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Com necrotérios lotados, México usa 'geladeira itinerante'

Com necrotérios lotados, México usa 'geladeira itinerante'

Disparada da violência do narcotráfico sobrecarrega Jalisco; chefe forense é demitido

Publicado em 19 de setembro de 2018 às 15:13

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Autoridades em Jalisco disseram que estão trabalhando na construção de um novo edifício forense que, em uma primeira etapa, dentro de um mês e meio, poderá abrigar 700 cadáveres. (Reprodução | Internet)

Sobrecarregadas na sua capacidade de armazenar os corpos dos assassinados por cartéis de drogas, as autoridades no Oeste do México recorrem a um caminhão-contêiner refrigerado que percorre cidades com dezenas de cadáveres não identificados. No estado de Jalisco, um dos mais importantes do país e epicentro do Cartel Jalisco Nova Geração, os moradores reclamam do tratamento descuidado oferecido aos corpos de desaparecidos e dos riscos sanitários que o necrotério itinerante representa para as comunidades locais. O chefe forense local, Luis Octavio Cotero, foi demitido depois que a história veio à tona.

Carregando 150 corpos, o trailer passou por vários municípios da zona metropolitana de Guadalajara, capital do estado de Jalisco, por conta das queixas dos moradores sobre o forte odor que o veículo exalava, até que foi abandonado num local fechado de Tlajomulco de Zuñiga. Foram as denúncias dos cidadãos que forçaram as autoridades locais a admitir que esse tipo de veículo é alugado para ser usado como uma medida temporária e armazenar até 300 corpos por conta da falta de espaço em necrotérios locais.

— Isso nos afeta por causa das crianças. Cheira muito mal, e depois de um tempo vai cheirar mais — disse Patricia Jiménez, moradora do município de Tlajomulco, um dos pontos onde o caminhão esteve estacionado.

Autoridades em Jalisco disseram que estão trabalhando na construção de um novo edifício forense que, em uma primeira etapa, dentro de um mês e meio, poderá abrigar 700 cadáveres. Leis no México impedem a cremação de corpos ligados a crimes violentos até que as investigações sejam concluídas.

Os grupos de famílias dos desaparecidos expressaram sua indignação com o que consideram um tratamento degradante das autoridades com estes corpos. A Comissão de Direitos Humanos do Estado recomendou à Procuradoria local e ao Instituto de Ciências Forenses local que eles estabelecessem um cemitério forense para o enterro dos restos mortais.

 

O secretário-geral do governo estadual, Roberto López, criticou o incidente em sua conta no Twitter por demonstrar desrespeito aos moradores locais e prometeu iniciar uma investigação. O governo "não tolerará sinais de indiferença nem indolência", escreveu o funcionário. A identidade dos cadáveres e as circunstâncias das mortes não estão claras, embora López tenha declarado que eram vítimas não identificadas do crime organizado.

— Nós não queremos isso aqui, que levem para outro lugar. Temos muitos filhos, e eles podem ficar doentes — disse José Luis Tovar, um morador de Guadalajara.

Jalisco é sede de uma das mais poderosas gangues de drogas no México. O Cartel Jalisco Nova Geração há anos trava uma sangrenta batalha contra seus rivais pelo controle do território. Apenas nos primeiros sete meses do ano, foram notificados 1.243 assassinatos, o que representa 47% a mais em relação aos homicídios dolosos do mesmo período de 2017, segundo dados do Ministério do Interior.

O governador do estado, Aristóteles Sandoval, demitiu o diretor do instituto forense, Luis Octavio Cotero, pela falta de tato no manuseio dos corpos.

— É claro que houve sérias omissões que devem ser sancionadas, é claro que aqueles que estavam encarregados do procedimento de transferência alteraram o protocolo sem notificar seus superiores — disse ele.

 

Cotero disse em entrevista à agência Efe que, além do caminhão abandonado em Tlajomulco de Zuñiga, há outro contêiner que foi alugado pela Procuradoria Estadual. Ele nega ser responsável pelo armazenamento inadequado de corpos não identificados, acusando o governo estadual de fazê-lo de bode expiatório.

— A capacidade dos refrigeradores é de 72, mas têm 144 porque tiveram que forçar um pouco de capacidade. Há muita demanda por atenção a esses corpos — disse ele.

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Mais de 200 mil pessoas foram mortas ou desapareceram desde dezembro de 2006 no México, quando o governo declarou guerra ao crime organizado. Em 2017, cerca de 25 mil assassinatos foram notificados, no maior índice anual já registrado.

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