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O casal Ferraço em guerra com Hartung

Theodorico fez em sessão na Assembleia, seu pronunciamento mais agressivo até agora contra Hartung, de quem se diz opositor desde o início do ano


Praça Oito
Praça Oito
Foto: Amarildo

Agora é guerra. Uma guerra declarada e violenta, como há muito tempo não se via na política do Espírito Santo. Theodorico Ferraço (DEM) está transtornado com Paulo Hartung e ontem não mediu palavras para atacar o governador, o que fez em dois atos: primeiro com as próprias palavras, depois falando através de sua mulher, a deputada federal Norma Ayub, também do Democratas – cada um da tribuna que lhe cabe.

Em ação coordenada, Theodorico fez, de manhã, em sessão na Assembleia, seu pronunciamento mais agressivo até agora contra Hartung, de quem se diz opositor desde o início do ano. Horas depois, Norma foi à tribuna da Câmara Federal para fazer um discurso ainda mais virulento que o do marido, mirando exclusivamente Paulo Hartung e se dirigindo diretamente ao governador, algo que nenhum membro da bancada federal capixaba ousara fazer até então.

A guerra está mais do que evidente. Os motivos, nem tanto.

Como pano de fundo, haveria uma movimentação em curso, costurada de cima para baixo – via direção nacional do DEM –, para que Hartung se filie ao partido e para que o presidente da Assembleia, Erick Musso (PMDB), que destronou Theodorico do comando do Legislativo estadual, também se transfira para o DEM, recebendo de bandeja a presidência estadual da sigla.

Mas essa história está mal contada, cheia de versões conflitantes. Enquanto governistas a confirmam, Theodorico a refuta e acusa aí uma armação – “molecagem”, para ser preciso, foi o termo que usou, entre outros impublicáveis.

De um lado, aliados de PH no DEM buscam consolidar a versão de que o governador foi convidado pelo presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, para ingressar no partido. Maia, por essa versão, também teria aberto as portas do DEM para filiação de Musso. Theodorico, por sua vez, acusa Hartung e hartunguistas de estarem criando situações inverídicas, unicamente com o intuito de enfraquecê-lo dentro da própria legenda.

O presidente estadual licenciado do DEM, Rodney Miranda, afirma que, na semana passada, conversou, no Congresso Nacional, com o senador José Agripino, presidente nacional do partido. Na ocasião, segundo Rodney, o senador lhe confirmou a sondagem feita a Hartung por Rodrigo Maia. Em recente passagem por Vitória, Maia almoçou com Hartung. Durante a visita, de acordo com Rodney, sondou o governador sobre filiação.

“Foi feito o convite, sim. O senador Agripino disse isso para mim, para a Norma e para o Theodorico. A vinda do Rodrigo aqui, entre outras pautas, seria também para sondar a possibilidade de o governador vir a se filiar ao DEM. Palavras de Agripino”, relata Rodney, fiel aliado de Hartung e hoje secretário estadual de Desenvolvimento Urbano.

Procurada pela coluna, a assessoria de Rodrigo Maia não confirmou que o deputado tenha realizado essa sondagem. Já o senador José Agripino foi assertivo: “De minha parte não houve sondagem política ao governador Paulo Hartung. Entendo nele um bom político e um grande administrador”.

Na versão de Theodorico, Rodrigo Maia realmente abordou o assunto com Hartung, informalmente, mas foi só isso. Segundo o deputado cachoeirense, Agripino garantiu a ele que não existe nenhum plano de filiar Hartung ao DEM, muito menos de entregar a presidência estadual a Erick Musso. Segundo Theodorico, Musso teria sido usado, e tudo não passaria de uma “jogada” de Hartung para lhe dar um chega pra lá dentro do DEM e para segurar as rédeas do partido – controlado indiretamente pelo governador no Espírito Santo desde meados do seu segundo mandato (2007-2010).

“A meu convite, o Evair de Melo está vindo para o DEM. Com ele e a Norma, serão dois deputados federais. O governador quis segurar o partido. Ele é mestre em plantar fatos na imprensa e foi isso que fez”, afirmou Theodorico à coluna.

Enquanto isso, o presidente interino do DEM no Estado, Atayde Armani, adota o papel de reconciliador. “Os dois (Hartung e Theodorico) sempre estiveram juntos nos últimos 12 anos. Deve ter havido alguma situação na eleição da Mesa Diretora. Ferraço saiu arranhado. Mas toda ferida tem cura.”

Algumas não.

Aí não, né...

Theodorico Ferraço negou-se a admitir que seu discurso pela manhã tenha sido coordenado com o que a mulher dele, Norma Ayub, fez à tarde na Câmara. “Isso já estava em laboratório há muito tempo. Mas foi uma coincidência bem produzida pela situação atual. Tanto ela como eu nos sentimos atingidos.”

Cargos, cargos, cargos

Por trás do quebra-pau do casal Ferraço com Hartung também está, como sempre, uma questão mais comezinha: cargos no governo estadual. Sem meias palavras, Norma acusou o governador de perseguir adversários e incluir, em seu “pacote de maldades”, a exoneração de servidores, “os quais trabalham por necessidade para manter suas famílias”.

Hoje, não; ontem, sim

Questionado pela coluna, Theodorico nega ter indicado servidores para cargos comissionados desde o início do atual governo. Mas afirma que fez indicações de quadros ligados a ele no governo anterior, de Renato Casagrande. Segundo Theodorico, são esses que têm sido exonerados agora por Hartung, no que o deputado definiu como “ato mesquinho”.

Desembarque branco

Filha de João Coser, a advogada Karla Coser (PT) é assessora especial na Subsecretaria de Estado de Polos Industriais, vinculada à Secretaria de Desenvolvimento. E pretende se manter no cargo, apesar da resolução do PT para saída e entrega dos cargos ocupados no governo Paulo Hartung. “Não é cargo de comando. Inicialmente, (a resolução) é só para cargos de primeiro escalão. A partir daí vai ser discutido como vai ser realizado para outras pessoas”, justifica ela.

Se o pai permite...

A permanência é apoiada pelo pai: “Com certeza, ela não deixará de trabalhar como advogada no governo. Não tem cargo de comando. Não posso falar por ela. Mas, por mim, ela fica para trabalhar”.

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