Poucas horas após a publicação do decreto presidencial, na última quarta-feira, que expande a relação de categorias com direito a requerer o porte de armas no país contemplando políticos, advogados, conselheiros tutelares e outras 17 categorias o telefone dos despachantes começou a tocar e não parou mais. Só naquele dia, quando o documento saiu no Diário Oficial da União, um despachante do ramo, de Vila Velha, que costuma receber seis pedidos de registro por semana, foi contatado por mais de 100 pessoas.
Esses profissionais ajudam nos trâmites para conseguir o porte (andar armado na rua). Fiquei surpreso com a grande procura, não esperava. Acordei com mais de 100 mensagens não lidas, tudo de gente querendo informação sobre o porte de armas. Normalmente, são cerca de seis por semana pedindo informação. Não consegui responder até agora (ontem), só atendi aqueles que me ligaram, conta Marlos Borges, instrutor de armamento de tiro e despachante de armas de fogo na Protection Treinamentos e Serviços, de Vila Velha.
Antes do decreto, ele fechava negócio com, no máximo, uma pessoa por semana para o porte de arma. Na quarta, fechou 28 negociações com interessados no registro de porte de armas.
Além de facilitar o porte para alguns profissionais, o decreto traz uma série de mudanças sobre o direito ao porte e munições.
CRIMINALIDADE
Borges completa que a maioria dos interessados afirma que quer o porte porque a criminalidade tem crescido nos últimos tempos. Eles acreditam que armados estarão mais protegidos.
Depois que me procuram, informo todos os documentos exigidos pela Polícia Federal. Além da documentação, a pessoa precisa fazer curso de tiro, exames psicológicos, e fico responsável por marcar tudo isso. Depois pego os documentos, monto o processo para dar entrada na PF e acompanho até o fim. Isso leva cerca de 90 dias. Quem já tem o direito da posse encontra mais facilidade porque já possui a arma registrada. Para mim, essa decisão (o decreto) foi positiva, acredita.
O despachante Rubens Pereira Lemes também conta que a procura por porte de arma aumentou desde a divulgação do texto do novo decreto. Em atuação desde 2009, Rubens atende em todo o Espírito Santo. Segundo ele, a maior parte dos pedidos está concentrada nos municípios do Norte e Noroeste do Estado como Pinheiros, Boa Esperança, Rio Bananal e Pancas.
A procura por informação em relação ao novo decreto aumentou 100%. Muitos querem ter arma em casa, mas tem dúvida de como proceder. Por dia, estou recebendo 80 ligações de pessoas querendo detalhes. A procura por porte já cresceu 40%. Já os pedidos de posse aumentaram desde o primeiro decreto presidencial sobre isso, publicado no início do ano, informa.
Quem também não sai mais do telefone é o despachante de armas Eduardo Aguiar.
Eduardo lembra que, antes do decreto, atendia uma ou, no máximo, duas pessoas por semana.
Ele reforça que muita gente entra em contato em busca de orientação sobre o procedimento para requerer o porte. Muitos querem pedir mas não tem conhecimento da documentação necessária, diz.
Por conta da alta demanda, Eduardo tem alertado aos futuros clientes que, nesse primeiro momento, por conta da demanda alta, será necessário ter paciência. Os órgãos ainda terão que se adequar. Explico que não é simplesmente sair o decreto em um dia e a pessoa pega o porte no outro, diz.
Para ele, é possível que o tempo de espera para obter a documentação, que hoje é de poucos meses, possa aumentar consideravelmente, por conta da grande demanda repentina.
ADVOGADOS SÃO OS QUE MAIS PROCURAM
Caminhoneiros e produtores rurais são as profissões que mais procuraram os serviços dos despachantes de armas ouvidos pela reportagem. Mas os advogados encabeçam a lista. Segundo Marlos Borges, instrutor de armamento de tiro e despachante de armas de fogo na Protection Treinamentos e Serviços, de Vila Velha, em apenas um dia, conseguiu fechar 28 contratos para prestar serviço e auxílio à obtenção do porte para 28 advogados.
Um outro profissional, Eduardo Aguiar, afirma que, além dos advogados, também tem sido muito procurado por caminhoneiros.
Antes, meus clientes eram principalmente empresários e médicos. Como foram autorizadas essas outras profissões agora, novas portas se abriram, diz. A maior parte dos clientes dele são homens e moradores da Grande Vitória.
Marlos acredita que a demanda já existia. São pessoas que já tinham interesse no porte, mas não tinham direito, como vigilantes, advogados e trabalhadores rurais. Alguns já tinham o registro de posse (autorização para ter arma em casa) e agora querem o de porte.
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