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O "tudo ou nada" de Temer

Confira a coluna Praça Oito desta sexta-feira, 21 de abril


Praça oito
Praça oito
Foto: Amarildo

Com as revelações dos últimos dias, o governo Temer (PMDB) chegou a um momento crucial. Das duas, uma: por um lado, em consequência da avalanche provocada pelo conjunto de delações da Odebrecht, o Planalto pode perder a base parlamentar, a sustentação no Congresso, o timing e os apoios necessários para aprovar as reformas que compõem sua agenda – perdendo também, assim, qualquer chance de obter o mínimo êxito. Por outro lado, justamente em consequência da referida avalanche, pode partir para um “tudo ou nada” e acelerar, enquanto pode, a tramitação dessas reformas no Congresso. Afinal, é um governo que já nasceu condenado à impopularidade. E que, se antes já tinha pouco a perder, agora é que não tem mais nada mesmo.

Como a lista de Fachin abala o governo Temer, com oito ministros sob investigação e o próprio presidente citado mas poupado por não poder ser investigado por fatos pregressos à Presidência? O cientista político Sérgio Praça (FGV-RJ) mantém perspectiva nada entusiasmada sobre a sequência do atual governo. Para ele, conseguindo ou não aprovar as reformas (trabalhista e previdenciária, sobretudo), é um governo que simplesmente não tem como dar certo.

“No caso da Dilma, o Congresso não estava com ela, tinha uma agenda própria indo adiante contra a Dilma. A diferença é que agora está todo mundo junto, inclusive no mesmo drama, o que pode ser ainda mais perigoso, sobretudo em termos de reforma política. Vejo uma tendência de esvaziamento, perda de força do governo. O cenário é o governo indo lentamente até o fim, e a pauta da sucessão presidencial começando a predominar já no fim do ano. Mesmo se ele conseguir aprovar a reforma da Previdência, está fadado a ser impopular e a não dar certo”, afirma Praça.

Para o professor, com a classe política jogada na vala comum, o que vai prevalecer é o pragmatismo, o cálculo pessoal de cada congressista da base, na hora de votar nos projetos impopulares. “E o cálculo dos parlamentares é: já estou ferrado mesmo, já estou até investigado na Lava Jato, então por que vou votar a favor de algo que pode me tornar ainda mais impopular? Ninguém vai dizer na campanha: ‘Votei para que o Brasil tivesse futuro’. Um deputado hoje tem pouquíssimos motivos para votar a favor. Então, se antes já havia focos de resistência na base, agora piorou ainda mais”, avalia.

“O que os parlamentares tentarão dizer e fazer é o contrário: ‘vamos tentar manter os trabalhos’. Pode ser até uma vontade sincera, mas é difícil e tende a não ir para a frente”, completa Praça.

Para o também cientista político Paulo Baía (UFRJ), com os fatos recentes, um governo que já vinha com uma popularidade muito baixa reforça seu viés de antipatia social. “Em termos concretos, o governo Temer aposta na maioria congressual. Creio que o Parlamento pode ser atingido e, se o Parlamento ficar vulnerável, a maioria pode ficar vulnerável. Até então, o governo Temer nadava com tranquilidade, de costas para a sociedade e de frente para sua base congressual.”

O primeiro reflexo após o choque da lista de Fachin é uma paralisia inicial, acrescenta Baía. “Vamos ver como serão os desdobramentos. Por enquanto temos uma perplexidade. Ainda estamos no estágio do trauma. Temos que ver como será o segundo estágio, o do estresse pós-traumático. Tentar acelerar as votações pode ser uma estratégia do governo de enfrentamento à opinião pública.”

Com medidas tomadas ao longo desta semana, esse parece ser o caminho que Temer optou por seguir. O presidente sabe, desde o início, que lidera um governo sem chances de chegar perto do “tudo”. Para ele, de agora em diante, a estratégia não é bem ir para o “tudo ou nada”, mas para um “todo o possível ou nada”.

Tapetão vermelho

No último dia 12, a coluna se apressou ao analisar a vitória apertada, mas suficiente, da chapa de Givaldo Vieira na primeira fase da eleição do PT para definição do novo Diretório Estadual: “Isso significa que, após praticamente uma década no poder, o grupo de João Coser está fora da presidência do partido no Espírito Santo”. Não contávamos com a polêmica reviravolta da “recontagem de votos”. Não é o tapete vermelho das estrelas de cinema. É mesmo o tapetão vermelho da estrela do PT.

Coelhos e coelhos

De Michel Temer, na última quarta, para seus aliados: “Não podemos nos acoelhar”. O verbo, informam os dicionários, é sinônimo de “intimidar-se”. O deputado estadual Rodrigo Coelho (PDT) e o economista Gradiston Coelho parecem ter preferido se manter fiéis ao sobrenome a seguir a exortação de Temer. Rodrigo foi procurado pela reportagem de A GAZETA esta semana, mas preferiu não se manifestar. Gradiston foi procurado pela coluna, mas igualmente se calou.

Contexto

Rodrigo pode ser investigado pelo Ministério Público (há petição de abertura de inquérito contra ele para apurar suposta prática de caixa dois). Já Gradiston é citado em planilha da Odebrecht como receptor de repasses ilícitos para Renato Casagrande.

Sinuca de bico

Se as eleições do Espírito Santo em 2018 fossem um jogo de sinuca, poderíamos dizer que a revelação da “lista de Fachin” teve efeito equivalente ao da tacada inicial, espalhando pela mesa todas as bolas antes ordenadamente agrupadas. Ao fim do jogo, algumas talvez serão encaçapadas (cairão em um dos buracos da Lava Jato e ficarão de fora). Outras talvez persistam sobre a mesa.

Aniversário

O governador Paulo Hartung completa nesta sexta-feira 60 anos de vida.

Cena política

Quem acompanhou a sessão plenária da última terça no Tribunal de Contas do Estado assistiu a uma discussão inusitada entre os conselheiros Sebastião Carlos Ranna e Rodrigo Chamoun. O tom foi ríspido, mas ambos mantiveram a fleuma. Ranna estava no meio da leitura de um voto quando se deteve para reclamar do barulho, dirigindo-se a Chamoun: “A conversa paralela está atrapalhando”. Chamoun respondeu com um “desculpe”. “Desculpas aceitas”, devolveu Ranna. “Depois qualquer coisa eu peço vista”, retrucou Chamoun. “Certamente”, fez Ranna. E Chamoun: “Era um assunto aqui do tribunal mesmo”. Caso encerrado.

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