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Disputa ou consenso no PSDB-ES?

Confira a coluna Praça Oito desta quarta-feira, 20 de setembro


Praça Oito
Praça Oito
Foto: Amarildo

O senador Ricardo Ferraço foi anfitrião de uma conversa, na noite da última segunda-feira, que começou a definir o futuro do PSDB no Espírito Santo. Em seu gabinete parlamentar em Vitória, Ferraço recebeu o atual presidente estadual do partido, Jarbas de Assis, o vice-governador César Colnago e o prefeito de Vila Velha, Max Filho. Na conversa, tanto Colnago quanto Max confirmaram ter interesse em suceder Jarbas na presidência do PSDB no Espírito Santo. Se ambos concorrerem, o partido terá uma disputa interna que pode expor ainda mais as divisões crescentes desde 2014.

A disputa entre Max e Colnago pode não se concretizar, porém. O próprio Jarbas de Assis – que encerra o segundo mandato e não pode disputar a reeleição – afirma que fará de tudo para produzir uma chapa de consenso que reúna Max e Colnago. Segundo Jarbas, o objetivo prioritário é compor uma chapa que tenha um dos dois como candidato a presidente, com o apoio do outro. Nesse caso, Max e Colnago terão que se entender e um deles vai ter que ceder.

Se isso não for possível, Jarbas admite uma segunda alternativa: para evitar uma luta interna, o nome do ex-senador Ricardo Santos ganha força para encabeçar uma chapa consensual que poderia unificar todos os lados do fragmentado ninho. Santos é tucano orgânico, faz parte da direção estadual desde 1993, tem perfil conciliador e transita bem entre Colnago e Max, de quem hoje é secretário de Planejamento, em Vila Velha.

“Ricardo Santos é amigo do César e trabalha com o Max. Seria com certeza um nome de confiança dos dois. É um nome muito bem visto por todos os lados possíveis do partido. O melhor para o PSDB é um nome forte politicamente na presidência, mas o Ricardo vem surgindo como uma opção, por ser uma pessoa querida e experiente. Com certeza é um nome que pode agradar a qualquer lado, então pode ser uma solução, sim, mais para a frente. De todo modo, o que procuro é um consenso”, revela Jarbas.

Segundo o dirigente, a reunião de segunda-feira fortaleceu mesmo a hipótese do entendimento. “Tanto o Max como o César reafirmaram o interesse em dirigir o partido, mas o clima foi cordial. Não há clima de disputa hoje e não haverá duas chapas. Se isso acontecer, vou me sentir derrotado. É hora de continuar crescendo. Não é hora de disputa.”

O atual presidente procura fixar a ideia de harmonia, mas, mesmo que consiga viabilizar a tão sonhada chapa de consenso, isso não significa necessariamente falta de disputa. Ao contrário, em vez de partirem para um enfrentamento na convenção, marcada para 11 de novembro, Max e Colnago podem travar uma disputa preliminar, nos bastidores, justamente pelo posto na cabeça da “chapa de consenso”. E o resultado dessa luta pode ser decisivo para o projeto eleitoral de Colnago e para as articulações do governador Paulo Hartung mirando 2018.

Jarbas fala de uma chapa com Max ou Colnago na cabeça como se os dois nomes se equivalessem e como se ambos tivessem os mesmos perfis e compromissos. Não é bem assim. Ao contrário, há enorme diferença entre um PSDB comandado por Colnago (bem mais confortável para Hartung) e um PSDB liderado por Max (muito mais independente do Palácio Anchieta).

Na campanha de 2014, foi Colnago quem, então na presidência do PSDB, conduziu a aliança do partido com Hartung e o ingresso dos tucanos no governo após a vitória da chapa Hartung-Colnago. De lá para cá, a relação da Executiva estadual do PSDB com o Palácio Anchieta só se desgastou e hoje não é exagero dizer que, se os tucanos ainda estão oficialmente no governo, é basicamente porque têm Colnago na Vice-Governadoria.

Setores da direção do PSDB estão irritados com o tratamento de Hartung ao partido e se ressentem da postura de Colnago na eleição de 2016. Max pode canalizar essas insatisfações dos correligionários. O vice-governador já enfrenta focos de resistência interna. Se perder de vez o controle da legenda, a reedição do alinhamento com Hartung fica ainda mais incerta, o que significa que o governador vai ter que se sentar para conversar com o novo comando do PSDB. E uma coisa é conversar com Colnago, aliado fiel e histórico; outra é conversar com o imprevisível Max Filho.

Eleição esquenta

No dia 30 de setembro, a Executiva estadual do PSDB vai promover uma reunião com os delegados tucanos que participarão da convenção do partido no dia 11 de novembro. Ricardo Ferraço ficou incumbido de convidar uma estrela nacional da sigla. A prioridade é trazer o presidente nacional, Tasso Jereissati.

“Espelho meu”

O presidente estadual, Jarbas de Assis, rasga elogios a Ricardo Santos como alternativa à sua sucessão, se Max Filho e César Colnago não se entenderem. “É um nome como fui eu: tem perfil técnico, partidário, ético e agregador.”

“Larga deu”

Por sua vez, o próprio Ricardo Santos prefere apostar em uma composição entre Max e Colnago. “O mais importante é caminharmos para um consenso que contemple todas as forças. Acho muito difícil que eu venha a ocupar a presidência, porque vai ser encontrado um consenso entre essas lideranças: ou um ou outro.”

Retrospectiva

Dirigentes do PSDB até hoje não perdoam o governador pelo esvaziamento da candidatura de Luiz Paulo e pelo apoio velado a Amaro Neto em Vitória, em 2016. Luiz Paulo acabou desistindo da candidatura, fazendo críticas indiretas à postura de Hartung. Logo depois, Hartung exonerou Ricardo Santos e Willian Galvão, dois quadros históricos do PSDB que estavam em cargos no Bandes, o que foi interpretado como retaliação.

Ressentimentos

Tucanos ressentem-se, ainda, de nunca terem sido chamados para discutir políticas públicas e de terem espaço limitadíssimo no governo. Em julho deste ano, Renzo Colnago perdeu o comando do Prodest. Hoje, o único tucano no 1º escalão é Vandinho Leite, que não tem história no partido. O próprio Jarbas se aproximou mais de Max Filho, de quem hoje é secretário de Saúde, e já mandou avisar que, em 2018, o PSDB não terá alinhamento automático com ninguém.

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