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A crise reúne o PSB

Confira a coluna Praça Oito desta quarta-feira, 24 de maio


Praça oito
Praça oito
Foto: Amarildo

A decisão de ir para a oposição ao governo Temer, anunciada no último sábado pela cúpula nacional da sigla, talvez seja o componente que faltava para reunificar o PSB, mesmo que alguns quadros tenham que ser sacrificados. Desde a morte de Eduardo Campos, em 2014, o partido vive em constante crise identitária, com divisões dentro da bancada do partido no Congresso e também entre parte da bancada e a direção nacional do PSB. Representantes, respectivamente, da bancada da sigla na Câmara e da direção nacional, o deputado federal Paulo Foletto e o ex-governador Renato Casagrande exemplificam bem as contradições observadas até aqui. Agora, enfim, voltam a falar a mesma língua. Ou quase.

Foletto, como boa parte da bancada, vinha adotando, até a bomba da JBS, postura muito mais favorável ao governo Temer e à agenda de reformas propostas pelo peemedebista. Já Casagrande, como a maioria dos dirigentes socialistas, mantinha desde o início um pé atrás com relação ao governo Temer e restrições às reformas trabalhista e da Previdência.

Quando Temer assumiu a Presidência, em maio do ano passado, a Executiva nacional do PSB, cujo secretário-geral é Casagrande, publicou resolução manifestando independência e afirmando que não queria participar do governo por não concordar com aquele modelo de coalizão. Mas a bancada do partido indicou o nome de Fernando Bezerra Filho (PSB) para compor o novo governo à frente do Ministério de Minas e Energia. Segundo Foletto, foi ele mesmo, como então vice-líder da sigla na Câmara, que levou a Temer o nome de “Fernandinho”. “Ficar sem espaço é ruim. Mas a direção ficou neutra e crítica”, ressalva o deputado.

Já na votação da reforma trabalhista na Câmara, a direção nacional fechou questão contra o projeto do governo. Mas 14 dos 35 deputados, inclusive Foletto, rebelaram-se e votaram com o Planalto.

Agora, com a decisão de partir para a oposição, Foletto se demonstra resignado, consciente de que não há mais o que fazer por um governo que se tornou indefensável. Já Casagrande, embora recuse a palavra “aliviado”, parece ter tirado um peso das costas, com o PSB enfim posicionado onde ele sempre preferiu que o partido estivesse.

“Foi a decisão correta, em sintonia com a história do PSB e com o que o partido prega, numa linha mais progressista. No momento em que o PSB votou pelo impeachment de Dilma, era natural que tivéssemos boa vontade com o novo governo, mas com independência. Agora, a direção nacional já vinha manifestando contrariedade com a condução política de Temer. Era um governo que se sustentava com base em uma direita política conservadora e em um setor empresarial também conservador. A reforma da Previdência atinge especialmente as pessoas mais pobres do país”, avalia Casagrande.

Já Foletto continua a favor das reformas propostas pelo governo Temer. Aquilo que Casagrande chama de “agenda conservadora” é visto, por Foletto, como fundamental para o país. Para o deputado, porém, os dias de Temer na Presidência estão contados, e mesmo os deputados socialistas que tentaram ajudá-lo na Câmara (como ele próprio) não podem mais sair em defesa do governo.

“O governo Temer acabou. Não por nossa causa. Nós até ajudamos. Entendemos que a reforma trabalhista é fundamental para a competitividade do país. A reforma da Previdência também. Aí o presidente faz uma cagada dessa... Como é que você vai defender um governo assim? Parece aquele pai que tem a máxima vontade de perdoar as atitudes do filho. Aí você sai de casa e o filho te rouba o dinheiro”, compara o deputado.

Portanto, Foletto e Casagrande voltam a convergir em um ponto pacífico: esse governo caminha para o fim da linha.

Antônio Carlos Ferreira

O chefe de gabinete do governador Paulo Hartung, Paulo Roberto Ferreira, é irmão do ex-superintendente da Caixa Econômica Federal Antônio Carlos Ferreira, acusado por Joesley Batista de ter intermediado propina de R$ 6 milhões para o ministro Marcos Pereira (PRB).

Em nome do irmão

Sem envolvimento no caso, Paulo Roberto confirma o parentesco e sai em defesa de Antônio Carlos. “Eu e meus irmãos fomos criados pelos nossos pais com valores sólidos de honestidade. Tenho absoluta certeza de que meu irmão não cometeu qualquer ilícito, mas, como qualquer cidadão, vai se defender dentro da lei e provará sua inocência.”

Bezerra fora do PSB

Segundo Casagrande, Bezerra Filho ligou ontem à tarde para o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, e anunciou a decisão de permanecer no governo. Siqueira, então, pediu a ele para sair. “O ministro quer ficar no governo? Não tem problema nenhum. Mas então tem que procurar um lugar em que ele esteja acolhido e que atenda à visão política dele. Esse lugar não é o PSB. Então, ele terá que sair”, sentenciou Casagrande.

“Busquem seu caminho”

Ainda segundo Casagrande, ainda há focos pró-Temer que resistem dentro da bancada. “Uma parte da bancada certamente se alinhará ao ministro. Cinco ou seis deputados. Nesse caso, caberá também a eles buscar o caminho deles. É o deputado que tem que se adequar à posição do partido, não o contrário.”

Reunificando a bancada

Em busca da unidade perdida, a bancada do PSB na Câmara ia se reunir na noite desta terça-feira (23). “Depois da divisão na reforma trabalhista, estamos discutindo um cenário para ver se a bancada apara as arestas e volta a se unir”, contou Paulo Foletto.

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