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Da etiqueta ao que diz a lei, saiba o que é assédio no Carnaval

Da etiqueta ao que diz a lei, saiba o que é assédio no Carnaval

Na onda do "não é não", consultor de etiqueta, representante dos Direitos Humanos e delegada comentam sobre os limites da paquera durante as festas de carnaval

Publicado em 21 de fevereiro de 2019 às 18:00

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(Hudson Pontes/Riotur)

Carnaval é tempo de ânimos exaltados, mas nada justifica a falta de respeito - isso significa que não dá para ser inconsequente e querer justificar atitudes machistas por conta da folia. O Gazeta Online já tratou do assunto em reportagem feita nesse mesmo período do ano passado, mas como é 2019 e os casos de assédio continuam aumentando, achamos prudente ressuscitar a questão.

Recentemente, em Vitória, uma jovem balançou a internet relatando um caso que aconteceu com ela mesma durante um bloquinho de rua, no último sábado (16). Junto da amiga, Maju Loureiro foi vítima de comentários machistas que falavam da roupa que ela e Lara Lopes estavam usando no bloco, em Jardim da Penha. "Sabe porque eu fui embora do 'rolê' (sic) chorando? Porque vivemos em uma sociedade machista que não aceita e não tolera mulheres que vestem e fazem o que querem", escreveu a menina, em um post.

Além dessa situação, a moça sofreu um assédio na hora de ir embora. "Um homem fala no meu ouvido 'gostosa' e eu já sem paciência com tudo que tinha passado, o xinguei. Ele me respondeu: 'você sai de bunda de fora e quer respeito?'. Eu só comecei a chorar de raiva, de medo, de impotência. Eu não dormi", relatou a moça na postagem. 

Em seu perfil do Instagram, onde a publicação foi feita, mais de 9,3 mil pessoas reagiram ao post e já há dezenas de milhares de comentários apoiando a atitude da jovem, que não baixou a guarda. Veja o post:

Para o consultor de etiqueta Fábio Arruda, é muito importante que os foliões saibam medir o álcool e não exagerem nos excessos durante os dias de carnaval. "As mulheres estarão menos vestidas, mas isso não significa e não justifica nada", destaca.

Segundo ele, também é essencial que as pessoas tenham mais paciência, porque o carnaval é naturalmente uma época em que tudo é mais delicado e mais moroso.

O "NÃO" DA MULHER TEM QUE SER RESPEITADO, DESTACA PSICÓLOGA

A psicóloga Sara Casteluber afirma que quando se trata de respeito, a pessoa precisa primeiro se respeitar para querer que as outras a tratem do mesmo jeito. "É o mínimo", destaca. Ela, que ressalta não estar julgando nenhuma atitude e nem taxando nada como "certo" ou "errado", acredita que se não tiver cuidado com a questão do respeito o problema vira uma bola de neve.

"O 'não' tem que contar muito. E aí você tem que se impor com isso, falar 'eu mando nas minhas escolhas' e entender que essa afirmação é e tem que ser soberana", ressalta a especialista. Ela entende que quando se imagina uma relação nem sempre as coisas funcionam tão bem quanto na teoria, mas aí o segredo é apostar na atitude. "Se você não quer e tem alguém insistindo muito, chama alguém, uma pessoa para te ajudar, alguma amiga que está com você para rebater com o 'não", finaliza.

Já ligada na situação, a Prefeitura de Vitória promove uma campanha para incentivar ainda mais o respeito nos dias de folia: "Carnaval sem Assédio - Não é Não" é o nome do projeto que vai se concentrar no Sambão do Povo nos dias 21, 22 e 23 de fevereiro e seguir durante o carnaval oficial. Para a ação, os organizadores irão distribuir leques e panfletos com informações de enfrentamento da violência contra a mulher.

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Em uma realidade como a do Brasil, com quase 4,5 mil mulheres assassinadas por ano, torna-se cada vez mais necessário falar sobre respeito à mulher e aos seus direitos. Nossa campanha tem por objetivo conscientizar o conjunto da população quanto à necessidade de respeitar a integridade e a vontade das mulheres. Qualquer atitude de natureza afetiva ou mesmo sexual precisa do consentimento da mulher, caso contrário é crime e deve ser denunciado

Bruno Toledo, secretário de Cidadania, Direitos Humanos e Trabalho de Vitória
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O Governo do Estado também fará ação para mitigar a violência contra a mulher, como comenta a secretária de Estado dos Direitos Humanos, Nara Borgo. Ela destaca que algumas frases de enfrentamento vão circular nas redes sociais e também vão trabalhar a aceitação da mulher com o próprio corpo.

