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Assédio sobre PSB reflete impasse

Confira a coluna Praça Oito desta quinta-feira, 20 de julho


Praça Oito
Praça Oito
Foto: Amarildo

A disputa explícita entre o PMDB e o DEM, leia-se entre Michel Temer e Rodrigo Maia, para cooptar um grupo de cerca de dez deputados federais do PSB, é um retrato do momento de extrema degradação em que se encontra a política em Brasília: em pleno recesso parlamentar, o presidente da República e o da Câmara, primeiro na fila de substituição de Temer, praticam um assédio descarado para atrair e filiar às respectivas siglas cerca de um terço da bancada do PSB na Câmara. O deputado federal Paulo Foletto, presidente do PSB no Espírito Santo, confirma as investidas de parte a parte sobre o grupo.

De um lado, Temer trabalha freneticamente para reforçar sua base aliada a fim de barrar a aceitação da denúncia contra ele na Casa, na volta dos trabalhos parlamentares; do outro, Maia se movimenta, de modo cada vez menos discreto, com o intuito não só de fortalecer o DEM mas também de compor um núcleo político mais consistente que lhe dê respaldo para suceder a Temer. Pouco a pouco, Maia pavimenta seu caminho rumo ao Planalto na coxia, enquanto, em entrevistas, mantém postura institucional e dá declarações de lealdade a Temer. A pequena crise aberta a partir do episódio traduz o impasse político que atualmente paralisa o governo federal e o país: o velho já morreu, já é passado, mas ainda não se forjou um novo para suplantá-lo.

O deputado Foletto confirma que hoje, na bancada do PSB, há um grupo de cerca de dez deputados muito “desconfortáveis” no partido e descontentes com a direção nacional, entre os quais ele não se inclui. Tudo começou na votação da reforma trabalhista de Temer na Câmara, no fim de abril. A cúpula do PSB fechou questão, orientando voto em bloco contra o projeto do governo, embora o partido àquela altura ainda fizesse parte da base – menos de um mês depois, após a divulgação do grampo de Joesley, o partido oficializaria a saída da base governista.

No entanto, apesar da orientação da cúpula partidária, a bancada se dividiu. Dos 37 deputados do PSB, 30 participaram da votação, sendo que 16 votaram contra e 14 (incluindo Foletto) foram a favor da reforma. Como consequência da “desobediência”, o Conselho de Ética do PSB, provocado pelo segmento sindical do partido, pediu explicações aos 14 dissidentes. “Eu dei a minha resposta, e morreu o papo ali. Agora, alguns dos 14 não responderam de forma objetiva e esticaram a corda”, conta Foletto. Em retaliação aos dissidentes, a direção nacional da sigla destituiu executivas estaduais provisórias comandadas por alguns desses deputados, tensionando ainda mais o clima interno.

“Não concordei com essa determinação. As pessoas se mostraram desconfortáveis. Fizeram uma grosseria no Mato Grosso. Agrediram demais um colega que votou na reforma trabalhista e a favor de Temer na CCJ (o deputado Fabio Garcia, do PSB-MT). A nacional tomou decisões precipitadas”, objeta Foletto.

Aproveitando esse vácuo, Maia entrou rapidamente em ação e, pouco depois da votação, procurou esses deputados e se reuniu com eles. Foletto participou desse primeiro encontro. “A gente estava conversando na casa da Tereza Cristina (MS), líder do PSB na Câmara, já faz algum tempo. Rodrigo foi chamado e apareceu lá. Foi quando esse assunto (de migração para o DEM) veio à tona. O DEM ofereceu uma opção. Rodrigo disse a todos que quem estiver desconfortável no PSB, o DEM está de portas abertas.”

Nos últimos dias, essas movimentações se intensificaram e, como amplamente noticiado, Temer entrou em campo para neutralizar a ação de Maia, também escancarando as portas do PMDB para eles.

Para Foletto, em torno de dez deputados devem sair do PSB, podendo ir para o DEM, o PMDB ou alguma outra legenda. É quase um terço da atual bancada do partido. Desses dez, sete, segundo ele, sairão com certeza – deputados do Piauí, do Ceará, do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul. O próprio Foletto garante que fica.

“Sou presidente estadual do PSB. Sou leal a Renato (Casagrande) e Renato é leal a mim. Não vou sair do PSB. Avisei aos outros 13 deputados (dissidentes) e expus minha situação no Espírito Santo. Rodrigo Maia sabe disso. Temer sabe disso. Tenho a cara e o carimbo do PSB.”

Ok, Foletto fica, mas um terço da bancada vai sair, cooptada seja pelo DEM de Maia, seja pelo PMDB de Temer, em um movimento de forças que tem outro carimbo e outra cara: a da pouca vergonha.

Geleia partidária

Está certo que anda muito difícil exigir identidade partidária e coerência ideológica dos políticos em geral. Nosso quadro partidário virou uma geleia em que (quase) todos se misturam. Ainda assim, soa estranhíssimo que um deputado migre, sem escalas, do PSB para o DEM.

Só para lembrar

Tudo bem, muito tempo se passou desde os anos 1940, o mundo mudou demais e hoje, de “socialista”, o PSB só tem o nome. Mas o partido tem mesmo profundas raízes no socialismo e hoje em dia pode ser considerado de centro-esquerda. Já o Democratas é o antigo PFL, o Partido da Frente Liberal. Direitíssima.

Ser ou não ser?

Essa transição radical de quase um terço da bancada também reflete a confusão a que chegou o PSB. Reticente e dividido sobre o impeachment de Dilma, sobre o governo Temer e sobre a sua agenda de reformas, o partido não conseguiu se encontrar no mundo desde a morte de Eduardo Campos.

“Depuração”

Sobre essa gritante incoerência, Foletto se posiciona assim: “A modernização de conceitos leva a isso. E é também uma depuração das siglas. Eduardo Campos abriu o partido, e a direção nacional está tentando trazê-lo de volta às origens. Isso vai diminuir o PSB. Mas eu fico”, diz Foletto, favorável às reformas de Temer.

Correção: Hércules

A coluna publicou ontem, com erro, a informação de que o deputado Hércules Silveira votou, como Majeski, contra o projeto da Mesa da Assembleia que cria mais um assessor de gabinete. Hércules é contra o projeto, não o assinou, não nomeará mais um assessor, porém não chegou a votar contra. “A votação foi simbólica, sem registro individual de votos. No momento eu estava atendendo uma pessoa ao lado do plenário. Quando entrei, a votação estava concluída. Prontamente pedi a palavra para manifestar minha posição contra a matéria”, explica.

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