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'Não acho que tem culpado', diz mãe de menino morto após surto em creche

"Não acho que tem culpado", diz mãe de menino morto após surto em creche

Com a perda tão recente e muito emocionada, a empresária Katiucia Cosine Emiliano conversou com a reportagem do Gazeta Online sobre o nascimento do menino, que já foi considerado um milagre, e como foi a despedida precoce

Publicado em 29 de março de 2019 às 19:15

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Um dia após sepultar o filho de apenas 2 anos de idade, que morreu em decorrência do surto de diarreia em uma creche na Praia da Costa, Vila Velha, a mãe do menino Theo Cosine Cipriano não culpa ninguém pela perda. Ao contrário, diz que a criança sempre foi tratada com muito carinho pelos funcionários e pela proprietária do local.

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Não acho que tem culpado. Se ele voltasse à vida, ele ia continuar na creche

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"Ele estava lá desde os 11 meses de idade e nunca pegou nada. Sempre foi tratado como filho. E se fosse o caso de ter pego lá, não foi por falta de zelo da creche porque o filho deles estuda lá também. Eles não iam botar a vida do filho deles em risco", avalia.

Com a perda tão recente e muito emocionada, a empresária Katiucia Cosine Emiliano, 41 anos, conversou com a reportagem do Gazeta Online sobre o nascimento do menino, que já foi considerado um milagre, e como foi a despedida precoce.

Apegada à fé, ela encontra sentido para tudo que está passando ao lado do marido e considera que a partida do filho foi o fim de um grande sofrimento para a criança.

A ENTREVISTA

Quando o Theo passou mal? Como foi esse processo?

O que estão falando é exatamente como foi. Foram no quiosque, brincaram na areia da praia, tomaram uma água de coco. Meu filho só tomou a água de coco e comeu a batatinha. O coco estava muito sujo por fora. Eu ainda falei: 'Filho, deixa que a mamãe segura, porque está muito sujo. Põe só o canudinho na boca'. Coloquei o canudinho na boca dele e ele tomou. Se foi do coco, foi interno. Eu não experimentei a água de coco antes, a gente não imagina que um negócio natural pode ter algum problema. Ele só apresentou diarreia mesmo na segunda, às 4h da manhã, já com sangue.

Foi na segunda dia 18 de março?

Acho que sim. Estou meio perdida em data. Sem ser a segunda agora, foi na outra anterior.

Vocês foram no quiosque que dia?

Na quinta-feira (14) à noite. É tudo que todo mundo já está sabendo. Ele apresentou diarreia, ficamos o dia inteiro hidratando, mas ele estava comendo, estava bem, brincando. Mas a diarreia foi aumentando e diminuindo o espaço entre uma diarreia e outra, de chegar o momento de cinco em cinco minutos eu não conseguir trocar a fraldinha dele. Estava sendo orientado pela pediatra, tomando floratil, tomando soro. Mas vomitou. Quando ele vomitou e não quis nem mais tomar a água de coco que ele amava, eu falei vou para o hospital porque ele vai desidratar. Diarreia desidrata. Fui para hidratar porque fiquei com medo.

Isso na segunda-feira?

Na segunda. Ele foi internado no pronto-socorro, ficou tomando soro e remédio para dor. Na terça-feira, a gente tentou conseguir um quarto e não tinha quarto. Ele só conseguiu ir para o quarto à noite. Não podia entrar com o antibiótico porque o antibiótico só pode dar no quarto. Enfim, não importa. Foi para o quarto e quando chegou na quarta-feira, os episódios não foram diminuindo. Ele foi desidratando, por mais que estivesse tomando soro. Desidratou muito, infelizmente convulsionou e aí fomos para a Utin. A partir dali, ele foi tratado até os rins pararem e aí tudo que aconteceu, deu edema cerebral. (choro)

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A gente já imaginava, mas tinha esperança em Deus que ele ia voltar. Mas nem sempre o que a gente acha que é bom para gente não é o que Deus quer. Porque Deus queria e eu pedi que Deus fizesse o melhor para ele, não para a gente

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Sofrimento.

Eu não queria mais ver o meu filho sentir dor. Ele estava gemendo, mesmo entubado. E eu não podia pedir para ele ficar mais. Eu tinha que deixar ele partir, e eu deixei (choro). E ele foi tão abençoado que ele esperou a gente virar as costas para ter uma parada cardíaca. Não fez isso na minha frente porque sabia que seria muito dolorido.

