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PSDB: do Caus ao caos

Confira a coluna Praça Oito desta terça-feira, 26 de setembro


Praça Oito
Praça Oito
Foto: Amarildo

Enquanto Paulo Hartung está em Verona, terra de “Romeu e Julieta”, representando o Estado em uma feira de mármore e granito, um movimento do governador em exercício, César Colnago (PSDB), deixou ainda mais evidente uma constatação: hoje, no Espírito Santo, o PSDB vive dias de luta entre Montecchios e Capuletos, as famílias rivais da tragédia shakespeariana.

Colnago dá posse, às 10h, ao novo secretário estadual de Turismo, o empresário e também tucano Nerleo Caus de Souza, escolhido a dedo por ele para o cargo no alto escalão do governo. Em outras circunstâncias, a chegada de um segundo membro do PSDB ao secretariado de Hartung, pelas mãos do vice-governador, seria celebrada por tucanos e poderia até apaziguar insatisfações com o governo. Em outras circunstâncias.

Dessa vez, pelo modo e pelo momento em que se deu, a movimentação de Colnago e o anúncio da nomeação, não chancelada pela Executiva estadual do PSDB tiveram o efeito de sublinhar a divisão e o distanciamento existentes entre a maioria dos dirigentes tucanos, de um lado, e o Palácio Anchieta, representado por Colnago, do outro. O ato de posse de Nerlinho, como é mais conhecido, tem como pano de fundo o acirramento da disputa interna pelo comando do PSDB: a eleição do novo Diretório Estadual será no dia 11 de novembro, e Colnago já manifestou disposição de tentar retomar o comando do partido, pegando muitos dirigentes de surpresa.

Hoje, grande parte da cúpula estadual do PSDB não se sente parte do governo Paulo Hartung. O que predomina é a insatisfação, motivada por um acúmulo de episódios – como aquele em que quadros históricos do partido foram defenestrados do Bandes. Para muitos, o partido só não desembarcou da base por causa do acordo de 2014 e porque tem Colnago na Vice-Governadoria. Tudo somado, se depender do atual comando, não há a menor chance de alinhamento automático com o Palácio em 2018.

Por isso é tão estratégica a definição da nova direção estadual da sigla, em novembro. O novo presidente estadual é quem comandará as articulações eleitorais da sigla em 2018. Com Colnago na presidência, a reprodução da aliança com Hartung conduzida por ele em 2014 se torna mais factível. Com outro nome, será menos provável – fala-se em Max Filho e em Luiz Paulo, se o prefeito recuar. Por isso, dirigentes tucanos interpretam a inesperada entrada de Colnago no processo interno como uma tentativa do Palácio de “segurar” o PSDB.

No mesmo sentido, o fato de Colnago emplacar um tucano agora no 1º escalão do governo, justamente no momento em que a eleição interna é desencadeada, foi visto como um movimento do vice para aplacar os ânimos e mostrar ao meio político que exerce influência no governo e tem força dentro do seu partido.

Porém, tanto nas motivações como no resultado, o movimento foi muito parecido com as nomeações, em março, de Vandinho Leite para a Secretaria de Ciência e Tecnologia e de Wesley Goggi para uma assessoria especial da Secretaria de Saúde. Como nos dois episódios precedentes, os convites aos correligionários foram feitos diretamente por Colnago, sem passar pelo crivo da Executiva, que não reconhece o secretário como indicação do PSDB. Isso acabou ampliando a sensação de que hoje, no PSDB do Estado, são Colnago e o governo para um lado, e a cúpula partidária para o outro.

Assim como Vandinho, Nerlinho não é quadro orgânico do PSDB, onde ingressou em 2015, para comandar o Instituto Teotônio Vilela (órgão de formulação política do partido) no Espírito Santo. O novo secretário de Turismo confirma que o convite para chefiar a pasta partiu de Colnago e foi tratado exclusivamente com o vice-governador, em uma articulação realizada há pouco tempo. “Houve um convite, relativamente recente, do vice-governador. Foi uma escolha nominal, por um critério muito mais técnico do que propriamente partidário. Fui convidado pelo César, não nego.”

No PSDB, todos dizem que o partido quer permanecer unido. Na peça de Shakespeare, Romeu e Julieta também queriam. E acabaram se matando no final.

Bom trânsito

Tucanos ouvidos pela coluna garantem, em uníssono, que o novo secretário estadual de Turismo, Nerlinho Caus de Souza, tem muito bom trânsito igualmente com Colnago, Luiz Paulo e Max Filho. Não o posicionam mais próximo de nenhum desses líderes. O empresário teve participação destacada na campanha de Max a prefeito de Vila Velha em 2016. Ajudou-o na formulação do programa de governo e chegou a participar do time de consultores de Max no debate final da TV Gazeta contra Neucimar Fraga.

“Na órbita de PH”

O deputado Sergio Majeski é um dos tucanos que avaliam a nomeação de Nerlinho como um movimento estratégico de Colnago. “Na minha opinião, essa nomeação é uma tentativa de aplacar as críticas de que o PSDB não participa do governo, embora não seja indicação da Executiva. E claro, o objetivo seria fortalecer o grupo de Colnago para tentar manter o PSDB na órbita de PH.”

“Nada a ver com isso”

Próximo a Luiz Paulo e membro da Executiva nacional do PSDB, o advogado Michel Minassa se posiciona assim: “A gente não tem nada com essa nomeação. Isso é construção do vice-governador. É ele quem nomeia cargo hoje no governo. Até fiquei surpreso. Minto: não fico mais surpreso com nada. O PSDB não tem digital nenhuma nessa nomeação. Agora, os quadros do partido são competentes. Se quiserem participar do governo, fiquem à vontade, mas nós não referendamos, até porque nunca fomos convidados para discutir políticas públicas”.

Muda Brasil

O secretário do PDT de Vitória, Leonardo Monjardim, e outros signatários protocolaram nesta segunda-feira (25) uma carta ao presidente regional, Sérgio Vidigal, pedindo a imediata destituição do presidente municipal da sigla, Duda Brasil. Alegam que ele estaria se articulando para assumir o PROS de Vitória e que chegou a aparecer em propaganda partidária da outra sigla.

CENA POLÍTICA

Muito respeitado pelo empresariado ligado ao setor no Espírito Santo, o novo secretário estadual de Turismo, Nerleo Caus de Souza, pode até ser quadro mais técnico (e se reconhece assim), mas, antes mesmo de tomar posse, aprendeu a ser político nas respostas. Perguntamos a ele se considera-se mais próximo a César Colnago ou a Luiz Paulo. “Aí vou te responder politicamente”, esquivou-se. “Depende da cadeira em que eu me sento.”

 

 

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