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Não podemos nunca deixar de falar sobre o enfrentamento à violência contra a mulher, mas também é importante que as mulheres saibam o quão importante é serem felizes sendo quem são, em sua essência, sem ser necessário seguir um padrão social, independentemente do corpo e cabelo que tiverem, sendo solteiras, casadas, lésbicas, trans, empregadas domésticas ou executivas

Nara Borgo, secretária de Estado dos Direitos Humanos
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De acordo com a secretária, a informação é fundamental para a proteção da mulher. “Afinal, quanto mais bem informadas as mulheres estiverem, maiores as chances de reconhecerem atitudes machistas e enfrentarem a violência, buscando, inclusive, os meios de proteção existentes no Estado e municípios, como a Central de Atendimento à Mulher, o Disque 180”, completa.

ASSÉDIO: O QUE É CONSIDERADO CRIME?

A legislação mudou e o que se chama "importunação sexual", agora, é considerado crime. Antes, isso não passava de uma "conduta corriqueira em razão da folia", mas depois dos ajustes nada se justifica, como esclarece a chefe da Divisão Especializada de Atendimento à Mulher, a delegada Cláudia Dematté.

"Puxar assunto e paquerar são permitidos, desde que seja com respeito e sem ofender a honra, a integridade física, a liberdade e a dignidade sexual da mulher”, destaca, completando: “A partir do momento em que a mulher disser não, isso deve ser respeitado. O desrespeito ao 'não' é o limite entre o que era uma conduta normal e o que passa a ser crime”.

A delegada alerta que quem presenciar uma violência contra a mulher também deve exercer seu papel como cidadão e fazer a denúncia. “Quem testemunhar alguma mulher sendo vítima desse tipo de conduta inaceitável e criminosa não pode se omitir. Acione a Polícia Militar por meio do 190", conclui.

BOM HUMOR É O TRUQUE

Diante do cenário, muitos que não sabem se comportar, perguntam nas redes sociais: como atrair a paquera sem realizar o assédio? Uma pesquisa divulgada em 2018, a partir de uma enquete do Par Perfeito, indica que 39% dos homens aposta no bom humor para atrair uma pessoa, enquanto 36% das mulheres avalia que é, também, o bom humor que sempre funciona.

As mulheres ainda indicaram, assim como os homens, ser importante demonstrar autoconfiança. Além disso, investir em um bom papo é positivo para 26% das mulheres e 12% dos homens.

Para a consultora de relacionamento do Match Group LatAm, Marina Simas, a pesquisa comprova que não é necessário nada de mirabolante para estabelecer um primeiro contato com o crush. Ela acredita que tanto o bom humor quanto a assertividade são ferramentas que podem ser usadas para ter êxito na paquera. "O bom humor e a espirituosidade é algo que pode ser aprendido e desenvolvido por um treino”, explica.

Paquera no carnaval. (Ilustração/Arabson)

DICAS PARA GARANTIR OS CRUSHES NOS BLOCOS

Escolha do bloco: a escolha do bloco é primordial para não sair no escuro e dar de cara com pessoas que não fazem "seu tipo". Portanto, é bom respeitar os espaços e as pessoas

Abordagem: ela deve ser feita após uma troca de olhares "de lei". Foi correspondido? Já é um sinal para chegar mais perto e iniciar uma conversa - sem precisar ficar encostando na pessoa enquanto fala, ainda mais em partes desnecessárias

Evite: puxões de cabelo, pegar no braço e beijo à força. Afinal, estamos em 2019 e as meninas não querem ser "laçadas" mas, sim, conquistadas

Cantadas: evite as cantadas prontas. Puxe um papo sobre algo que está acontecendo por ali. Apostar no bom humor e na sua observação do lugar valem muito. Mas é bom lembrar que ser direto também conta. Afinal, no meio da multidão é difícil ter mais que três minutos para o flerte rolar

Não é não: essa é a regra básica para tudo e todos. Se a pessoa disse que não quer, não insista. Aprenda a lidar com a rejeição. Deixe a pessoa curtir e vá em busca de outro crush - o que não falta no meio das aglomerações é gente

Mãos ao alto: nada de passada de mão nas partes íntimas de ninguém. Isso é abuso! Como diz a jornalista Carol Patrocínio, manter suas mãos para trás, ao lado do corpo, ou as utilizar para falar é super válido na hora que estiver conhecendo alguém. Lembre-se: não toque a outra pessoa sem saber se você pode fazer isso

Contatinhos: pegar os contatos do crush é de extrema importância, pois você pode continuar o seu jogo depois do carnaval. Vai que um amor de carnaval vira amor para a vida!

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Seja legal: simpatia é infalível na hora da paquera. Além disso, pessoas legais são sempre bem vistas em qualquer lugar. E, sempre que puder, fique ligado nos problemas e ajude. Se vir alguma pessoa passando mal, ajude! Alguém precisando de orientações, ajude! Uma situação de abuso, denuncie e ajude a acabar com ela

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