Rondinelli Tomazelli

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Os planos de Gleisi no PT

A estratégia traçada por Gleisi será calcada na polarização política


Nem Fernando Haddad, nem aliança com o PDT de Ciro Gomes. Recém-empossada na presidência nacional do PT com a digital de Lula, a senadora Gleisi Hoffmann (PR) diz à coluna que o projeto principal do partido é a candidatura do ex-presidente ao Planalto em 2018. E essa meta, salienta a parlamentar, se sobrepõe aos arranjos e composições para as chapas regionais no ano que vem - inclusive no Espírito Santo. No subtexto, entende-se que pode ser cobrado algum sacrifício local, diante do desafio maior de se agarrar ao personalismo de Lula para voltar ao poder federal e tirar o partido de uma crise histórica.

Nesse projeto, a estratégia traçada por Gleisi será calcada na polarização política, comparando o legado do petista no campo social à crise amargada pelo país com a ascensão de Michel Temer à cadeira de Dilma, derrubada pelo impeachment de 2016. “Com certeza o projeto de candidatura de Lula e do PT em 2018 são maiores que as composições locais. Nós não temos dúvida nenhuma disso. Nós temos um projeto para o Brasil que não se submete a composição local”, avisa Gleisi.

Combativa no Senado a ponto de patrulhar os discursos do PSDB, defender o governo do PT com unhas e dentes e depois chegar à Casa Civil de Dilma, a senadora hoje enfrenta dificuldades para reeleição, e estaria cogitando disputar uma vaga de deputada federal no Paraná, onde o juiz Sérgio Moro comanda a Lava Jato.

É o mesmo Moro que a petista, também ré na Operação, tenta combater no campo político – no qual Lula ganha terreno e tenta desqualificar a condenação num dos processos em que é réu nas mãos de Moro. Gleisi chega a chamar a eleição de 2018 de “fraudulenta” caso Lula seja barrado por uma condenação “sem provas” (leia entrevista abaixo). “Seria uma fraude porque a condenação dele é uma condenação sem prova, então não tem base jurídica. E nós estamos questionando isso”, reitera.

Combalido pela queda traumática de Dilma e pelo leque de ex-dirigentes presos e condenados, o PT não adota discurso de autocrítica. Para Gleisi, o recall saudoso dos anos dourados da era Lula, marcado pela elevação de renda que melhorou a vida da população, falará mais alto na hora do voto, independentemente de “convencimento verbal”.

Aliás, essa tarefa de convencimento mais pragmático já começou no Congresso. A tropa de choque da oposição, formada pelo PT com auxílio de PCdoB e PSOL, surfa nos insucessos de Temer e tentar seduzir os ouvidos de um eleitorado exaurido pela corrupção generalizada. Se vai funcionar, só o tempo – e a Lava Jato nas Cortes superiores – dirão.

Entrevista

“Lula é o nosso candidato. Uma eleição sem ele é fraudulenta”

Gleisi Hoffmann (PT-PR)

Presidente nacional do PT e senadora

Como o PT vai se apresentar em 2018, diante de dificuldades políticas, de Lula réu em processos, da Lava Jato e do desgaste do partido?

Em relação a 2018, o Lula é o nosso candidato! Nós não temos plano B, nem C, é ele (Lula)! E achamos que uma eleição sem Lula é uma eleição fraudulenta. Portanto, Lula continua nosso candidato. É um dos líderes mais populares da nossa História e o presidente que mais tem apoio popular; então, não tem justificativa para impedirem o Lula de ser candidato.

E como o PT vai convencer o eleitor que entende que PT e PMDB eram sócios até ontem, o eleitor que tem descrédito geral por todos os partidos, inclusive o PSDB?

Nosso discurso de campanha fala do que nós fizemos e compara com o que está aí. Nós tivemos um governo que aumentou renda, que distribuiu renda, que melhorou a vida do povo brasileiro, que fez investimento.

Não é um discurso que só prega para um eleitorado cativo, que não se amplia?

Esse governo Temer está cortando renda, cortando salário mínimo, fazendo voltar a fome ao Brasil. Então, as pessoas estão comparando o que era Lula e o que é agora. E é por isso que o Lula está na frente nas pesquisas de opinião, porque as pessoas não querem convencimento verbal, oral: elas se convencem pelo que elas viveram, vivenciaram.

Isso superaria a própria rejeição que Lula tem nas mesmas pesquisas?

Tanto supera que, apesar de Lula ser mais perseguido e injustiçado, ele está na frente nas pesquisas.

O PT já tem plano de governo de Lula pronto, eixos estratégicos. Como vai trabalhar isso com os diretórios locais?

Primeiro, o partido tem que oferecer um plano ao país, independentemente da política eleitoral. Nós temos saídas para o Brasil, já governamos o Brasil e queremos oferecer um plano de longo prazo, não só do ponto de vista eleitoral de 2018. Então, a Fundação Perseu Abramo, que é a nossa fundação de estudos, está coordenando um projeto, do qual o presidente Lula está participando também. É um movimento em favor do Brasil. Tem os eixos estratégicos, vai ter uma plataforma virtual para as pessoas poderem contribuir e participar. E a Fundação, junto com o Diretório Nacional, vai incentivar e organizar essa discussão com os diretórios estaduais.

Majeski lança voo

Sérgio Majeski volta a se reunir com a Rede na próxima semana, mas também analisa convites tentadores de outros partidos para disputar o governo e o Senado. Não bateu o martelo, embora continue alijado pela cúpula tucana, que nada mais lhe oferece senão uma reeleição na Assembleia – chance não descartada, aliás. De todo modo, um grupo de tucanos lança uma semente para que o deputado saia candidato ao governo, puxando uma ala independente do PSDB para fora da alça de Hartung em 2018.

Alijado pela cúpula

“Não tenho conversado com ninguém do PSDB sobre 2018. Minha possibilidade de candidatura a governador ou a senador não está atrelada ao PSDB, do qual sempre tenho desconfiança, não sei se vai para o colo da Hartung no ano que vem”, diz Majeski. Ele assim define a previsível Assembleia: “Como sempre, uma extensão do Palácio Anchieta, e, com a nova Mesa Diretora, mais ainda”.

O que sobrar da reforma

Líder da Maioria, Lelo Coimbra diz que a reforma da Previdência vai ser votada este ano. É meta do governo, mesmo que o parecer de Arthur Maia esteja sob ameaça de ser esvaziado em plenário. “Não sei o que vamos votar, mas a ideia é partir do que está no relatório aprovado. Temos que enfrentar esse tema”. Outra meta, diz Lelo, é rever o relatório do Refis - que ficou aquém do valor arrecadatório estimado pelo governo e ofereceu um pacote generoso de perdão a grandes devedores de imposto.

“É roubo mesmo”

Autor da proposta do distritão que sacode a Câmara, Miro Teixeira defende a volta do financiamento empresarial. Para ele, existe corrupção porque existe corrupto, existe roubo porque existe ladrão: “Sustento o financiamento privado. Não se pode confundir financiamento eleitoral com corrupção. O que vemos na Lava Jato é apropriação de dinheiro, é roubo mesmo. Apanhado, o ladravaz diz que era para campanha eleitoral, mas, se cruzar dados da campanhas com o volume de dinheiro, vai se ver que não é nada disso, que o dinheiro é para uso próprio e de seus luxos”.

"Vicente Cândido (PT-SP) atrasou a comissão da reforma política por dois anos na Câmara, e fez um primeiro parecer exatamente para que não passasse. Agora, misturaram tudo e ninguém escapa do desgaste”, lamenta um deputado descrente.

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