Angelo Passos

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Malefícios sociais

Gastos obrigatórios sugam espaço cada vez maior no Orçamento da União. Recursos para programas sociais estão minguando, afetando os mais pobres


Economia ainda fraca, convalescendo de sua pior recessão, frustração de receitas extraordinárias, aceleração de gastos e de renúncias fiscais em momentos de ameaça ao mandato do presidente da República, e também um fato positivo, a inflação muito abaixo da esperada, são razões emergentes do avanço do déficit federal de R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões - e que precisará de algum vento a favor, para não estourar esse montante.

Essas variáveis continuam presentes, e se juntam a novas nuvens. Uma, a investida da Fazenda para aumentar alíquotas do PIS e da Cofins (pela segunda vez neste ano), que elevará a receita, mas incentivará a informalidade. Outra, é a perspectiva que se robustece de não realização da reforma previdenciária em 2017 - o que pode custar ao país mais um rebaixamento nas notas das agências de classificação de risco, assustando investidores.

O nó fiscal exige também outra discussão: despesas obrigatórias. São puxadas pela Previdência, mas são várias. E independem do desempenho da arrecadação e do andar da economia, se está crescendo ou não. Veja a escalada: em 2008, esses gastos consumiam 74% da receita líquida da União. Em 2016, atingiram 101,3%, portanto mais do que os recursos disponíveis, após as transferências previstas na Constituição. Em 12 meses até julho de 2017, a relação chegou a 105%.

Reportagem publicada em A GAZETA sobre o definhamento do programa Minha Casa Minha Vida no Espírito Santo mostra um dos reflexos do sucessivo aumento das despesas inevitáveis. Elas sugam cada vez o Orçamento.

Por isso, verbas para programas sociais (que não são obrigatórias) foram cortadas em até 91% neste ano. É o caso do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que permite a compra de produtos da agricultura familiar pelo governo federal. Já o Luz Para Todos, voltado para a população rural, teve o dinheiro podado em 79%, em relação ao ano passado. O Minha Casa, Minha Vida recebeu R$ 20,7 bilhões em 2015, apenas R$ 7,9 bilhões em 2016, e, em 2017, só R$ 1,8 bilhão de até agosto.

A principal mudança na estrutura de gastos deve vir com a reforma da Previdência, mas é preciso avançar mais – quando houver governo politicamente mais forte.

*O autor é jornalista

 

 

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