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Hartung: um liberal

Confira a coluna Praça Oito desta quinta-feira, 27 de julho


Praça Oito
Praça Oito
Foto: Amarildo

Muito tempo ainda vai correr até que se confirme (ou não) a migração do governador Paulo Hartung do PMDB para o DEM ou para qualquer outro partido. Por seu estilo, ele deve manter o suspense – e o cenário eleitoral em suspenso – até o limite do prazo, em 2018. Além disso, a decisão depende de algumas variáveis que Hartung não controla: Temer vai cair? Que sistema eleitoral será adotado?

Em todo caso, a confirmação por parte da “assessoria do governador” de que ele foi mesmo convidado por Rodrigo Maia para se filiar ao DEM, conforme publicado ontem pelo “Valor Econômico”, coloca-o um passo mais perto do partido que, a bem da verdade, tem o programa político que dialoga mais diretamente com o que Hartung encarna hoje: uma agenda liberal, pró-mercado, um Estado mais enxuto, eficiente e aberto à participação da iniciativa privada na gestão de serviços e equipamentos públicos.

Há 40 anos, Hartung começou a militar contra a ditadura, primeiro no PCB, depois filiado ao MDB (em oposição, por ironia da História, à Arena, o partido do regime militar do qual o DEM é descendente direto). Depois, passou pela social-democracia, mudou, mudou, mudou e enfim passou a transitar acima dos partidos. No fim do ano passado, namorando um retorno ao PSDB, afirmou-se um “social-democrata”. Mas francamente não é sua definição mais precisa.

Economista ortodoxo, defensor intenso da bandeira do ajuste fiscal, no Estado e na União, Hartung chegou a celebrar, em entrevistas, no ano passado, a “desinterdição” do debate sobre temas praticamente tabus durante os anos de governo petista. Aí pode-se compreender uma agenda da qual ele próprio se mostra um entusiasta: a reforma da Previdência, o enfrentamento a corporações, o estímulo a parcerias público-privadas, mudanças em marcos regulatórios, a desburocratização de procedimentos e licenciamentos. Enfim, está mesmo mais para DEM do que para PMDB e até PSDB.

Como defendemos no último domingo, Maia representa exatamente essa agenda assentada sobre as bases do liberalismo econômico – e afinada com o que Hartung tem defendido e praticado desde que retornou ao Palácio Anchieta. Mais que isso: Maia simboliza a possibilidade de aprofundamento de uma agenda reformista e liberalizante que Temer começou a implementar, mas já não tem condições políticas de seguir tocando.

Durante a Era Lula, o antigo PFL passou alguns anos envergonhado e cambaleante, chegando ao ponto de trocar de nome para Democratas e de tirar de cena dinossauros para dar espaço a líderes mais jovens, como o próprio Maia. Tudo para “se modernizar”. Agora, faz o caminho inverso. Ante a expectativa de chegar ao poder com Maia, o DEM recupera agora uma relevância que há muito não tinha no país. E, em vez de negar as raízes e ocultar meio constrangido sua agenda original, o partido quer assumir a liderança de um projeto liberal no país.

Para isso, o próprio Maia tem protagonizado um movimento, em escala nacional, para resgatar as origens ideológicas do partido e fortalecê-lo com a atração de deputados e líderes regionais dissidentes de outras siglas e identificados com a agenda liberal do DEM. É nesse contexto que se insere o approach a PH. A explicitação do movimento de Maia coloca em outra moldura o episódio em que o presidente da Câmara esteve em Vila Velha, no dia 16 de junho, para almoçar com Hartung na Residência Oficial.

Na ocasião, a versão oficial, sustentada pela mesma assessoria do governo e por hartunguistas que participaram do encontro, foi a de que ambos teriam mantido uma “conversa de alto nível” circunscrita à “conjuntura socioeconômica do país”. Na certa falaram mesmo disso, mas poucos tinham dúvida de que a pauta havia ido muito além. Bem mais que trocar figurinhas com Hartung sobre os projetos de reforma que estão sobre sua mesa, o possível substituto de Temer na Presidência também deslocou-se ao Estado com o objetivo específico de destravar as portas do DEM a um governador afinado com as ideias do partido.

À época, questionado sobre isso, o presidente nacional do DEM, senador Agripino Maia, negou que, dele próprio, tenha partido qualquer sondagem a Hartung. Dele próprio. O outro Maia, Rodrigo, não preside atualmente o partido, mas tem assumido pessoalmente essas interlocuções, com o protagonismo que lhe dão os postos de presidente da Câmara e de potencial substituto de Temer. Com certeza, naquela conversa, ele e Hartung falaram a mesma língua.

Amaro e Luciano

Determinado a ser candidato ao Senado, o deputado Amaro Neto (SDD) tem aberto várias frentes de diálogo para pavimentar a candidatura dele. Um dos principais conselheiros de Amaro, Evandro Figueiredo reuniu-se com o secretário de Gestão, Planejamento e Comunicação de Vitória, Fabrício Gandini (PPS), para abrir um novo diálogo. Evandro e Gandini são, respectivamente, articuladores de Amaro e do prefeito Luciano Rezende (PPS). Na conversa, discutiram o possível agendamento de um encontro entre o deputado e o prefeito, adversários em 2016.

Amaro e Casagrande

Só para lembrar: há cerca de três semanas, Amaro esteve com Renato Casagrande (PSB), ocasião em que discutiram possibilidades para 2018.

Acomodações

A avaliação predominante hoje é que, do bloco palaciano, sairá uma chapa majoritária com Hartung candidato à reeleição ao Palácio, e com Ricardo Ferraço (PSDB) e Magno Malta (PR) buscando a reeleição ao Senado. Nesse caso, a candidatura de Amaro poderia ser abrigada em uma chapa independente ao Palácio, tendo Casagrande como candidato ao governo ou fazendo dobradinha com Amaro como o segundo candidato ao Senado.

Vantagem para Gandini

Para tanto, porém, Amaro e Luciano, maior aliado de Casagrande, precisariam se entender. A seu favor, Amaro tem na mesa o argumento de que, se for eleito senador em 2018, não disputará a eleição a prefeito de Vitória em 2020, deixando o caminho facilitado para Gandini, o candidato de Luciano à própria sucessão.

As desconfianças

Gandini e Luciano, no entanto, mantêm os dois pés atrás. Primeiro porque nada garante que, se Amaro estiver ainda mais forte no Senado, não tentará se tornar prefeito em 2020. Segundo, por causa da forte ligação do deputado com o governo de Hartung. Amaro já pediu ao chefe da Casa Civil, Zé Carlinhos (PSD), agenda para conversar com o governador sobre a eleição de 2018. Ainda não foi marcada.

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