Rondinelli Tomazelli

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PT rachado no Espírito Santo

Confira a coluna Praça Oito desta quarta-feira, 16 de agosto


Praça Oito
Praça Oito
Foto: Amarildo

Enquanto os recursos de Givaldo Vieira prosseguem fora do radar do comando nacional do PT, João Coser já trabalha dando como irreversível sua recondução ao comando regional do partido. Além de correr atrás da meta de filiar 10 mil pessoas em massiva campanha até junho, o dirigente viaja o Estado preparando 13 encontros regionais para pavimentar o programa presidencial de governo de Lula - o plano A dos petistas em 2018. Com sete eixos temáticos, o programa já tem até nome: “Brasil em movimento”.

Ex-prefeito de Vitória e ex-secretário de Paulo Hartung, Coser passa por cima do racha interno e toca o barco normalmente, já articulando a vinda de Lula ao Espírito Santo até dezembro – provavelmente dando uma esticada na visita a Minas Gerais, onde o ex-presidente deve chegar depois de percorrer o Norte e o Nordeste. Figura mais poderosa do PT capixaba, Coser também já conversou com a nova presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e com outros dirigentes nacionais, sinalizando indicativos de permanência na presidência local.

Só que o clima interno no PT está para lá de azedo, e o ex-prefeito não conseguiu nenhum realinhamento pós-ruptura. Se não cicatrizar as feridas, terá tido uma vitória com cheiro de derrota, sintoma já apontado em sua inicial terceira colocação na eleição do diretório. “Não há ambiente para diálogo. O PT está rachado. Nunca houve no PT do Espírito Santo algo tão grave, com testemunhas que afirmam terem recebido ofertas. Querem o poder a qualquer custo”, diz um aliado de Givaldo, derrotado no processo de eleições.

Integrado por petistas históricos como Iriny Lopes, Claudio Vereza e Perly Cipriano, o grupo derrotado recorreu a Gleisi questionando a eleição e denunciando compra de votos, mas a própria senadora ainda nem constituiu a comissão nacional de ética – que teria autonomia e depende de acordos com as correntes ideológicas nacionais. Gleisi tampouco escalou a comissão política que viria a Vitória apurar a denúncia e tentar intermediação para pacificar a guerra.

“Não reconhecemos o resultado, mas eles se apressaram e tomaram posse, e nós não indicamos ninguém. Coser está com meio diretório. Não deram mais notícia e tentam fazer agenda para parecer que tudo está normal”, critica Givaldo. Na verdade, radiografa antigos problemas essa fratura exposta num partido de 23 mil filiados no Estado. Givaldo hoje representa um núcleo mais orgânico que exige a declaração explícita de oposição ao desafeto Hartung, apontando que a recente saída do PT do governo deste foi um faz-de-conta quase ginasial.

Segundo críticos, Coser também inflou o PT local com estratégias pragmáticas e fisiológicas, o que encurralou dissidentes que hoje recuperam força. Só que a fatura do desgaste chegou alta. Sem quadros experientes com grande musculatura nem lideranças novas com potencial eletivo, o PT nem debate candidaturas majoritárias para governo e Senado. Com a sobrevivência nacional na linha de frente, o foco de Coser é sintomático: assegurar palanque para Lula, ameaçado de inelegibilidade pela condenação em um dos processos que carrega nas costas.

Essa disputa se estende às chapas proporcionais de 2018. Escaldado pela derrota na corrida do Senado em 2014, Coser é pré-candidato a deputado federal, batendo de frente com os ex-aliados e aspirantes à reeleição Givaldo e Helder Salomão, alinhados contra seu grupo majoritário. Como o PT enfrenta forte rejeição nacional e resistências em cidades ricas como Vitória, as dificuldades de recuperar terreno e conquistar cadeiras no Legislativo aumentam exponencialmente nessas implosões internas.

“Eles (Givaldo) estão conversando, mas não muda nada por aqui. Não indicaram os membros para direção com o argumento da presença do PT no governo, que já não existe mais”, frisa fonte do entorno de Coser. Já Gleisi teria dito o seguinte a Givaldo: que compreende a crise política local; que cumpriria as decisões de constituir a Comissão de Ética nacional e de enviar uma comissão política ao Estado; e que não aceitaria o rompimento falso com Hartung.

Por ora, o tempo corre a favor de Coser, o que mergulha as bases do PT em profunda crise de identidade. Impondo sua digital nos municípios, o presidente regional também vai constituir 22 comissões provisórias em cidades que não fizeram eleição direta. Ele continua com sua relação pessoal com Hartung, mas reconhece que o PT quer seguir para outros caminhos em 2018, bem longe das garras palacianas. No entanto, como o cenário de sucessão estadual ainda está incipiente, não há inimigo externo escolhido pelo PT mais aguerrido: a briga é mesmo dentro do quintal, onde o espírito de decisões engajadas e coletivas parece ser o primeiro entre os mortos e feridos.

Aécio na Lava Jato

Já à vontade no Senado apesar do pedido de prisão, Aécio Neves apareceu na recente reunião do PSDB em Brasília. “Ele admitiu que, nesse momento, não é a pessoa mais adequada para comandar o partido e que sua prioridade é concentrar-se na própria defesa na Lava Jato”, conta Ricardo Ferraço. Aécio declarou não haver melhor nome que Tasso Jereissati para reconstruir o partido. Contam a favor do senador e empresário cearense o perfil diplomático e agregador, além da experiência de governador.

Não falam mesma língua

Nas contas de João Coser, aumentaram as filiações locais ao PT local em função do desastre político e das reformas amargas do governo Temer, que herdou do próprio PT o ônus de ser governo. Já Givaldo Vieira atesta justamente o contrário: diz que seu grupo fez mil apelos para evitar uma debandada de filiados desiludidos pela “eleição ilegítima”.

Saudades de Brasília

César Colnago comunicou ao presidente regional do PSDB, Jarbas Assis, que será candidato a deputado federal em 2018. A única definição majoritária do partido é a reeleição de Ferraço ao Senado.

Jurisprudência Hartung

Parlamentares já veem uma espécie de jurisprudência no arquivamento da acusação contra Hartung na delação da Odebrecht. O governador havia sido apontado como coordenador de repasses irregulares para campanhas de aliados. “Essa decisão indica um entendimento da Justiça pela separação dos casos. Os que envolvem caixa dois vão ser tratados de forma diferente e mais branda, até porque pegaria o Congresso inteiro, eleito com uso de caixa dois. Outro tratamento terão os casos de denúncias sobre direcionamento de licitações e sobre extorsão por parte de políticos a empresas que contratam com o poder público”.

Rose de Freitas presidirá a Comissão Mista da Medida Provisória que autoriza a desapropriação de imóveis em 7,5 km da BR 101 em João Neiva, para as atrasadas obras de duplicação da rodovia

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