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Rodrigo Maia, um liberal

Extremamente identificado com o DEM e com o programa liberal do partido, Maia tem lado e acredita no que defende


Rodrigo Maia (DEM) é um líder natural entre os demistas, mais ainda pela posição que ocupa hoje e pelo protagonismo semiacidental que adquiriu no cenário político pós-Dilma. Nas asas do pai, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia, o deputado começou a militar ainda jovem. Apesar dos seus 47 anos, já acumula cinco mandatos na Câmara que hoje preside. É reconhecido como um político hábil, que gosta de fazer política e que expressa um traço raro hoje em dia: firmeza nas convicções ideológicas. Extremamente identificado com o DEM e com o programa liberal do partido, Maia tem lado e acredita no que defende. No caso, o que seu partido defende. E o que seria isso? Em duas palavras, o liberalismo econômico ou conservadorismo liberal.

Basta lembrar que o DEM (nome genérico, pois que partido não se diz democrata?) é como foi rebatizado em 2007, pelas mãos do próprio Maia, o antigo Partido da Frente Liberal (PFL). Ramificação da Arena, o partido governista da ditadura, trata-se sem dúvida de uma sigla de direita e representa o pensamento liberal: o Estado mínimo, a autorregulação do mercado, a intervenção mínima do governo na economia, o incentivo à iniciativa privada, as privatizações e concessões públicas, a desburocratização, a simplificação tributária, a flexibilização das leis e regulamentações.

Trata-se, basicamente, da agenda do grande empresariado e do mercado financeiro. A mesma que, com a chegada ao poder de Temer e seus aliados (PSDB, PPS e o próprio DEM), começou a ser colocada em marcha. Não por acaso, Maia pode ser considerado hoje um queridinho do mercado. Se Temer e sua ala do PMDB representavam a implementação dessa agenda ultraliberal, Maia, por princípio, história e coerência partidária, é ainda mais identificado com a mesma. Não por acaso já sinalizou compromissos com a preservação da agenda reformista, modernizante (e liberalizante) do seu possível futuro antecessor na Presidência.

Para o mercado, pouco importa se com Temer ou com Maia, tanto faz quem esteja ao leme, contanto que a direção do barco esteja correta, ou seja, que a sua agenda esteja intacta. E com Maia ela não corre nenhum risco. Ao contrário, o deputado pode, neste momento, representar a garantia de estabilidade e continuidade das reformas liberais, a mesma que Temer já não se mostra em condições de oferecer desde que seu governo passou a navegar por mares revoltos políticos.

Alçado ao poder sob o juramento e o compromisso de restaurar a estabilidade do país, Temer fracassou clamorosamente em cumprir a sua própria promessa. Frustrando as expectativas do mercado, deixou de ser sinônimo de estabilidade, segurança e previsibilidade, para se tornar exatamente o oposto disso: hoje Temer no poder equivale a instabilidade política, o que por sua vez se traduz em insegurança e imprevisibilidade econômica, o combo que mais atemoriza aqueles mesmos agentes que inicialmente o apoiaram de modo velado como alternativa ao desgoverno do governo Dilma. Rei morto, rei posto. Maia aparece a esses agentes como a bola da vez. Afinal, quem melhor para levar adiante um projeto liberal do que um liberal convicto?

O mais curioso é que, em 2007, o PFL mudou seu nome numa tentativa de “se modernizar” e se apresentar com uma nova roupagem ao eleitorado. Era o auge do governo Lula, e a direita liberal andava meio envergonhada de assumir suas posições. Hoje, uma combinação de variáveis fortuitas e outras nem tanto dão ao DEM uma expectativa de poder com Maia. O partido já não se contenta em ser coadjuvante dos tucanos. Para isso, passa por uma refundação programática, resgatando suas raízes ideológicas e reforçando suas convicções originais. E o próprio Maia lidera um processo de reformulação partidária buscando atrair dissidentes de outras legendas identificados com as tendências ideológicas do DEM e que queiram fazer parte de um projeto liberal de nação liderado por um partido assumidamente liberal. O que Paulo Hartung tem a ver com isso? Muito. Será assunto aqui em breve na coluna.

Entrevistas

“Não adianta o governo dizer que está tudo bem quando não está”

Rogério Fernandes Lima, presidente da Associação dos Oficiais Militares do ES (Assomes)

Persiste mesmo a insatisfação da tropa em relação ao comando da PM e ao comando da Sesp?

