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Ferraço quer Temer fora, mas...

Confira a coluna Praça Oito desta terça-feira, 23 de maio


Praça oito
Praça oito
Foto: Amarildo

Com as indecisões e discordâncias internas que caracterizam o partido, o PSDB hoje está com uma asa dentro do governo Temer e a outra já fora da coalizão governista. A sigla oscila entre deixar a base ou continuar apoiando o governo do peemedebista. Ou, ainda, deixar de apoiar o governo, mas continuar apoiando a agenda reformista de Temer.

É neste último polo que se situa, hoje, o senador Ricardo Ferraço, que considera insustentável a permanência de Temer no cargo. Se dependesse do senador capixaba, o PSDB já teria batido asas para fora da base. Mesmo assim, voltando atrás no que anunciara na manhã de quinta-feira, Ferraço resolveu retomar o calendário normal da tramitação do projeto de reforma trabalhista do Planalto na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, onde ele é o relator do projeto já aprovado na Câmara. Ferraço pretende ler hoje mesmo o seu relatório. Ou seja, vida que segue.

Segundo ele, a resolução do PSDB é seguir tocando a agenda de reformas consideradas estratégicas para o país. Na última quinta, porém, Ferraço suspendeu os trabalhos, menos de 24 horas após vir a público o grampo da conversa comprometedora de Joesley Batista com Temer. Ora, o que mudou de lá para cá a ponto de o senador rever a posição inicial? Ferraço refuta com veemência ter sofrido qualquer tipo de pressão por parte de emissários do Planalto. “Não fui procurado por ninguém do Planalto. Nem procurei, nem fui procurado.”

Ferraço atribui o recuo a uma decisão tomada por líderes partidários pensando no interesse maior do país. Segundo ele, a sua decisão foi tomada ontem de manhã em conjunto com líderes tucanos, em uma “reunião de conjuntura” da qual também participaram o presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati, o senador Cássio Cunha Lima, o ministro das Cidades, Bruno Araújo, e o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli.

“Foi uma reflexão interna que fizemos. Chegamos à conclusão de que não podemos confundir uma crise que é do presidente e do governo com um assunto nacional como esse projeto. A reforma trabalhista independe do presidente da República. Se cruzarmos os braços e nada fizermos, a situação só vai se deteriorar e seremos fortemente criticados pela população brasileira, porque o Brasil não pode parar. O Senado não está em recesso. O presidente Temer é quem tem que se defender diante da população. Agora, interessa ao Brasil continuar com uma legislação trabalhista dos anos 40? Não podemos ser responsabilizados como alguém que viu a crise e não fez sua parte e que apostou no ‘quanto pior, melhor’”, justifica o senador.

Ferraço confirma as divisões no tucanato quanto ao caminho a seguir. “Tem líderes que preferem continuar avaliando o quadro um pouco. Outros que defendem que o partido saia já do governo e entregue os ministérios. O que defendo? Sair, entregar os ministérios, mas vir para o Parlamento e continuar apoiando as reformas. Defender a saída significa dizer que vamos fazer oposição ao Brasil? Não.”

Assim como o PSDB, a trajetória política do próprio Ferraço é marcada (e, por vezes, atrapalhada) por algumas indecisões e algumas idas e vindas. O senador, como se percebe, procura dar a justificativa mais republicana para a sua mudança de resolução quanto aos trabalhos na CAE. O argumento pode ser sincero e não deixa de fazer sentido – desde quinta-feira muita coisa aconteceu, a velocidade dos fatos tem sido intensa demais e parece que, no calendário político, um ano transcorreu nos últimos cinco dias. Assim como o senador, muitos apostaram inicialmente em uma renúncia imediata de Temer que não se confirmou.

Mas o fato é que, se Ferraço não foi mesmo procurado por emissários de Temer, é difícil crer que o Planalto não tenha recorrido a outros líderes tucanos. E, querendo ou não, reacelerar agora a votação da reforma trabalhista cria um fato político com elevada carga simbólica para o governo Temer emplacar a mensagem de que necessita: a de que segue firme, de pé, com uma base fiel no Congresso, e que vai seguir tocando normalmente as reformas vitais e prioritárias. Ou seja, querendo ou não, Ferraço acaba ajudando a prorrogar a sobrevivência de um governo que, para ele, já acabou.

Willer Tomaz

O advogado Willer Tomaz, preso na última quinta-feira pela Polícia Federal na Operação Patmos, é um dos advogados que chegaram a ser contratados pelo governador Paulo Hartung (PMDB) em abril para defendê-lo perante a Justiça nos procedimentos decorrentes da delação da Odebrecht na Lava Jato.

Sócio confirma

A informação foi confirmada à coluna pelo também advogado João Marcos Braga de Melo, que integra a equipe do escritório Willer Tomaz Advogados Associados. Ele atua na defesa de Hartung ao lado de Willer. “Sim, [a informação] é verdadeira. Estamos advogando para ele, sim. Não posso informar a linha de defesa dele neste momento, até porque quem está atuando mais diretamente é o doutor Willer Tomaz”, afirmou Braga de Melo.

“Não foi destituído”

Segundo Braga de Melo, apesar da prisão, Willer ainda é um dos representantes legais de PH, e o escritório de advocacia segue atuando normalmente no caso.

Procuração de Hartung

No dia 12 de abril, Hartung deu procuração a Willer e ao escritório chefiado pelo advogado para o representarem juridicamente. Pelo documento, o governador conferiu a ele e seus associados poderes “para atuar nos procedimentos derivados da Pet nº 6.633/DF, em todas as instâncias judiciais”. É o pedido de abertura de inquérito apresentado por Janot ao STF em face de Hartung.

Resposta do Palácio

A assessoria do Palácio Anchieta, porém, afirma que os advogados do governador são o procurador-geral do Estado Rodrigo Rabello e Rodrigo Lisboa: “Willer não fez e não fará a defesa do governador Paulo Hartung em nenhum procedimento judicial”. O Palácio enviou cópia de petição apresentada ao STJ, na última sexta – um dia após a prisão de Willer –, estabelecendo que a defesa de Hartung será feita exclusivamente por Rabello e Lisboa.

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