubro passado, Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP), é um dos que têm lado assumido

Publicado em 30 de abril de 2019 às 18:10

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Militares só querem ir para a África ganhar comenda, diz deputado. (Facebook)

As tensões entre a base conservadora de apoio ao presidente Jair Bolsonaro e os militares têm marcado o início do governo.

Deputado federal eleito na onda direitista de outubro passado, Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP), é um dos que têm lado assumido. "Os militares se tornaram o que o [ex-presidente] Fernando Henrique queria que fossem. Querem ir para a África ganhar comenda", afirma.

Descendente da família real brasileira (que, aliás, foi derrubada pelos militares em 1889), Luiz Philippe, 50, não costuma realçar seu sangue nobre como característica política. Em quase duas horas de conversa na semana passada, não mencionou esse aspecto nenhuma vez. Apresenta-se como empresário liberal, ativista de causas conservadoras e estudioso da política externa -na Câmara, é vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores.

É também um admirador assumido do filósofo Olavo de Carvalho, o que ajuda a explicar as farpas que lança sobre os militares, alvo da ira do guru do presidente. O ponto básico do deputado é: falta conservadorismo à turma da farda.

"Os militares não são conservadores. Eles têm uma característica nacionalista e estatizante. Têm muito mais viés socialista que capitalista", afirma.

Perguntado se inclui nesse diagnóstico inclusive os que dão expediente no Palácio do Planalto, como os generais Augusto Heleno (Segurança Institucional), Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo) e o vice-presidente, Hamilton Mourão, a resposta do deputado foi positiva. "Mas não quero falar individualmente deles, muitos são meus amigos. Estou falando do aspecto geral".

Quando critica o desejo de generais de ganhar comenda da ONU, o deputado tem dois alvos óbvios: Heleno, que chefiou tropas de paz no Haiti, e Santos Cruz, que fez o mesmo na República Democrática do Congo.

"Os militares se tornaram globalistas. A lealdade deles é regional, é à América Latina, à África. É como a ONU vê o Brasil", declara.

Coisas mais importantes acabam sendo deixadas de lado, acredita Luiz Philippe. "Não querem cuidar de fronteira, de temas transnacionais". O deputado também vê resistência grande deles em apoiar a pauta conservadora do governo. "No caso da agenda moralizante, são um corpo resistor. Resistem à mudança na área educacional, por exemplo".

O único aspecto positivo, aponta o parlamentar, é a capacidade administrativa que os generais possuem. "Isso ajuda muito na parte gerencial", admite.

Para Luiz Philippe, a guerra aberta empreendida por Olavo de Carvalho contra os militares é positiva porque deixa claras as diferenças de visão sobre o governo. "O Olavo é um cara que está jogando luz nessas características. A população acha que os militares são conservadores. Não é verdade. Eles são estatizantes, têm muita proximidade com o PT".

Durante a campanha eleitoral, o nome do deputado circulou como possível indicado a diversos postos importantes. Ele diz que foi cotado para ser vice de Bolsonaro e inclusive teve conversas a respeito desta possibilidade com os filhos do presidente. E nega a outra hipótese que circulou, de ser nomeado chanceler.

E o que ele acha, então, do atual ocupante do Itamaraty, o ministro Ernesto Araújo, outro representante da ala olavista? "O Araújo é um burocrata, como são os diplomatas de carreira. Não é um mau burocrata, é a característica dele", afirma.

Mas em alguns momentos, afirma Luiz Philippe, a diplomacia requer uma certa agressividade, especialmente em um cenário internacional em que a direita, a seu ver, está comendo poeira. "Qual é a proposta global da direita hoje? Não existe. A ONU é de esquerda, a União Europeia é de esquerda, o Foro de São Paulo é de esquerda".

Liberal convicto na economia, ele defende priorizar entidades supranacionais com essas características, como a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), à qual o Brasil quer se filiar. "Estamos num momento definidor. Queremos ser a cabeça da sardinha ou o rabo do tubarão?".

Traduzindo a metáfora marítima: queremos liderar o mundo dos pobres, como, segundo ele, pregam o PT e os militares, ou entrar no clube dos ricos, ainda que na rabeira?

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A resposta, para Luiz Philippe, é evidente: melhor ser rabo de tubarão.

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