Angelo Passos

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Suspense indesejado

Se Temer sobreviver à segunda denúncia, será evitado tumulto político, mas o país deverá pagar alto preço pela fragilização do seu presidente


*Angelo Passos

Estamos a poucas horas da votação da segunda denúncia contra Temer na Câmara, e a expectativa é pior do que a da primeira, no início de agosto, em função da soma dos efeitos danosos de dois petardos seguidos. É um cenário político inseguro, no momento em que a economia tenta se reerguer dos escombros.

Se o presidente ficar, será evitado novo tumulto institucional, mas o país pagará alto preço pelo desgaste – que parece não ter limite–, do mandatário. Há grande preocupação é com ajuste fiscal.

A decadência na caminhada pelo equilíbrio financeiro é notória desde a primeira acusação contra Temer. Na época, incremento de despesas (apesar do teto de desembolsos) e renúncias de arrecadação somaram cerca de R$ 15 bilhões e contribuíram para ampliar de R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões o buraco nas contas federais. O cardápio não mudou. Gastança e benesses voltaram com força após a segunda denúncia. São as armas de defesa do presidente. Depois, o governo aumenta impostos - sem resolver os problemas de caixa e atrapalhando a economia.

A importância que Temer atribui ao ajuste fiscal ficou clara desde a sua interinidade no Planalto: é relativa; em primeiro lugar, a sua sobrevivência no cargo. Lembremos que em maio de 2016, (antes de assumir definitivamente, o que só ocorreu em 31 de agosto) ele cedeu a pressões políticas para garantir o impeachment de Dilma e abriu um saco de bondades incompatível com a situação financeira. Sancionou o avanço do rombo fiscal de R$ 96,7 bilhões para R$ 170,5 bilhões e imediatamente concedeu reajuste generoso para algumas alas do serviço público (com impacto de R$ 50 bilhões nas cofres federais), elevou o pagamento do Bolsa Família em 12,5% (bem acima dos 9% prometidos por Dilma) e assinou um acordo com governadores que suspendeu por seis meses o pagamento das dívidas estaduais com a União, além de conceder bons descontos aos inadimplentes.

Temer não mudou. Se permanecer, serão mais 14 meses de supense fiscal. Neste momento, o mercado financeiro conta os votos a favor do presidente na Câmara, como indicativo de apoio ou de obstáculo à reforma da Previdência. Sem ela, o ajuste vai para o vinagre.

*É jornalista

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