Letícia Gonçalves

Repórter de Política

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Nazistas de esquerda?

Brasil tem sido terreno fértil para a proliferação de uma tese curiosa


Nazismo de esquerda?
Nazismo de esquerda?
Foto: Amarildo

É curioso que um país como o Brasil, em que os nomes dos partidos dizem pouco ou quase nada a respeito de seu espectro político – quando têm algum –, tenha sido terreno fértil para a proliferação de uma tese ainda mais curiosa: o nazismo é de esquerda. E um dos principais argumentos utilizados nas redes sociais, sempre elas, é, justamente, o nome do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. A presença da palavra “socialista”, por si só, foi suficiente para incitar a ideia.

Ora, seguindo a mesma lógica, deveríamos supor que a Coreia do Norte, oficialmente República Popular Democrática da Coreia, é um exemplo de democracia. Ou que o cavalo-marinho é um cavalo (com hábitos estranhos?) e não um peixe.

“Os nazistas viram no partido uma importante ferramenta de marketing político. O ‘socialista’ vinha conjugado ao ‘nacionalista’, era o nacional-socialismo. Um não existia sem o outro”, diz Izidoro Blikstein, professor de Linguística e Semiótica da USP e especialista em análise do discurso nazista e totalitário. Mas daí a se solidarizar com os socialistas ou comunistas vai um longo caminho, que não foi percorrido. “Nos campos de concentração nazistas os judeus eram identificados com uma estrela amarela. Quem era judeu e homossexual tinha uma estrela rosa. Quem era judeu e comunista, uma estrela vermelha”, conta Blikstein.

Os nazistas tinham uma peculiaridade. Apesar da intenção de unir o povo alemão, essa era uma união excludente. Um dos pilares centrais era o racismo, a ideia de que haveria seres humanos biologicamente superiores a outros. Os seguidores de Hitler decidiram, abarcando uma série de teorias em voga desde o século XIX, que o povo alemão era o que estaria em primeiro lugar no pódio da evolução da espécie. Já às “antirraças” caberia o extermínio.

“O nazismo foi uma escola de ciência política que tinha como alvo preservar o ‘ariano’ e eliminar as ‘antirraças’, os africanos, os ciganos, os semitas. Está muito além das ideologias de esquerda ou direita, é uma escola de terror”, crava o professor da USP.

Outra “prova” do nazismo de esquerda – de acordo com os “filósofos” da contemporaneidade na internet – seria o tamanho do Estado sob o regime capitaneado por Adolf Hitler. Um período marcado por forte intervenção na economia e no que mais fosse possível. Geraldo Antonio Soares, professor da Ufes e doutor em História e civilizações, lembra que há, realmente, uma “semelhança considerável” entre os comunistas soviéticos e os nazistas no aspecto da sociedade totalitária, do partido único e de uma ideologia onipresente. A forma pela qual os dois decidiram revolucionar a sociedade, no entanto, é que difere.

“Os nazistas são de extrema-direita. Não há dúvida”, afirma Soares. Ele avalia, ainda, que posicionamentos recentes no país podem ter contribuído para dar força à “confusão” de conceitos: “Me causa estranheza a atual presidente do PT (Gleisi Hoffmann) divulgar uma nota apoiando o regime venezuelano, como se lá fosse de esquerda. A Venezuela caminha para ser uma ditadura, mas tem a pretensão de representar a esquerda no século XXI. Isso contribui para essas manifestações na internet”.

Os tempos são de extremistas políticos à espreita de uma oportunidade, inclusive no Brasil. Mais do que se ocupar da batalha “quem pariu Mateus que o embale”, os adeptos da pós-verdade deveriam cuidar para não repetir os erros do passado.

“Ma oeeee”

Em tempos de João Doria, Luciano Huck e Amaro Neto, o governador Paulo Hartung comentou, em discurso na semana passada, em tom nada elogioso: “Os EUA colocaram na presidência um, um ... (pausa) um apresentador de auditório!”.

Túnel do tempo

O PMDB tenta resgatar a aura do velho MDB ao apenas eliminar o “P” do nome do partido. Também houve quem tentasse fazer renascer a Aliança Renovadora Nacional (Arena). Mas o TSE negou o registro por falta do número mínimo de assinaturas de apoio necessário ainda em 2014. Enquanto isso, o ex-presidente do PRP estadual Marcus Alves, acusado de rachid, tenta recriar a União Democrática Nacional (UDN).

No púlpito todo domingo

Não somente evangélicos invadem a política para legislar. Padres de cidades como Vila Velha e Cachoeiro estariam com planos de candidatura a deputado em 2018. O Podemos já tenta arrebanhar essas filiações.

Teto x reajuste

O juiz Sérgio Ricardo de Souza, auxiliar da Corregedoria Nacional de Justiça, diz que não é contra pôr freio aos chamados “supersalários”, como propõe o governo federal. Mas com um senão: “Pode-se sim discutir os parâmetros (para o cumprimento do teto salarial). Mas que se cumpra a revisão anual prevista na Constituição”. As entidades de classe bem que tentaram, mas o próprio STF decidiu não incluir na proposta orçamentária o reajuste de 16,4% aos salários da magistratura.

 

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