Desde fevereiro, não houve uma solução dialogada. O governo entrou com ações contra as associações, houve prisões de policiais, foi feita uma nova lei de promoção mudando toda a cultura da corporação sem debate, o que não agradou à oficialidade como um todo e trouxe muita insegurança para os oficiais. Quanto à nova legislação aprovada para os praças, algumas coisas verdadeiramente foram atendidas, mas não houve um debate maior como se queria. A velocidade de todo esse processo que influencia a carreira e a vida dos policiais causou desconforto. Trouxemos para o governo pautas que não tinham repercussão financeira e nenhuma desas pautas foi aceita. Apesar de se ter o MP como mediador, não se conseguiu chegar a uma solução muito adequada. Os pleitos maiores não foram atendidos, como equipamentos e nem sequer um cronograma sobre a escala de trabalho.

E, já que se fala tanto em reestruturação, pleiteávamos também mudança no ingresso do oficial. Queríamos a exigência de bacharelado em Direito, o que diminuiria os custos e a carga horária do curso de formação. O pleito por novos coletes não foi atendido de viaturas. Agora foram entregues viaturas, provando que nosso pleito era justo, mas precisa melhorar. Há, ainda, questões de infraestrutura nas unidades. O governo fez uma lei de fardamento novo, mas não aumentou o valor para que o policial faça esse fardamento. No fim de maio, o governo disse que chamaria as associações para uma nova reunião para discutir salários e carreiras, mas até agora isso não aconteceu. A nossa defasagem salarial é muito superior a 43%, mas o governo se limita a falar que está pagando em dia. Ninguém está dizendo que isso não seja interessante, mas não há nenhuma garantia nem cronograma de recomposição das perdas.

Então, percebemos sim um desconforto, além da desmotivação pelo tratamento recebido. Com a mudança da legislação sobre critérios para promoções, há muita gente que tinha perspectiva de carreira e que foi preterido numa promoção. É uma fase de desmotivação do profissional.

É verdade que, com o orgulho ferido, os homens estão trabalhando com menos empenho no policiamento ostensivo?

Não é questão de fazer corpo mole, mas não adianta o governo vir dizer que está tudo bem quando não está tudo bem. É como aquela feria que não foi bem cicatrizada. O melhor remédio neste momento é o diálogo, para que a gente possa sarar essa ferida que ainda está muito sensível. Diálogo, não um monólogo, do tipo “eu falo, você obedece”.

Também é verdade que alguns chegaram a se recusar a cantar o Hino Nacional durante o lançamento do novo manual de controle de distúrbios civis, na última quinta-feira?

Alguns não quiseram mesmo cantar ou não aplaudiram. Voluntariamente, as pessoas não estão mais imbuídas daquela razão que sempre tiveram. Há majores que cumprem uma função estratégica na corporação, mas que têm sido rotineiramente escalados para fazer policiamento ostensivo. Isso só pode ser visto como represália. Então parece-me sim que a insatisfação está recrudescendo.

Como os oficiais hoje se posicionam em relação ao Coronel Nylton?

Temos respeito pelo caráter e capacidade organizacional do Cel. Nylton. Mas hoje os homens evitam fazer qualquer comentário, mesmo que seja uma crítica construtiva, porque amanhã sua avaliação profissional pode ser prejudicada. Infelizmente se vive esse receio.

E quanto a André Garcia?

É inegável que a relação com o Dr. André Garcia ficou muito desgastada, até pelas falas que ele fez durante o movimento sobre as famílias de policiais e acusando que tinha o dedo de policiais em crimes como o assalto ao Convento. Isso maculou a tropa. Depois se provou que não tinha participação de policiais. E até o momento ele não teve a altivez de se desculpar. Apesar de o movimento paredista não ser legal nem constitucional, o o pleito era legítimo. Quem estava ali estava sentindo a falta de alimentos. Entendo que caiba uma retratação dele pelas acusações que fez de forma injusta, tanto ele como o secretário de Direitos Humanos.

Com toda essa insatisfação mal reprimida, pode explodir um novo movimento grevista em breve?

É difícil você mensurar. O movimento de fevereiro não estava no controle das associações. Foi feito de forma paralela por familiares e associações não legitimadas pela categoria, pessoas que tinham cunho eleitoreiro. Não posso te dizer que vai ter um movimento ou que não vai ter. O que posso te dizer é que não vai ter um movimento organizado pelas associações. O que queremos é diálogo por parte do governo.

