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Cristovam: "Bolsonaro é culpa nossa"

Confira a coluna Praça Oito desta terça-feira, 24 de outubro


Foto: Amarildo

Democrata convicto, conhecido pelas posições moderadas e pela defesa da educação, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) critica as posições radicais do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Não chega a surpreender. A novidade é que, anexado à crítica, o ex-ministro da Educação faz algo raríssimo em qualquer político: um exercício de autocrítica. A si mesmo e a todos que, como ele, estão na política há tempos, fazem parte do campo democrático, mas não conseguiram impedir a atual crise da democracia representativa no país e a enorme desilusão com ela, sobretudo por parte dos mais jovens – ingredientes que permitem a ascensão de um político como Bolsonaro.

“Primeiro que acho Bolsonaro uma excrescência na democracia. Um candidato com o discurso dele, que nega a democracia. Mas eu devo reconhecer que a culpa não é dele. Ele é produto da nossa culpa: dos democratas. Nós deixamos o Brasil caminhar para a violência, nós deixamos o corporativismo tomar conta, nós vimos o fisiologismo nos últimos anos, vimos a corrupção. Então esse comportamento dos democratas faz com que surja uma excrescência (algo que sobra, que está no lugar errado, que não deveria estar ali). Fruto da nossa incompetência.”

Cristovam deu as declarações no último sábado, em passagem por Vitória, num momento em que têm ganhado corpo algumas falas em defesa de soluções autoritárias para os problemas políticos do país e até de uma intervenção militar, eufemismo para golpe. Como se combate isso? “Denunciando”, responde o senador. “E lembrando que nem as Forças Armadas apoiam isso. Aqui em Vitória, um general do mais alto padrão me disse: nós somos democratas, o Exército não aceita atalhos. Eu temo, entretanto, que possamos caminhar para um retrocesso: podemos ter no 2º turno um candidato olhando para trás no populismo e outro olhando para trás no autoritarismo”, disse Cristovam, referindo-se respectivamente a Lula (PT) e a Bolsonaro.

Cristovam também se apresenta como pré-candidato à Presidência, pelo PPS. Precisa convencer primeiro o presidente nacional da sigla, Roberto Freire, que resiste à ideia. Entretanto, o senador defende a importância de que não só o PPS mas também outros “partidos progressistas” lancem candidatos próprios ao Planalto. Isso levou a coluna a perguntar a ele: não há aí uma contradição? Por acaso o senador não acha que essa fragmentação extrema de candidaturas dos partidos que compõem o campo democrático brasileiro, incluindo o PPS, pode acabar dividindo demais os votos do centro, favorecendo por tabela candidatos com discurso radical e demagógico de extrema direita ou de extrema esquerda?

“Pode”, responde o senador, “e essa pergunta felizmente veio. Nós temos que tomar esse cuidado. Roberto Freire tem falado isso: se cada um de nós, dos partidos progressistas, lançarmos um candidato, isso vai acabar elegendo o Bolsonaro. Qual é minha proposta? Cada um lança um candidato. Daqui a três, quatro meses, a gente vê qual é o que fica. Tem tempo! Acho que lá para janeiro, fevereiro, a gente escolheria um, com base nas pesquisas, com base nos projetos, na sintonia. Sou favorável a ter um só candidato dessas forças progressistas. Mas cada partido lança o seu e depois a gente unifica. Como se fossem prévias”.

E quanto a Michel Temer? Também não ajuda a corroer a democracia? “Acho que a ideia de Temer de um ‘Brasil unificado’ é tão desligada da realidade quanto a frase de Dilma de ‘pátria educadora’. Ele nunca quis fazer um país unificado. Se quisesse, teria dado exemplos para obter credibilidade. Mas tudo que ele tem feito é para perdê-la, do ponto de vista do comportamento e também de medidas como acabar com áreas protegidas e relaxar a luta contra o trabalho escravo.”

Conselho de Ética

O Conselho de Ética Pública do Estado, vinculado ao governo estadual, é formado por seis membros titulares, entre eles Elizabeth Mário Klippel Pereira, auditora de carreira do Tribunal de Contas do Estado (TCES). Ela integra o Conselho desde o dia 24 de fevereiro deste ano.

Proibição

Nos bastidores, servidores do TCES chamam atenção para um possível conflito: de acordo com uma resolução do próprio tribunal, todos os servidores do TCES ficam impedidos de participar, como membro efetivo ou suplente, de qualquer conselho ou comissão de órgãos e Poderes fiscalizados pela Corte de Contas. A proibição está na Resolução nº 232/2012, que instituiu o Código de Ética Profissional dos Servidores do TCES (Art. 8º, parágrafo XIII).

Precedente

Em maio de 2016, a Comissão de Ética Profissional dos Servidores do TCES foi consultada sobre caso parecido. E entendeu que o acúmulo não era possível, pois representaria infração ética e conflito de interesses por parte do servidor.

Resposta do TCES

A coluna perguntou ao TCES se a participação de Klippel no Conselho de Ética do Estado infringe a resolução. O tribunal informou que, caso haja um questionamento formal, o processo será encaminhado à Corregedoria para análise.

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