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"Lula fala com o Brasil antigo"

Confira a coluna Praça Oito publicada nesta segunda-feira em A GAZETA


Foto: Amarildo

“O Lula é um político que está falando com o Brasil antigo.” A análise implacável é do cientista político Marco Aurélio Nogueira (Unesp) e condensa o ponto de vista do professor sobre o ex-presidente, um dos três pré-postulantes à Presidência da República em 2018 mais badalados no momento, ao lado de João Doria e Jair Bolsonaro – estes dois também analisados detidamente por Nogueira, na coluna deste domingo.

Lula é um animal político, mas, acima de tudo, um político à moda antiga. Tem seus méritos como líder popular, teve seus méritos como presidente, mas hoje representa uma política brasileira que patina, que persegue o próprio rabo e que não consegue se renovar. Ao mesmo tempo, é a personificação de graves vícios políticos, começando pelo populismo, pelo apego ao poder e, logicamente, pela dilapidação do Estado em nome de um projeto partidário (vide o conjunto de descobertas da Lava Jato).

“É por aí mesmo que estamos vendo esse Lula depois do impeachment”, concorda Nogueira. “Até a campanha de 2014, o Lula era uma coisa. Inegavelmente, é um político que tem méritos: ele tem carisma, ele tem uma carga de heroísmo que se colou à biografia dele e tem uma enorme capacidade de interpelação da sociedade. Agora, o Lula é um político de um país que está acabando. O Brasil não é mais um país que possa ser governado com base em frases de efeito e em demagogia, ainda que a demagogia possa ser um recurso importante para se fazer política. Você pode até mesmo pensá-la como um recurso positivo, que vai mobilizar pessoas, vai trazer pessoas para o círculo mais próximo do poder”, pondera o cientista político.

Para ele, a principal aposta do PT para voltar ao Palácio do Planalto em 2018 é um personagem de uma sociedade que está desaparecendo. “A sociedade está pedindo uma liderança carismática, digamos, de outro tipo: que tenha mais racionalidade, que tenha mais responsabilidade fiscal, por exemplo, e que tenha mais capacidade de dialogar com os setores novos da sociedade. Acho que o Lula é um político que está falando com o Brasil antigo.”

Em suma, quando elencamos e analisamos a fundo os três nomes até aqui mais expostos na pré-largada presidencial, a perspectiva não é muito animadora. Cada um na sua raia, esse trio incomum formado por Lula, Doria e Bolsonaro já está percorrendo o país, queimando a largada ou dando uma “volta de apresentação” bastante longa.

Grosso modo, Lula representa uma política brasileira que não consegue se renovar, que para no tempo (ou anda para trás) em vez de buscar progredir e se aperfeiçoar; Doria representa uma fantasiosa e falaciosa negação da política; Bolsonaro, algo ainda mais grave: a negação da própria democracia e do Estado de Direito. Diante de alternativas tão pouco empolgantes, o que nos resta? O que podemos esperar para este 2018?

“Basicamente”, arrisca Nogueira, “o que podemos esperar é que os setores democráticos da sociedade produzam uma articulação a partir da qual apareça um nome que possa surgir como alternativa a esses três nomes que você citou, supondo que esses três realmente sigam em frente. Acho que o mais razoável de se especular é que o campo democrático consiga se articular melhor e apresente um nome que componha mais consensos na sociedade, uma alternativa de poder que seja mais interessante do que essas”, finaliza o professor da Unesp.

Até agora, esse nome não surgiu. O problema maior talvez se resuma, justamente, à total carência de alternativas realmente renovadoras, emersas do campo democrático, neste momento de mais aguda crise política do país desde a democratização em 1985. Mas há que se seguir acreditando e lutando por isso.

Colnago e Casagrande

Casagrande e César Colnago não têm conversado formalmente, mas andam “se esbarrando” bastante, por acaso, em eventos pelo interior. E assim, de esbarrão em esbarrão, o papo tem fluído. Será um princípio de reaproximação?

Só para lembrar

Em 2014, o PSDB de Colnago esteve a um passo de bater chapa majoritária com o PSB – caso em que Luiz Paulo teria sido candidato ao Senado na chapa de Casagrande ao governo. Mas, enquanto a direção estadual do PSDB conversava formalmente com Casagrande, Colnago mantinha conversas extraoficiais com Hartung. E levou o partido para ele.

Cada mesa uma conversa

Segundo colaboradores de Colnago, o vice-governador tem mantido o seguinte discurso, quando indagado acerca de possível realinhamento do PSDB com Hartung em 2018: “O que pactuamos aqui teremos que repactuar lá na frente. Cada mesa é uma nova conversa. Lá para julho teremos um governo a entregar. Mas a conversa será outra”.

Ministro, Rose e PH

O ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), vem hoje ao Estado para uma bateria de visitas a instituições de saúde da Grande Vitória. Será ciceroneado pela senadora Rose de Freitas (PMDB), articuladora da visita, segundo a assessoria dela. Às 11h30, o ministro também se encontrará com o governador Paulo Hartung, no Palácio Anchieta.

Élcio, o Dúbio

No “vai, não vai” da filiação de Octaciano Neto ao PSDB, chamou atenção o “vai, não vai” de Élcio Amorim. Primeiro, o presidente da sigla em Vitória assinou a ficha de filiação do secretário. Depois provocou reunião da Executiva municipal para rediscuti-la. Só para, na reunião, manifestar-se a favor da filiação.

CENA POLÍTICA

Atualmente deputado federal, Givaldo Vieira diz ter saído da presidência do PT em 2011, quando era vice-governador de Renato Casagrande (PSB), para não atrapalhar as costuras do PT e do governo na eleição municipal do ano seguinte. Agora, o atual vice-governador, César Colnago, quer reassumir o comando estadual do PSDB exatamente pelo motivo oposto: justamente para liderar as articulações do PSDB na eleição de 2018. Ironias da política capixaba. Um tucano confidenciou à coluna que, à boca miúda, já tem colega perguntando: “Será que os petistas são mais éticos do que nós?”

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