Rondinelli Tomazelli

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Jucá, rombo e impostos

Confira a coluna Praça Oito desta terça-feira, 22 de agosto


Praça Oito
Praça Oito
Foto: Amarildo

Após ter abusado do cheque especial e vendido até terreno em Marte para conquistar os votos que enterraram a denúncia criminal contra Michel Temer, agora o governo se debate com um cobertor curto para enfrentar as novas intempéries. O desafio da vez será aprovar no Congresso, até o final deste mês, a ampliação da meta fiscal para um déficit de R$ 159 bilhões em 2017 e 2018. Líder do governo, Romero Jucá admite que a medida causará trepidação na base aliada, mas argumenta que esta foi a saída encontrada, junto a outras intervenções cirúrgicas, para não repassar integralmente a fatura do rombo para a conta da população – já revoltada e no arrocho.

“Não vai ter novos impostos, está descartado qualquer novo imposto. O esforço foi exatamente não criar novos impostos para não onerar a população”, frisa o senador. “Quanto à nova meta, não é tranquila a tramitação porque vai haver embate político, claro. Todo processo aqui é politizado, mas o governo veio para estabilizar o crescimento do déficit. O do ano passado foi R$ 159,6 bilhões; este ano, será fixado em R$ 159 bilhões, e, no próximo ano, em R$ 159 bilhões.”

Chamado pela oposição de ministro do Planejamento “de fato”, Jucá apresenta cálculos para vender uma ideia de austeridade do governo. Por essa ótica, o crescimento que haveria em despesa o mesmo Executivo está cortando na própria despesa. “Por exemplo, cortando 60 mil cargos públicos. O governo está tomando uma série de outras medidas que vão conter o gasto público, exatamente para dar o exemplo e começar cortando na carne”, salienta o senador.

No entanto, o caminho pedregoso não permite aos governistas vender otimismo como se vendesse vento ensacado. O Planalto teve de recuar de outras estratégias. Diante das pedradas que leva quando ensaia aumentar impostos, por exemplo, aposentou novamente a ideia – que permanece na gaveta de Temer. Jucá, vale lembrar, bateu de frente com Henrique Meirelles e venceu a disputa para alargar a meta fiscal, que o ministro da Fazenda teve de engolir e anunciar a seco.

Mas não se resolve esse rombo fiscal com uma canetada. A maioria do Congresso, e não apenas em complexas matérias econômicas, pratica sua visão franciscana do “é dando que se recebe”. Aliados já ameaçam atrapalhar a discussão do ajuste no Orçamento e pretendem pressionar o governo para cobrar cargos e verbas. Por sua vez, o senador Humberto Costa (PT), líder da minoria, quer destinar recursos remanejados para áreas sociais e de investimentos.

É mais turbulência à vista. No meio da tentativa de retomar a reforma da Previdência, o governo aposta num novo lote de concessões, usa Meirelles como fiador prolongado (e já desgastado) do mandato-tampão e toca o barco até que o ano acabe (e adie o pesadelo de afastamento de Temer antes da eleição). Jucá não espera dias de Sol: “Claro que temos que votar reformas e outras matérias, porque esse quadro só vai melhorar no momento que houver crescimento econômico e aumento de arrecadação”.

Em caráter irreversível

Mesmo em ano pré-eleitoral, a Assembleia anda um marasmo só. Sem grandes projetos em pauta e num clima de absoluta maioria governista, nem Theodorico Ferraço (DEM), neo-opositor “assumido e em caráter irreversível” de Paulo Hartung, consegue sacudir a Casa. Ele evita derramar sangue verbal. “Estou na idade de não ouvir mais conversa, quero é definição. Sou um opositor aguardando 2018; a partir de janeiro, candidatos a governador e a senador vão se definir. Quem colocar a cabeça para fora agora vai ter a cabeça cortada”, avisa.

Novo amigo de infância

Hoje circunscrito a um grupo de seis deputados, Theodorico estende a mão amiga a Renato Casagrande: “Tenho o maior prazer de me unir a Renato, estamos no mesmo barco de oposição ao governo. Quem mais encarna a oposição é ele, mas disputar o governo é decisão pessoal”, diz o deputado, negando que infle o socialista para tirá-lo do caminho da reeleição do filho Ricardo no Senado.

A conta dos bilhões

A briga do distritão já teve um efeito colateral: reduzir os R$ 3,6 bilhões do fundão público que bancará campanhas. “O fundo não terá valor e fonte definidos, e sim receitas hoje já destinadas aos partidos”, diz Lelo Coimbra, de olho na chance de o STF reabilitar doações empresariais e permitir um sistema misto. A Câmara terá de se virar na solução: segundo Ricardo Ferraço, de jeito nenhum os R$ 3,6 bilhões passam no Senado.

Meta é palanque de Ciro

Chefe de gabinete de Sérgio Vidigal, Weverson Meireles foi eleito novo vice-presidente nacional da Juventude do PDT.

Próximo a César Colnago, Vandinho Leite pode ser o novo secretário-candidato a ser abatido pela gula eleitoral dos deputados que rifaram Max da Mata. “Vão partir para cima”, teme um governista.

Está rendendo o movimento do PSD para filiar Erick Musso, que se reuniu com a cúpula do partido. O PMDB terá que dividir o fundo com dezenas de candidatos.

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