Rondinelli Tomazelli

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O voo solo de Doria

Confira a coluna Praça Oito desta quarta-feira, 23 de agosto


Praça Oito
Praça Oito
Foto: Amarildo

Enquanto seus adversários se dividem entre preparar candidatura e se defender da Lava Jato na Justiça, João Doria toca uma maratona de viagens pelo Brasil com a vantagem de quem não deve satisfações a padrinhos políticos. Aceitando convites que vão de batizado a casamento, o prefeito paulistano cumpre um papel até natural de marchar o país e marcar posição, tentando se cacifar para a disputa presidencial de 2018. Claro que a sucessão de Temer é uma incógnita, mas, mesmo que negue, Doria chega hoje ao Espírito Santo com roupa, cara e estandarte de candidato a presidente.

O que o tucano tem em mãos é o prestígio de quem controla a maior prefeitura do país e ganha musculatura para rivalizar com figuras populares como Lula. É essa arma que o prefeito vai explorar cada vez mais a partir de agora, forçando, inclusive, o PSDB a sair do muro e definir quem será seu candidato ao Planalto. Com a linha de frente do tucanato abalada por investigações - e dividida quanto a chegar em 2018 com o carimbo de principal aliada do combalido governo Temer -, o prefeito ainda aproveita para botar o pé na porta e cobrar Tasso Jereissati a antecipar as eleições do diretório nacional. Com isso, Doria quer reduzir a sangria do partido, mas também aproveitar a maré a seu favor.

Além disso, ele se aproxima de parlamentares e governadores tendo outros fatores favoráveis dentro da disputa de poder no tucanato paulista. Mais acuados depois de terem sido arrolados na Lava Jato, Geraldo Alckmin e José Serra evitam antecipar movimentos abertos para 2018. Serra, aliás, saiu do Itamaraty alegando doença e voltou ao Senado ainda mais silencioso e com aparência abatida. Tido até esta terça-feira (22) como sopro de renovação no partido, Aécio Neves virou o tucano mais encrencado na Lava Jato, o que deixou esse vácuo do “novo” nas mãos de Doria, hoje ainda mais à vontade para enfrentar os “cabeças-brancas” do partido - como FHC (que vive o alfinetando).

Aliás, o prefeito sabe que barreiras a seu nome começam no próprio PSDB, mas não pretende se curvar a desafetos. Tanto que, agora, prega a conciliação da sigla em nome do único consenso interno: as reformas amargas que o governo Temer mantém, como prioridade, para tirar o país do atoleiro da recessão e recolocá-lo nos trilhos do crescimento.

Em paralelo, suas viagens em caravana Brasil afora reforçam uma articulação pessoal, longe das cúpulas e junto a caciques regionais que podem ser cruciais numa convenção partidária e nas coligações em 2018. Ademais, Doria precisa sair da bolha paulistana e se tornar conhecido no país, o que Lula já faz há décadas. E, se quiser recall e votos em quantidade, precisa também esticar seu raio de influência para além da tradicional elite financeira afinada ao PSDB.

O prefeito exibe treino de comunicação, demonstra articulação e mede o peso de cada declaração. É hábil em passar recados no subtexto das entrevistas; vai sempre elogiar lideranças regionais que corteja; e sabe usar e abusar da simpatia e da diplomacia. Ao declarar apoio integral à Lava Jato, lava as mãos para colegas investigados e deixa claro que está com a ficha apresentável - e bem longe desse arrastão. Seu outro filão de bom desempenho é direcionar ataques a Lula e colar no petista o selo de corrupto. E nisso o tucano ganhou ajuda dos próprios movimentos “de esquerda”, que acabam por promovê-lo a um “anti-Lula”, condição em que ganha terreno frente à também grande rejeição ao petista.

Como foi eleito num fenômeno que nem o PSDB apostou ou soube explicar em São Paulo, Doria chegou à prefeitura surfando na onda de gestor técnico advindo da iniciativa privada. A essa altura, ele já dificulta a vida de caciques que queiram cobrar recuos como fatura de um apoio que não recebeu a contento em 2016. Mas toda essa aura de renovação que ecoa na política brasileira não amolece as duras paredes do PSDB, onde há restrições fortes à sua desenvoltura. José Anibal mesmo chegou a dizer que Doria tem é que cuidar dos buracos da cidade.

O prefeito não é unanimidade, foi associado negativamente a uma “direita” antiquada e estaria sentando na janela antes de se firmar na política. Verdade que o tempo gasto em viagens pelo país já foi cobrado dele, acusado de não priorizar a administração de tão complexa cidade. Ele negou negligências, mas sabe que isso “colou” na rua e que será alvo de ataques, inclusive os de fogo amigo. A demissão de servidores que denunciaram corrupção também provocou suspeitas.

Por outro lado, é também um fato que o PT não tem o que comemorar em São Paulo, onde tombou em derrotas históricas nas ultimas eleições ao governo e à prefeitura. Portanto, o vento sopra hoje a favor de Doria, até se perder para outro tucano a cadeira de presidenciável em 2018: um arranjo interno pode conduzir o prefeito ao cargo de governador, deixando-o na fila para o Planalto em 2022.

Missão Zona Franca

O governo e um grupo de empresários do Estado embarcam para o Amazonas, na próxima semana, tentando atrair ao território capixaba a instalação de empresas da Zona Franca de Manaus. Cariacica recebeu um depósito alfandegado de lá. Além de empregos, a expectativa é prospectar o maior número de empresas dispostas a operar e distribuir os produtos a partir de armazéns no Espírito Santo.

Semeando no Norte

“Vamos mostrar que temos a melhor plataforma logística para distribuir os produtos para todo o Brasil produzidos em Manaus”, diz Neucimar Fraga, coordenador da missão e subsecretário estadual de Comércio Exterior. O grupo visitará empresas e terá audiência para apresentar potencialidades capixabas no dia 30, na Federação das Indústrias em Manaus.

Aquecendo para 2018

Magno Malta traz Silas Malafaia nesta quarta-feira (23) a Vila Velha e percorrerá Cachoeiro, Guaçuí e São Mateus em audiências da PEC que acaba com a imunidade tributária de igrejas. Amigo do relator José Medeiros, Magno é contra a proposta de iniciativa popular nascida... no Espírito Santo!

Ricardo Ferraço já sabe?

Há a tendência de o Palácio estimular a dobradinha de Ricardo Ferraço e Amaro Neto ao Senado. “Foi combinado só com o Flamengo, não com a torcida, mas há a movimentação no governo de uma chapa deles, prevendo, do lado de lá, uma chapa de Casagrande e Magno Malta”, jura um governista. Trabalham dois cenários: Casagrande tenta o governo ou o Senado (aliado a Rose, se ela disputar governo).

Na aba do Palácio

“O movimento do Amaro é para valer, é candidatíssimo ao Senado. Não é que ele tenha aval do Palácio, mas são da base os deputados que o apoiam. Ele não sai da aba do Palácio mais”, diz um palaciano.

Rose de Freitas destravou R$ 37 milhões para comprar equipamentos e construir um prédio de internação no Hospital Santa Rita (especializado no tratamento de câncer). Haverá parceria com o governo do Estado.

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