Rondinelli Tomazelli

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O banho de loja do DEM

Confira a coluna Praça Oito desta sexta-feira, 18 de agosto


Praça Oito
Praça Oito
Foto: Amarildo

Em tempos de “salve-se quem puder” em Brasília, não é só o PSDB que tenta se reinventar em meio aos escombros da política. Dez anos após aposentar o nome PFL (Partido da Frente Liberal), o Democratas está preparando um novo banho de loja para escapar do ostracismo e se apresentar ao eleitor como um projeto alternativo na corrida presidencial de 2018.

Presidente nacional do DEM, o senador José Agripino Maia (RN) detalha à coluna um plano que reposiciona o partido no chamado “centro” do espectro político, tentando vestir um novo figurino que apoie o fomento ao empreendedorismo; as liberdades individuais; a gestão pública profissional; reduza o papel do Estado; e evite um confronto grave entre o que ele chama de “extrema esquerda e extrema direita” no Brasil.

“O centro é isto, é acabar com uma coisa que o Lula estimulou e que a gente não pode permitir. Que uma extrema direita, por exemplo um Jair Bolsonaro, se coloque do outro lado para fazer o conflito dentro da sociedade brasileira, conflito que nunca existiu e não podemos deixar que exista”, define.

O experiente senador mira o que o presidente Emmanuel Macron faz na França como modelo de um “projeto centrista moderno para o Brasil”. No fundo, esse banho de loja também é uma tentativa de surfar no desgaste da polarização PT-PSDB, alvejados pela Lava Jato em igual proporção. Agripino, aliás, também é investigado na operação.

“Veja bem, se você deixar que o Brasil fique surfando entre duas opções de extrema direita e extrema esquerda, não vai ter mais paz entre brasileiros. Dentro de avião vai ter discussão pelo debate ou pela defesa de suas ideias, que são diametralmente opostas e conflitantes”. O estímulo a uma sociedade radicalizada não levará a lugar nenhum, frisa: “Do contrário, se você estimula ideias de centro, da valorização das capacidades das iniciativas, do equilíbrio, do diálogo como forma de resolver problemas, aí você reencontra o país com seu equilíbrio”.

A reestruturação da sigla - criada no fim da ditadura como uma ruptura dos pefelistas com o regime militar - está sendo tocada por Agripino, Ronaldo Caiado (que todo dia posa de presidenciável no Senado e cutuca o governo Temer), ACM Neto, Efraim Filho e Rodrigo Maia, que até convidou Paulo Hartung a se filiar. João Dória também está na mira da sigla, disposta a lhe garantir legenda para tentar o Planalto.

Outrora o maior sustentáculo dos governos de Fernando Henrique, abrigando caciques com mão de ferro Brasil adentro, o DEM há anos é visto como linha auxiliar do PSDB nacional. Ficou com a imagem associada à direita e ao pensamento conservador, não tendo presença orgânica nos debates nacionais e nem militância aguerrida na sociedade. O estouro do Mensalão do DEM em Brasília, em 2009, arruinou a sigla, que hoje ostenta sua maior vitrine na bem avaliada gestão de ACM Neto em Salvador.

Agripino, aliás, cita o governo do aliado baiano ao definir esse papel centrista: “Centro é a valorização do cidadão, é a oportunidade que as pessoas gerem seu próprio emprego sem mendigar o que quer que seja a ninguém, é qualidade da gestão pública para que o cidadão seja protegido pelo político, e não o político use da gestão em seu próprio benefício”.

Nas contas do senador, o DEM “cresceu bastante”, de 21 para 32 deputados federais nesses dois anos. E pode ganhar fermento nos próximos meses, se confirmada a adesão de dissidentes do PSB e outras legendas. Será uma recuperação de terreno, seis anos após Gilberto Kassab criar o PSD e abrigar, na nau governista de Dilma, dezenas de políticos do DEM. Em 2011, a bancada democrata definhou na Câmara: seus parlamentares estavam asfixiados há anos na oposição, sem acesso à máquina do governo.

Era hora de reagir, porque novos fatores alertaram para o risco de aniquilamento: o surgimento de discursos radicais e populistas na linha Bolsonaro, misturados a fanatismos e a bancadas sectárias, além do próprio “Centrão” da Câmara. Tudo isso deslocou ainda mais o DEM para as margens do protagonismo.

No papel, a ideia pode agradar e soar arejada. Falta só combinar com a torcida e convencer a sociedade de que nasce o novo sobre velhos costumes. E falta combinar também com os diretórios regionais, porque Agripino deixa bem claro que só entrará no novo DEM quem tiver “aceitação plena” da Executiva de cada Estado. Ou seja, novas filiações não podem ameaçar quem está no comando. 

Tema Hartung irrita

Abordado pela coluna, no Senado, para conversar sobre a reestruturação do DEM, Agripino Maia se irritou e logo perguntou: “Você está querendo perguntar negócio de Paulo Hartung, não é isso? Não é por aí, não vou falar sobre isso, não”. A aliados, o senador teria dito que não há convites, mas possibilidades que podem se firmar lá na frente.

Mar revolto no ES

Junto a Lelo Coimbra, os prefeitos de Guarapari, Marataízes e Anchieta se reunirão na quarta com o ministro da Integração. Vão entregar projetos para recuperar áreas destruídas pelo avanço do mar. Rose de Freitas destravou R$ 1,5 milhão no Ministério das Cidades para obras na orla atingida de Meaípe.

Previdência preocupa

No TCES, há gente dizendo que a previdência estadual, mesmo com as contas públicas do governo saneadas, pode vir a dar problemas contábeis em abril.

100% de impopularidade

Magno Malta perdeu a paciência ao saber que o governo reduziria a previsão para o salário mínimo em R$ 10. “O presidente criou uma competição de Temer contra Temer, ele quer chegar a 100% de impopularidade. É aterrador só de ouvir essa notícia. Alguém o alerte”.

Detectores da discórdia

A pedido da OAB-ES, o Tribunal de Justiça suspendeu, nesta quinta-feira (17), o uso de detectores de metal manuais nos fóruns. “Em outros tribunais há o controle, mas por pórticos e equipamentos de raio-x. Hoje se exige que o advogado abra os braços e as pernas para ser averiguado”, reclamou a vice-presidente da OAB, Simone Silveira. O desembargador Pedro Valls Feu Rosa pediu revogação total da resolução sobre segurança na entrada de pessoas nas dependências do Judiciário, mas a decisão foi adiada. 

Homero Mafra bateu pesado no governo ao apontar crime de abuso de autoridade na operação policial que cercou o bairro Jesus de Nazareth, em Vitória. Pode vir mais chumbo por aí. 

Emenda de Sérgio Vidigal a uma medida provisória tenta elevar a 20% os royalties pagos por mineradoras a cidades exportadoras de recursos minerais, como a Serra. Os municípios produtores recebem 45% da CFEM.

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