 

“A tentativa de mostrar normalidade gera descontentamento”

Sargento Renato Martins Conceição, presidente da Associação de Cabos e Soldados da PMES

Existe mesmo insatisfação da tropa em relação ao comando da PM e ao comando da Sesp?

Verifico sinais de que não há de fato o retorno à normalidade como se tem tentado demonstrar. Diria inclusive que a tentativa de mostrar normalidade já gera no policial um descontentamento, porque o policial sente na pele o não retorno à normalidade. Primeiro ponto: o policial tem amigos que são presos. Ele verifica isso como algo inaceitável, tendo em vista que muitos desses policiais que estão presos, antes daquele período, eram reconhecidos como excepcionais. Alguns chegaram a ser expostos em programas de TV como referências de policiais e hoje são criminalizados. No caso desses policiais, as prisões têm sido tratadas como regra. Então, esse é o primeiro ponto de tensão, que vai persistir enquanto essas pessoas não enxergarem um tratamento imparcial por parte dos julgadores, de quem está conduzindo esses processos administrativos. Segundo: o fim do BME e da Rotam e a propaganda institucional do governo como algo necessário muito bom, maravilhoso, buscando demonstrar que estão criando um novo modelo. Isso não corresponde à realidade e ofende o policial imensamente. Esses dois batalhões foram planejados e construídos reunindo os policiais de referência. E de repente se apresenta algo novo como se fosse uma panaceia, algo muito melhor. Questiono isso até do ponto de vista administrativo. E o policial não acredita nessa reestruturação. A unidade dos batalhões foi quebrada.

O governo fez isso para quebrar o núcleo da greve de fevereiro, diluindo por várias unidades os homens que estavam concentrados nesses dois batalhões?

Não vejo assim. Já havia, no governo, setores que não gostavam dessa concentração de efetivo. E aproveitaram o momento oportuno para fazer a redistribuição da massa de efetivos. Não tenho dúvidas de que as regiões que receberam mais policiais estão satisfeitas. Mas deixo a indagação: para aquilo a que serviam o BME e a Rotam, a PM hoje está preparada?

É fato que os policiais boicotaram a gravação de um vídeo institucional no 1º Batalhão?

O policial não tem nenhuma intenção de colaborar com essa narrativa de reestruturação. Essa narrativa não agrada aos policiais. E ele ser coagido a participar de um vídeo que vende essa narrativa é algo que fere até a dignidade do policial. Maquiavel dizia: “Se os tempos mudam e os comportamentos não se alteram, é a ruína”. Quando olhamos para a estrutura da PM e até da Polícia Civil, a ordem vem e é cumprida nesse formato “sim, senhor”, “não, senhor”, sem senso crítico. Mas os tempos mudaram. A esmagadora maioria dos policias tem curso superior. O policial sabe que tem direito a preservar a imagem dele, em que pese estarmos num lugar pautado por hierarquia e disciplina. Mas exigir o cumprimento fiel às leis é também hierarquia e disciplina. Não sou obrigado a servir a minha imagem, ferindo o Código Civil. Não tentaram impor a gravação, mas em nível estratégico hoje prevalece uma visão hierarquizada nos moldes antigos. Hoje temos 5 mil PMs com menos de dez anos de polícia. Para tocar o coração desses policiais mais novos, é preciso enxergar que não se está tratando mais com um policial que aceita “sim, senhor” e “não, senhor”, se a ordem estiver ferindo os direitos dele.

Está faltando, por parte do comando da Sesp, habilidade para melhorar o relacionamento?

Quando falo para a população que estou fazendo algo que é bom e para o policial é ruim, isso fere o policial. Para o policial, isso é extremamente negativo.

É verdade que, com os brios abalados, os homens estão trabalhando com menos empenho no policiamento ostensivo?

Isso eu confirmo. O mesmo empenho não existe, o que não se confunde com não fazer o trabalho. O que tenho verificado é exatamente aquela questão que te falei da consciência crítica.

A coluna procurou entrevistar o comandante-geral da PMES, coronel Nylton Rodrigues, e o secretário estadual de Segurança Pública, André Garcia, porém o governo preferiu não se manifestar.

 

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