O sepultamento.

Nesta quinta-feira (28), apesar de falarem que eu estava medicada, graças a Deus, até agora eu não tomei nenhum remédio. A não ser Deus no meu coração para me acalmar. E a gente não tem que tentar entender. A gente tem que aceitar, porque eu não queria o meu filho sofrendo e, talvez se ele saísse do coma, ele ia ter sequelas que não seriam legais, ele ia viver em sofrimento. E eu pedia a Deus que fizesse o que era melhor para ele e trocasse a dor dele pela minha. Está doendo agora, mas eu sei que vai passar. Hoje a gente sente saudade. Ontem todo mundo falava que eu estava medicada, que eu estava tranquila. Eu só estava tranquila porque agora eu sei que ele está melhor do que ele estava lá no hospital sentindo dor e eu não queria isso para ele. Então a gente tem que saber entender.

Propósito de amor.

Ele veio com um propósito, propósito muito bonito de união, de amor. Ele passou tudo isso para a gente.

Creche.

Não acho que tem culpado. Se ele voltasse à vida, ele ia continuar na creche. Ele estava lá desde os 11 meses de idade e nunca pegou nada. Sempre foi tratado como filho. E se fosse o caso de ter pego lá, não foi por falta de zelo da creche, porque o filho deles estuda lá e se chama Theo também. Falava até que era irmão do meu Theo. Eles não iam botar a vida do filho deles em risco. Fico com muita dó e muito sentida, porque eu sei que eles são pessoas que vieram também de baixo. Batalharam para ter o que tem, aquilo é um sonho para a proprietária, que ela ama fazer. Cuidava do meu filho. O dia que o meu filho não ia para a creche, eles me ligavam, perguntavam se ele estava bem. Eles sempre tiveram muito cuidado. As professoras e todo mundo.

Carinho na Utin.

O pessoal da Utin foi sensacional no hospital. Dentro da UTI o meu filho foi muito bem assistido, muito carinho. As enfermeiras, então, foram sensacionais.

Orações.

Corrente de oração que todo mundo fez. Acho que foi mais para confortar a gente, porque a vida dele já está salva, graças a Deus.

O seu amor é tão grande que prefere que ele fique bem.

Com certeza. Isso é o amor incondicional de uma mãe, né. É isso que é o amor de mãe. Eu não podia ser egoísta e pedir para ele ficar aqui em sofrimento só para eu tê-lo do meu lado.

A despedida.

Eu falei: 'Filho, mamãe vai papar com o papai, mas eu volto e eu estou te deixando nos braços do Senhor. Se for da tua vontade e da vontade de Deus ficar com Ele, filho, faça o que for melhor para você. Mamãe e papai vão entender. A gente vai sofrer, mas vai passar. A gente vai ficar só com muita saudade'. Quinze minutos depois, ele já não estava mais entre a gente.

Essa conversa foi na quarta-feira?

Isso, quando ele teve a parada cardíaca. Estou perdida no tempo.

Vocês estão recebendo muita força das pessoas.

Graças a Deus. A corrente de oração é muito grande, que era por ele, agora é pela gente, porque todo mundo sabe que ele está bem. A gente vai precisar desse conforto, porque não é fácil. Acho que agora vai doer mais do que ontem, porque ontem ali era só a matéria, porque eu sei que a alma dele já está em paz, está em Deus. Mas essa ausência dele dentro de casa é que vai doer muito. Vai ser difícil pra gente, mas a gente vai suportar porque a gente tem fé em Deus e tem Ele ao nosso lado. Deus foi tão justo que não deixou ele sofrer mais.

Vocês esperaram um tempo para conseguir ter o Theo?

Eu tinha uma limitação no útero e eu não podia engravidar nem fazer inseminação. O Theo, quando eu falo que ele foi um milagre, e eu pedia a Deus no hospital um milagre, mas Deus já fez um milagre quando ele veio. Nem a Medicina soube explicar como ele conseguiu entrar no meu útero, porque eu tenho uma limitação no meu útero. Eu falo que ele já veio com um propósito porque ele já foi um milagre. Deus já fez o milagre quando mandou ele para a gente. A gente não esperou muito tempo. A gente casou, na verdade mais velho. Um ano depois de casados a gente engravidou. Ele foi concebido com a força do Espírito Santo.

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