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As apostas de Hartung para 2018

Confira a coluna Praça Oito deste domingo, 25 de junho


Praça oito
Praça oito
Foto: Amarildo

O governador Paulo Hartung (PMDB) tem um pequeno cacoete. Quando está ligeiramente tenso – por exemplo, durante uma entrevista, enquanto ouve uma pergunta mais delicada, ou quando se prepara para entrar ao vivo no rádio –, ele retira a aliança do dedo e fica a fazê-la girar, com petelecos, sobre o tampo da mesa. No momento, é mais ou menos assim que ele está. A sua aliança está girando, girando, e, quando enfim se aquietar sobre sua mesa, em meados de 2018, ele pode tanto pegá-la e colocá-la de volta no dedo – sendo ele mesmo o candidato à reeleição – como colocá-la no anular de algum aliado próximo, escolhido “a dedo” por ele para ser seu candidato à sucessão. É claro que o anular do(a) felizardo(a) terá que ser compatível com o de Hartung, de modo que o anel poderá ser testado em muitos até lá.

Para um interlocutor do governador, hoje só há uma hipótese em que ele pode abrir mão de concorrer à reeleição em 2018: a eventual ausência de um adversário realmente duro fora do seu grupo político. Para ser mais específico, havendo uma ameaça real, ele está disposto a ir à luta e fazer de tudo para não perder os anéis. Por outro lado, se em meados de abril do ano que vem, com a campanha batendo à porta, pesquisas mostrarem a inexistência de um candidato no campo de oposição capaz de ameaçar o projeto do atual governo, Hartung pode preferir lançar um sucessor.

Neste caso, quem seria o escolhido? Pode ser, naturalmente, alguém de fora do governo. Mas, nos bastidores do Palácio Anchieta, as apostas hoje indicam outra direção: Hartung estaria propenso a encontrar uma solução caseira. Nesse sentido, estaria começando a testar e lapidar alguns nomes extraídos de dentro da sua própria equipe de governo para lançá-los na disputa eleitoral. Nomes ainda virgens nas urnas, que soem inéditos aos ouvidos do eleitorado e carreguem o frescor da novidade. Nomes que encarnem não o “antipolítico”, mas sim uma esperança de renovação da atividade política – ou daquilo em que ela se transformou. Em suma, outsiders da política convencional, mas insiders no núcleo político de Hartung.

A coluna de hoje relaciona e analisa seis nomes com esse perfil que compõem ou já compuseram o primeiro time de secretários de Hartung. Nenhum deles, hoje, tem filiação partidária. Todos são apontados por colegas como potenciais candidatos. A princípio, candidatos a algum mandato eletivo – deputado estadual ou federal. Mas, em último caso, segundo fontes palacianas, alguns deles poderiam ser considerados até para a sucessão de PH, em aliança com o governador, se o anel se encaixar perfeitamente.

Ana Paula: Mulher Maravilha (ou de Gelo)

Até perder para o governo Temer a super-heroína de seu ajuste fiscal, Hartung deu todos os sinais possíveis de que seu sonho de consumo era convencer e moldar sua secretária da Fazenda, Ana Paula Vescovi, para sucedê-lo em 2018 – como Lula fez com Dilma em 2010, embora se trate de duas economistas de perfis e escolas opostas. Com a ida de Ana Paula para o Tesouro Nacional, a conclusão natural era que o plano tinha sido arquivado por força maior. Mas nem todos pensam assim. “Vejo que o governador mostra um carinho muito grande pelo nome da Ana Paula. Com certeza, não desistiu do nome dela. Agora, para ser candidata, ela teria que ter algo a mostrar, como a redução do desemprego. Precisa apresentar resultados mais concretos lá para se credenciar aqui”, avalia ex-colega da secretária na equipe de PH.

Octaciano: Tatá tá aí

Esse quer (e como) ser candidato, de deputado federal a governador, e não esconde a pretensão, muito pelo contrário. Hoje sem partido, já foi dirigente do PR (quando surgiu, ligado a Magno Malta) e está prestes a ingressar no PDT. Sempre operou nos bastidores – inclusive na campanha de Hartung em 2014 –, até que, após a vitória do chefe, ganhou a sua grande chance: à frente da Secretaria de Agricultura, controla uma máquina de projeção eleitoral pelo interior do Estado que já foi muito útil a nomes como Ricardo Ferraço e César Colnago. Até o fim do mandato, o governo prevê a construção de 60 barragens e mais de 30 estradas do Caminhos do Campo. Hartung tem feito a sua parte. Em recente solenidade em Cachoeiro, encheu a bola de “Tatá”: “jovem arrojado, tem feito um bom trabalho”. Para chegar ileso ao umbral das eleições, o secretário terá que escapar das investidas do deputado Euclério Sampaio (PDT), que, da tribuna da Assembleia, tem denunciado irregularidades em contratos da Seag – todas negadas por ele. Por ora, é só Euclério.

