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Maia, um liberal

Confira a coluna Praça Oito deste domingo, 23 de julho


Rodrigo Maia (DEM) é um líder natural entre os demistas, mais ainda pela posição que ocupa hoje e pelo protagonismo semiacidental que adquiriu no cenário político pós-Dilma. Nas asas do pai, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia, o deputado começou a militar ainda jovem. Apesar dos seus 47 anos, já acumula cinco mandatos na Câmara que hoje preside. É reconhecido como um político hábil, que gosta de fazer política e que expressa um traço raro hoje em dia: firmeza nas convicções ideológicas. Extremamente identificado com o DEM e com o programa liberal do partido, Maia tem lado e acredita no que defende. No caso, o que seu partido defende. E o que seria isso? Em duas palavras, o liberalismo econômico ou conservadorismo liberal.

Basta lembrar que o DEM (nome genérico, pois que partido não se diz democrata?) é como foi rebatizado em 2007, pelas mãos do próprio Maia, o antigo Partido da Frente Liberal (PFL). Ramificação da Arena, o partido governista da ditadura, trata-se sem dúvida de uma sigla de direita e representa o pensamento liberal: o Estado mínimo, a autorregulação do mercado, a intervenção mínima do governo na economia, o incentivo à iniciativa privada, as privatizações e concessões públicas, a desburocratização, a simplificação tributária, a flexibilização das leis e regulamentações.

Trata-se, basicamente, da agenda do grande empresariado e do mercado financeiro. A mesma que, com a chegada ao poder de Temer e seus aliados (PSDB, PPS e o próprio DEM), começou a ser colocada em marcha. Não por acaso, Maia pode ser considerado hoje um queridinho do mercado. Se Temer e sua ala do PMDB representavam a implementação dessa agenda ultraliberal, Maia, por princípio, história e coerência partidária, é ainda mais identificado com a mesma. Não por acaso já sinalizou compromissos com a preservação da agenda reformista, modernizante (e liberalizante) do seu possível futuro antecessor na Presidência.

Para o mercado, pouco importa se com Temer ou com Maia, tanto faz quem esteja ao leme, contanto que a direção do barco esteja correta, ou seja, que a sua agenda esteja intacta. E com Maia ela não corre nenhum risco. Ao contrário, o deputado pode, neste momento, representar a garantia de estabilidade e continuidade das reformas liberais, a mesma que Temer já não se mostra em condições de oferecer desde que seu governo passou a navegar por mares revoltos políticos.

Alçado ao poder sob o juramento e o compromisso de restaurar a estabilidade do país, Temer fracassou clamorosamente em cumprir a sua própria promessa. Frustrando as expectativas do mercado, deixou de ser sinônimo de estabilidade, segurança e previsibilidade, para se tornar exatamente o oposto disso: hoje Temer no poder equivale a instabilidade política, o que por sua vez se traduz em insegurança e imprevisibilidade econômica, o combo que mais atemoriza aqueles mesmos agentes que inicialmente o apoiaram de modo velado como alternativa ao desgoverno do governo Dilma. Rei morto, rei posto. Maia aparece a esses agentes como a bola da vez. Afinal, quem melhor para levar adiante um projeto liberal do que um liberal convicto?

O mais curioso é que, em 2007, o PFL mudou seu nome numa tentativa de “se modernizar” e se apresentar com uma nova roupagem ao eleitorado. Era o auge do governo Lula, e a direita liberal andava meio envergonhada de assumir suas posições. Hoje, uma combinação de variáveis fortuitas e outras nem tanto dão ao DEM uma expectativa de poder com Maia. O partido já não se contenta em ser coadjuvante dos tucanos. Para isso, passa por uma refundação programática, resgatando suas raízes ideológicas e reforçando suas convicções originais. E o próprio Maia lidera um processo de reformulação partidária buscando atrair dissidentes de outras legendas identificados com as tendências ideológicas do DEM e que queiram fazer parte de um projeto liberal de nação liderado por um partido assumidamente liberal. O que Paulo Hartung tem a ver com isso? Muito. Será assunto aqui em breve na coluna.

