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Nó cerebral

Confira a coluna Praça Oito publicada nesta quinta-feira, 14 de setembro


Praça Oito
Praça Oito
Foto: Amarildo

A semana ainda vai pela metade e já pode ser considerada, ao mesmo tempo, uma das melhores e piores para o presidente Temer desde que ele chegou ao cargo, em maio de 2016. No saldo parcial, o presidente acumula importantes vitórias, simultâneas a grandes reveses, que prenunciam outros ainda piores.

No mesmo dia em que Gilmar Mendes afirmou que Rodrigo Janot perdeu o cérebro – em referência à guinada do procurador-geral da República no tratamento aos irmãos Batista –, veio à tona o relatório da Polícia Federal apontando Temer como o cérebro da organização criminosa formada pelo PMDB na Câmara Federal. A declaração de Gilmar, embora ofensiva, traduz uma realidade: nos dias finais de seu mandato como PGR, Janot tem a sua credibilidade posta em xeque como nunca antes em seus quatro anos no cargo. Motivo de celebração para Temer, que no entanto não pode comemorar, pois a PF e o próprio Janot, municiado pela delação arrasa quarteirão do doleiro Lúcio Funaro, preparam novas fontes de preocupação para ele. Um paradoxo de dar nó em qualquer cérebro.

Por um lado, a seu favor, Temer conta com o princípio de desmoronamento da delação da JBS; por outro, contra ele, há não só a conclusão do inquérito da PF sobre o quadrilhão do PMDB da Câmara, no qual ele é citado como beneficiário de mais de R$ 30 milhões em vantagens indevidas, como a delação explosiva de Funaro, que faz o presidente parecer o pior gângster em atividade no país.

O recuo de Janot, a prisão de Wesley Batista por ter se beneficiado da própria delação para lucrar na Bolsa, o pedido de prisão do ex-procurador Marcelo Miller, ainda que negado por Fachin... Tudo isso confirma, em grande medida, argumentos de defesa usados por Temer. Atenção: não se quer dizer com isso que ele seja inocente nem que suas condutas sejam menos graves. Apenas é preciso registrar que esse conjunto de novos fatos reforça a estratégia de Temer, concentrada, desde o início, em desqualificar a delação, os delatores, as provas produzidas por eles e o acordo extremamente leniente fechado pela PGR com os donos da J&F.

No mesmo sentido, a autoimplosão da delação de Joesley e Saud extrai a última gota de credibilidade de empresários que já não inspiravam muita. Para alegria de Temer, essa reviravolta, incluindo a suspensão do acordo de leniência com a J&F, leva junto um pedaço importante da credibilidade daquele de quem, para o sucesso de toda a persecução penal de políticos com foro privilegiado no STF, não pode pairar um grão de suspeita ou dúvida: o próprio procurador-geral. É um revés não só para a pessoa de Janot, mas também para o STF, que homologou a delação, e para a própria Lava Jato.

Tudo bem que o pedido de suspeição de Janot, feito pela defesa de Temer, foi recusado em peso ontem pelos ministros do STF. Pelo tom dado ontem, dificilmente a Corte acolherá o outro pedido, de suspensão de eventual nova denúncia contra o presidente. Na prática, mesmo que os termos do acordo com os executivos da J&F sejam revistos, dificilmente o Supremo invalidará as provas trazidas pelos delatores à Lava Jato. Entretanto, todo esse episódio deixa, no mínimo, a marca da inconsistência no trabalho de Janot. Ponto para Temer, que deve estar abafando um grito de “eu avisei”.

Como disse o mesmo Janot, “enquanto houver bambu, lá vai flecha”. Mas o que parecia ser a sua grande flecha até agora, aquela com ponta de prata, acabou se voltando contra ele, para alívio de Temer e aliados. Vitória parcial do presidente.

Ao mesmo tempo, contudo, a PF aparece com novas flechas que podem e devem abastecer o procurador-geral da República e ser usadas por ele em nova denúncia contra Temer, por formação de quadrilha: são as flechas que apontam para o presidente no centro de um organograma elaborado pela PF nas conclusões do inquérito que apura o quadrilhão do PMDB na Câmara, situando Temer como núcleo do esquemão. De quebra, a delação do novo homem-bomba, Funaro, faz a de Joesley parecer uma bombinha, incluindo informações sobre propinas, propinas e mais propinas... em benefício de Temer e seu grupo.

No jogo político, assim, Temer está dando um passo importante para a frente. Mas, simultaneamente, é acossado por novas ameaças que podem forçá-lo a retroceder dois passos ou mais no tabuleiro.

Gastos com publicidade

O presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (PMDB), admite que a Casa pode voltar a gastar com publicidade em 2018. Ele considera incluir recursos para essa finalidade no orçamento do Poder no ano que vem. “Pode ser. Podemos pensar em colocar uma especificação (orçamentária) bem básica. Não posso pensar em ampliar nada se ainda não fechou o ano”, afirmou ontem o presidente.

CMVV x Eco101

A novela da não duplicação da BR 101 repercutiu até na Câmara de Vila Velha. O vereador Heliosandro Mattos (PR) apresenta hoje ao MPF uma representação, assinada por todos os demais vereadores do município (17 ao todo), pedindo ao órgão a abertura de inquérito civil público para embasar eventual ação contra a Eco101. Eles querem que o MPF suspenda a cobrança de pedágio na rodovia e que tome medida judicial para que o contrato de concessão seja extinto.

Pedido de investigação

Os vereadores querem, ainda, que o MPF avalie eventual responsabilidade da Eco101 no acidente do último domingo e investigue eventual formação de cartel ou organização criminosa por parte de grupos empresarias para fraudar licitações e monopolizar contratos de concessões de rodovias no Estado.

Hércules cobra PMDB

O deputado estadual Hércules Silveira (PMDB) mandou ofício ao deputado federal Lelo Coimbra, presidente estadual do PMDB, pedindo a Lelo que cobre “providências enérgicas e urgentes” dos dirigentes partidários competentes em relação aos integrantes da alta cúpula nacional do partido denunciados pelo MPF.

Só um detalhe...

O presidente nacional em exercício do PMDB é Romero Jucá. O presidente licenciado é o próprio Temer. Será que “os dirigentes competentes” vão mesmo querer tomar alguma providência? Melhor mandar uma carta para Papai Noel.

CENA POLÍTICA

Seja em número de representantes, seja em espaços importantes ocupados, a bancada do Espírito Santo em Brasília já é para lá de modesta. Desnecessário, portanto, que a assessoria do Planalto “se esforce” em reduzi-la ainda mais. No site da Presidência da República, constava ontem na agenda oficial de Michel Temer que, às 15h, ele iria se encontrar com o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, e com “o deputado Lelo Coimbra (PMDB/RS)”. Ou seja, mandaram Lelo para o Rio Grande do Sul.

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