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Vidigal quer Euclério fora

Confira a coluna Praça Oito desta quinta-feira, 25 de maio


Praça oito
Praça oito
Foto: Amarildo

Em votação de interesse do Palácio Anchieta na Assembleia, o deputado Rodrigo Coelho (PDT), recém-nomeado líder do governo, encaminha o voto da base aliada de uma forma. Do outro microfone no plenário, o também pedetista Euclério Sampaio rebate que, em nome da bancada do partido, encaminha o voto contra o governo.

A cena resume o absurdo a que chegaram as contradições do PDT e os conflitos de Euclério com aquele que ainda é o seu partido. “Ainda” porque, em conversa com a coluna, o presidente estadual do PDT, Sérgio Vidigal, deixa claro que é chegada a hora de Euclério refletir melhor e, talvez, pegar o seu chapéu e procurar outro caminho.

“O problema todo é que nós que somos filiados temos que aprender a nos disciplinar. Se a maioria decide de uma forma, é importante que o parlamentar se adapte ao que a maioria decidiu. Euclério tem toda a liberdade de procurar o caminho dele”, disse Vidigal, praticamente apontando a porta da rua ao deputado.

O PDT está com Paulo Hartung desde a campanha de 2014. Desde fevereiro, contudo, Euclério, ladeado por Josias da Vitória (PDT), vem intensificando movimentos e pronunciamentos de oposição ao Palácio, com direito a acusações a secretários como Paulo Ruy Carnelli e Octaciano Neto. Em abril, a Executiva estadual da sigla, liderada por Vidigal, reafirmou que se mantém na base. Mas isso não bastou para frear o ímpeto de Euclério. Ao contrário, a partir da indicação de Rodrigo para ser líder do governo, Euclério passou a radicalizar a postura oposicionista em plenário, levando à certeza de novos embates não só com o colega de bancada, mas com a direção do PDT... que perdeu a paciência.

Segundo Vidigal, a desobediência de Euclério e seu comportamento em plenário podem, em tese, suscitar um processo ético disciplinar contra ele, se alguém provocar essa questão. Ele usa o próprio caso para exemplificar:

“Acho que o partido só cresce se tiver unidade das pessoas. Não pode ser apenas para alguém disputar uma eleição e ter um mandato. Então acho que é preciso também que os deputados façam uma reflexão, se eles de repente estão no partido certo, se o partido defende as bandeiras que eles defendem. Eu, na Câmara, fui votar a favor do impeachment [de Dilma] e levei uma suspensão, correndo o risco até de ser expulso. Cada ação tem uma reação”, frisa o deputado federal, formulando uma comparação carregada de ameaça a Euclério.

“O PDT não pode fazer o que querem dois deputados, o que quer o presidente... Temos que fazer o que a maioria decide, mesmo que a decisão não me agrade. Temos que aprender a conviver com a democracia. Quem é do PDT tem que estar junto em tudo”, arremata Vidigal.

Assim, claro está que, para o presidente estadual, a melhor solução seria a saída voluntária de Euclério – situação na qual, inclusive, ficaria mais fácil para o PDT reclamar à Justiça Eleitoral o direito de manter a cadeira na Assembleia. Só que, justamente por isso, Euclério nem cogita sair por vontade própria: “Eu não vou sair. Não fiz nada de errado. Só saio se for expulso”. Se isso ocorrer, o quadro se inverte, e é Euclério quem passa a ter um argumento para preservar o mandato, mesmo filiado a outro partido.

“Vidigal quer botar Luiz Durão (1º suplente do PDT) na Assembleia e por isso quer me forçar a sair. Ele está me fustigando. No sábado passado, chegaram a me excluir do grupo do PDT no WhatsApp”, reclama o deputado.

“Fustigado” como ele se diz, Euclério, como um ouriço, começou a soltar espinhos venenosos no plenário esta semana, mas o alvo passou a ser o próprio Vidigal. Na manhã de ontem, o deputado usou a tribuna para agitar processos de improbidade administrativa que pesariam contra o presidente do PDT no Estado.

É assim, nesse clima de barraco, que as coisas vão no PDT-ES. Vidigal falta um pouco com a coerência quando diz que o PDT tem que estar unido, mas cita o seu próprio caso de infidelidade na votação do impeachment. Já Euclério está forçando uma barra, um caso raro de insubordinação. Nas atuais condições, sua permanência no PDT demonstra mesmo incoerência política. Pode ser que todos empurrem a situação com a barriga até 2018. Mas quem perde com isso é o PDT, que seguirá se constrangendo até lá.

Direção em Vila Velha

O clima entre Euclério e o comando estadual do PDT (Vidigal) ficou pior ainda desde que o deputado estadual foi destituído da presidência da Executiva do partido em Vila Velha. Euclério alega perseguição. Vidigal responde que a decisão foi técnica, amparada em resolução da Executiva nacional. Segundo esta, a direção estadual não poderia renovar o comando do PDT nos municípios onde a sigla não atingiu o coeficiente eleitoral.

Baixo desempenho

Explica Vidigal: “Em Vila Velha, o coeficiente para vereador foram 12,8 mil votos. O PDT (sob o comando de Euclério) teve 5,6 mil. Euclério não pode ser reconduzido nem por provisória. No dia 6 de junho, a Executiva nacional decide o caso. Até lá, é bem provável que o PDT coloque um membro da Executiva estadual como interventor em Vila Velha”.

Octaciano vem aí

Outro ponto que incomoda Euclério é a iminente filiação de Octaciano Neto ao PDT. O secretário estadual de Agricultura tem sido um dos maiores alvos do deputado na Assembleia. Vidigal nega, porém, que Octaciano vá assumir a direção do partido em Vila Velha. “De jeito nenhum! Ele chega para ser um quadro com disposição de disputar a eleição em 2018.”

“Não mesmo”

O próprio Octaciano reforça a negativa. “Não pretendo ser membro nem da Executiva estadual nem da municipal. Minha rotina de secretário impede isso. Reafirmo que a minha relação é direta com Vidigal. Então não há nenhum incômodo.”

Gesto de confiança

A coluna perguntou a Rose de Freitas (PMDB) se ela ainda está do lado do presidente Temer. “Como senadora, continuo dando a ele o meu gesto de confiança e a oportunidade para que possa convencer o Congresso do seu não comprometimento ético nesse caso [da JBS].”

Cena política

Durante o lançamento do programa Campo Digital ontem, no Palácio Anchieta, o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (PMDB), em seu discurso, observou a expressiva presença dos deputados e mandou esta comparação: “Está maior do que o quórum da sessão realizada hoje de manhã na Assembleia”. Será que os colegas curtiram?

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