Entrevista

“Não adianta o governo dizer que está tudo bem quando não está”

Rogério Fernandes Lima, presidente da Associação dos Oficiais Militares do ES

O major Rogério Fernandes Lima é o representante dos oficiais militares do Estado
O major Rogério Fernandes Lima é o representante dos oficiais militares do Estado
Foto: Divulgação/Assomes

Persiste mesmo a insatisfação da tropa em relação ao comando da PM e ao comando da Secretaria de Segurança?

Desde fevereiro, não houve uma solução dialogada. O governo entrou com ações contra as associações, houve prisões de policiais, foi feita uma nova lei de promoção mudando toda a cultura da corporação sem debate, o que não agradou à oficialidade como um todo e gerou muita insegurança para os oficiais. Trouxemos para o governo várias pautas que não tinham repercussão financeira e nenhuma delas foi aceita. Então, percebemos sim um desconforto, além da desmotivação pelo tratamento recebido. É uma fase de desmotivação profissional.

É verdade que, com os brios abalados, os homens estão trabalhando com menos empenho no policiamento ostensivo?

Não é questão de fazer corpo mole, mas não adianta o governo vir dizer que está tudo bem quando não está. É como aquela ferida que não foi bem cicatrizada.

Como os oficiais hoje se posicionam em relação ao coronel Nylton?

Temos respeito pelo caráter e pela capacidade organizacional do coronel Nylton. Mas hoje um policial evita fazer qualquer comentário, mesmo que seja uma crítica construtiva, porque amanhã sua avaliação profissional pode ser prejudicada. Infelizmente se vive esse receio.

E quanto a André Garcia?

É inegável que a relação com o Dr. André Garcia ficou muito desgastada, até pelas falas que ele fez durante o movimento, sobre as famílias de policiais e acusando o dedo de policiais em crimes como o assalto ao Convento. Isso maculou a tropa. Depois se provou que não tinha participação de PMs. E, até o momento, ele não teve a altivez de se desculpar. Apesar de o movimento paredista não ser legal nem constitucional, o pleito era legítimo. Entendo que caiba uma retratação dele pelas acusações que fez de forma injusta.

Entrevista

“A tentativa de mostrar normalidade gera descontentamento”

Sargento Renato Martins Conceição, presidente da Associação de Cabos e Soldados da PMES

Sargento Renato Martins Conceição, presidente da Associação de Cabos e Soldados da PMES
Sargento Renato Martins Conceição, presidente da Associação de Cabos e Soldados da PMES
Foto: Repodução/Gazeta Online

Persiste mesmo a insatisfação da tropa em relação aos comandos da PM e da Secretaria de Segurança?

Verifico sinais de que não há de fato o retorno à normalidade como se tem tentado demonstrar. Diria inclusive que a tentativa de mostrar normalidade já gera no policial um descontentamento, porque o policial sente na pele o não retorno à normalidade.

É fato que os policiais boicotaram a gravação de um vídeo institucional no 1º Batalhão?

O policial não tem nenhuma intenção de colaborar com essa narrativa de reestruturação. Essa narrativa não agrada aos policiais. E ele ser coagido a participar de um vídeo que vende essa narrativa é algo que fere até a dignidade do policial. Maquiavel dizia: “Se os tempos mudam e os comportamentos não se alteram, é a ruína”. Quando olhamos para a estrutura da PM e até da Polícia Civil, a ordem vem e é cumprida nesse formato “sim, senhor”, “não, senhor”, sem senso crítico. Mas os tempos mudaram. A esmagadora maioria dos policias tem curso superior. O policial sabe que tem direito a preservar a imagem dele, em que pese estarmos num lugar pautado por hierarquia e disciplina. Mas exigir o cumprimento fiel às leis é também hierarquia e disciplina. Não sou obrigado a servir a minha imagem, ferindo o Código Civil.

Está faltando, por parte do comando da Sesp, habilidade para melhorar o relacionamento?

Quando digo à população que estou fazendo algo bom, mas que para o policial é ruim, isso fere o policial. Para o policial, isso é extremamente negativo.

É verdade que, com o orgulho ferido, os homens estão atuando com menos empenho nas ruas?

Isso eu confirmo. O mesmo empenho não existe, o que não significa não fazer o trabalho. O que verifico é exatamente aquela questão da consciência crítica.

Silêncio

A coluna procurou entrevistar o comandante-geral da PMES, coronel Nylton Rodrigues, e o secretário estadual de Segurança Pública, André Garcia, porém o governo preferiu não se manifestar.

 

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