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A jabuticaba de Cachoeiro

Confira a Coluna Praça Oito desta quinta-feira, 19 de outubro


Foto: Amarildo

A decisão de Ricardo Ferraço (PSDB) de se licenciar sem mais nem menos do mandato, por pelo menos 120 dias, sem motivo de força maior que justifique tal atitude, é não só atípica como difícil de explicar. Ferraço não está passando por problema de saúde, não foi convidado a exercer nenhuma outra função pública, nem puxado para algum ministério... Decidiu se licenciar e pronto. Quando um senador quer protestar, faz pronunciamentos da tribuna, amarra-se à Mesa Diretora... Mas não pede uma licença não remunerada, abstendo-se, ainda que temporariamente, de cumprir os deveres para os quais foi eleito pelo povo.

Ferraço se diz indignado com a “ilha da fantasia” que se tornou Brasília. É verdade, como afirma o senador, que o Senado tem se perdido em “incoerências” e “contradições brutais”, como falar em melhorar práticas políticas e permitir que Aécio Neves (PDSB) retome o mandato. A decisão, por sinal, foi tratada por Ferraço como a “gota d’água” para a licença.

A premissa do tucano está correta. Já a atitude tomada a partir dela levanta alguns questionamentos. Essa degradação do Senado acaso não torna ainda mais importante a presença atuante de senadores que se contraponham a isso? Não é justamente por isso que precisamos, mais do que nunca, que os que se dizem indignados com as posições dos colegas estejam lá, presencialmente, tentando fazer alguma diferença? Se o projeto de Ferraço, reafirmado por ele, é reeleger-se em 2018, o precedente que ele abre, com esse súbito “não estou mais aí”, não poderá ser usado contra ele mesmo na campanha? Não pode ser compreendido como descomprometimento com o mandato e certo desrespeito com seus eleitores? Para Ferraço, muito pelo contrário.

“Primeiro, eu não estou inventando a roda. A possibilidade de licença é absolutamente legal e regimental. Segundo, vou ficar muito mais próximo dos meus eleitores. Vou me distanciar de Brasília, mas me aproximar do Espírito Santo. Então, é o contrário. São quase sete anos e, durante esse período, não tirei férias.”

Ferraço, então, está tirando férias?

“Não são férias”, responde. “Pelo contrário, é para eu me distanciar de Brasília, porque Brasília se transformou como nunca na ilha da fantasia, onde as pessoas decidem as coisas de modo totalmente desconectado da sociedade. Estar em Brasília neste momento é exercer uma agenda extremamente negativa.”

As explicações para medida tão insólita soam insuficientes. Condensando suas respostas, é como se o senador estivesse alegando a necessidade de passar por uma “desintoxicação”. Só que essa jabuticaba de Cachoeiro tem mais caroços. Afinal, como Ferraço faz questão de frisar, ele vai aproveitar a quarentena para “passar mais tempo perto dos capixabas”. Ou seja, vai percorrer o Estado, estreitando a ligação com as bases eleitorais. Isso pode valer tanto para a eleição de 2018 como para aquela mais imediata: a da nova direção estadual do PSDB, marcada para 11 de novembro, da qual participarão tucanos de todo o Estado. E aí pode estar uma outra possível explicação, a qual será objeto de uma próxima análise da coluna.

Por ora, vale resgatar a máxima atribuída a Cícero, segundo a qual: “senatores boni viri, senatus autem mala bestia”. Transpondo a frase do latim para o português, significa que os senadores são homens bons, mas o Senado é uma besta terrível. Transpondo-a da Roma Antiga para o Brasil atual, o inverso talvez seja mais verdadeiro: o Senado é uma grande instituição. Mas os que atualmente o compõem.... Por isso, quem se considera exceção à regra, em vez de dar um tempo, deve lutar e fazer sua parte para melhorar a imagem da Casa. Dentro dela.

Erramos

Diferentemente do que publicamos na Cena Política de ontem, a senadora Rose de Freitas (PMDB) participou da votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), nas duas etapas. No dia 12 de maio de 2016, após sofrer um princípio de AVC, Rose apareceu de cadeira de rodas no plenário do Senado, pediu para Renan Calheiros ler uma mensagem sua e votou a favor do afastamento. Em 31 de agosto, no julgamento final, ela votou a favor do impedimento, mas pela manutenção dos direitos políticos de Dilma. Lamentamos pelo erro da coluna.

Segue o baile

Falando em Rose, um dia após a senadora percorrer três municípios da Grande Vitória com o ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), o governador Paulo Hartung (PMDB) esteve em Brasília, na terça, para uma maratona de reuniões, acompanhado de uma comitiva: Zé Carlinhos (Casa Civil), Rodney Miranda (Serviços Urbanos) e Pablo Andreão (Cesan). Além de se reunir com Rodrigo Maia (DEM), o governador foi destravar recursos para obras de saneamento básico junto ao Ministério das Cidades e à Caixa.

Evair: viva a disputa!

O deputado federal Evair de Melo (PV) não tem dúvida: realmente estamos testemunhando uma “corrida” entre Hartung e Rose, segundo ele positiva para o Espírito Santo. “Existe uma disputa. Ela é pública, saudável e muito boa para o Estado. Historicamente, estamos acostumados com disputas em cima de denúncias, calúnias e difamação. Vejo uma disputa muito produtiva e empreendedora, cada um cuidando da sua agenda: o governador, a de ajuste fiscal e investimentos; a senadora, dedicando-se exclusivamente à captação de recursos para o Estado. Espero que essa disputa vá até a reta final e que os dois façam muito.”

CENA POLÍTICA

A senadora Rose de Freitas não poupou elogios ao ministro Ricardo Barros no Hucam, na última segunda. “Quem dera o governo Temer tivesse dez Ricardos Barros!” Em seguida, brincou: “Acho que quando ele vê que estou chegando, manda apagar as luzes do Ministério. ‘Lá vem ela de novo’. Mas muitos pleitos ainda chegarão e sei que o sr. atenderá no que for possível”.

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