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Especialistas: Temer 'joga fichas na intervenção' para se reeleger

Especialistas: Temer "joga fichas na intervenção" para se reeleger

Para eles, estratégia do presidente é silenciar problemas da segurança pública até as eleições e criar impressão de que a intervenção foi eficaz

Publicado em 21 de fevereiro de 2018 às 23:45

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Brasília - O Presidente Michel Temer, e o governador do RJ, Luiz Fernando Pezão, durante cerimônia de assinatura de decreto de intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro (Marcelo Camargo/Agência Brasil). (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A estratégia do governo Michel Temer (PMDB) de trazer a segurança pública para o foco de sua agenda, seja como cortina de fumaça para disfarçar a derrota na reforma da Previdência, seja para tentar mexer em sua baixa popularidade, e quem sabe até lhe dar chances eleitorais, era algo já ventilado no meio político, desde o anúncio da intervenção federal no Rio de Janeiro.

Entretanto, nesta quarta-feira (21), ganhou um ingrediente de peso, após o marqueteiro responsável pela propaganda presidencial, Elsinho Mouco, ter afirmado que o Planalto quer usar a intervenção para ressuscitar a imagem de Temer e alavancar uma candidatura à reeleição. "Ele já é candidato", declarou à coluna de Bernardo Mello Franco, de "O Globo".

O porta-voz do presidente, Alexandre Parola, rebateu a informação, dizendo que o marqueteiro não fala pelo Palácio do Planalto e que a intervenção na segurança pública do Rio não tem ligação com a "agenda eleitoral". Contudo, especialistas veem como certa esta aposta do peemedebista de usar a bandeira de combate ao crime para se fortalecer nas urnas.

"Toda vez que um político sai em busca de votos, enfrenta três públicos: o que já está com ele, o que nunca estará e aquele que pode estar com ele. Não adianta discursar para quem você já tem apoio ou não terá de jeito nenhum. Ele foca nos indecisos. E a segurança é uma pauta que imediatamente faz sentido para todos os brasileiros, independente da classe social. Ele vai resolver o problema? Provavelmente não, mas pode dizer que pelo menos tentou", analisa o cientista político e professor da Mackenzie, Rodrigo Prando.

Já o professor da PUC-Rio, Ricardo Ismael, não acredita que Temer tenha condições de ser candidato. A real intenção dele, na verdade, seria a de não ficar esquecido e perder espaço durante o ano eleitoral, e por isso, prolongar a vida útil do mandato e influenciar a agenda da campanha. "Apesar do tema da segurança pública ser mais popular, não é algo que se faz em um ano. Não é como o Plano Real, que foi a vitrine de Itamar Franco capaz de eleger FHC. Ele foi algo que mudou a vida das pessoas imediatamente. Já o problema da violência é estrutural. O que Temer tenta é não ficar como Sarney, em 1989, que ficou só recebendo críticas de todos os lados na eleição", comentou.

Como outras consequências eleitorais, os especialistas também pontuam que a intervenção esvazia o discurso de Jair Bolsonaro (PSC) e pode fazer com que as candidaturas de Rodrigo Maia (DEM) e Henrique Meirelles (PSD) fiquem ainda mais inviáveis.

"Temer tirou das mãos de Maia a pauta da reforma da Previdência e assumiu o protagonismo da bandeira da segurança pública no estado de Maia. Da mesma forma, Meirelles perdeu o tema que lhe daria sustentação de discurso. Por fim, neutralizou Bolsonaro, pois com militares já nas ruas, o que ele vai dizer? Que terá ações mais duras ainda? Ele toma uma bandeira que dava votos para o deputado", afirmou o professor da USP, Antonio Mazzeo.

DEFESA

O líder da maioria na Câmara, deputado Lelo Coimbra (PMDB), criticou as declarações dadas pelo marqueteiro de Temer.

"Não dá para ser tratado como estratégia de fortalecimento de imagem, ou substitutiva da votação da Previdência. Estão tentando antecipar as eleições desde o ano passado, mas ainda temos seis meses para a campanha. A intervenção é uma decisão de grande relevância na vida das pessoas e precisava voltar a receber dimensão nacional", argumentou.

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De acordo com o deputado capixaba, esta possibilidade já estava posta pelos ministros Raul Jungmann (Defesa) e Torquato Jardim (Justiça) desde maio do ano passado. "A medida se concretizou porque o governador do Rio jogou a toalha, mas não se pode aceitar que haja 860 comunidades sob o comando da milícia, do tráfico e do crime organizado. É preciso restabelecer o Estado como ente garantidor da vida das pessoas, sem deixar qualquer margem de dúvida da seriedade da medida", disse.

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