André Garcia: Ave Fênix

Com a queda contínua e consistente da taxa de homicídios desde 2009 e a participação direta dele nesse feito, o secretário estadual de Segurança Pública, André Garcia, já tinha a cama feita no início do ano e a plataforma pronta para lançar sua campanha à Câmara Federal – onde era pule de dez – ou até a algo mais ambicioso. Mas aí veio a greve da PM e, com ela, o momento mais calamitoso da história da Sesp. As estatísticas de homicídios deram um salto inversamente proporcional às chances de êxito eleitoral do secretário, cuja plataforma, em um mês, desmoronou. Mas pode ser que nem tudo esteja perdido para Garcia. Quando quase todos pediam a cabeça do secretário, Hartung lhe deu um voto de confiança. Tudo bem, não quis queimá-lo nem dar o braço a torcer. Mas pode ser que ainda tenha planos para ele: se Garcia conseguir estabilizar a situação e voltar a trazer os homicídios para patamares menores, pode manter-se vivo no jogo e chegar a 2018 com discurso de que fevereiro de 2017 foi uma “anomalia”.

Enio Bergoli: abrindo a própria estrada

O diretor-geral do Departamento de Estradas e Rodagens no Estado (DER-ES) deu prova inconteste, na última quarta-feira, de sua lealdade a PH e de como está integrado ao projeto político do governador: ante a declaração da presidente do PV, Cidinéia Fontana, de que a sigla não marchará com Hartung, Enio não hesitou em anunciar sua desfiliação do partido. Após bater na trave algumas vezes – chegou a ameaçar candidatura a prefeito de Vitória em 2016 –, o ex-secretário de Agricultura dessa vez está realmente disposto a estrear nas urnas, possivelmente como candidato a deputado estadual. Para isso, contará com a poderosa máquina que hoje tem nas mãos. Como ele mesmo conta à coluna, o DER-ES investirá R$ 300 milhões só este ano. “No ano que vem será ainda mais, com valores de financiamento do BID e do BNDES.”

Andréia Lopes: a transição

Do jornalismo político para a política institucional, a secretária de Comunicação, Andréia Lopes, vestiu a camisa do governo de modo incondicional e, agora, entre colegas de time, já há quem aposte que ela pode sentir-se tentada a realizar a última etapa da transição, passando a fazer política propriamente dita. Em agosto de 2015, Andréia fez seu primeiro discurso, em cerimônia no Arquivo Público. Parece ter tomado gosto. Nas últimas semanas, tem sido sombra do governador nas andanças dele pelo interior – recentemente, por exemplo, em Cachoeiro e no Caparaó. “Acho que a Andréia não tem isso na mira dela. Ainda. Mas a gente brinca com ela, e vejo potencial nela. Pode ser um fato novo também, é mulher, também não testada”, avalia um secretário. Um segundo é mais enfático: “O nome da Andréia, não tenha dúvida. Aliás, assim como o da Ana Paula. Não ouvi da parte dela nada a respeito. Mas ela tem andado muito com o governador, e senti nela um entusiasmo muito grande. Pediu até que o governador a escalasse mais para essas viagens no interior. Ela está gostando.”

Eugênio Ricas: delegado

Ex-secretário de Justiça, o atual chefe de Controle e Transparência é o típico puro sangue técnico. Delegado licenciado da Polícia Federal, tem 41 anos e goza da confiança e do prestígio de Hartung, que o tem destacado em discursos. Por incentivo do governador, está prestes a concluir mestrado em Gestão Pública pela Ufes. Ricas admite os estímulos, mas, mineiramente (é de BH), desconversa sobre candidatura. “Nem me sinto confortável para falar sobre isso. Não tenho dúvida de que precisamos mudar o país e que isso passa por uma política ética, íntegra e renovada. Tem, sim, gente me estimulando a entrar. Pessoas que pensam como eu, que o Brasil precisa ser reformulado através da política, com a apresentação de bons nomes que estejam dispostos a fazer a diferença. Pessoas do governo eventualmente falam. Membros de outros Poderes também, ora em tom de brincadeira, ora mais sério. Mas não parei para pensar nisso, o tema nunca entrou na minha agenda pessoal nem profissional e nunca conversei sobre ele com a minha família. O meu foco no momento é no trabalho.”

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