Durante mais de seis anos, uma mulher, que hoje tem 59 anos, escondeu de todos uma angústia, que agora foi revelada para a família e denunciada à polícia. Ela é mais uma vítima que acusa um médico de um hospital particular de Vila Velha de abuso e assédio. O mesmo profissional tentou beijar uma jovem à força no último fim de semana, foi preso e depois solto. Além da mulher, há outro caso de 2017 que foi denunciado.
Os abusos teriam acontecido no mesmo hospital onde caso foi relatado no último fim de semana. A filha da vítima de 2012, que tem 18 anos, conversou com a reportagem da TV Gazeta. Com medo, a mulher que acusa o profissional prefere não falar. Hoje ela ainda faz terapia e tratamentos psicológicos decorrentes da situação. O médico é cardiologista e tem 54 anos de idade.
Na última semana, a filha convenceu a vítima a denunciar toda a situação contra ele. O boletim foi registrado na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). Foi depois dessa notícia da TV que ela teve mais segurança de fazer o boletim de ocorrência e o registro. Não queria fazer antes por medo e também por ameaças que o médico fez contra ela, declarou.
O CASO
De acordo com a jovem, a mãe dela estava com suspeita de dengue em 2012, com muita febre e hemorragias. Como estava na menopausa já, ela suspeitou que pudesse ser dengue hemorrágica e procurou o hospital particular. Ela contou que quando foi atendida pelo médico, ele tirou o absorvente dela, agarrando por trás. Ele disse que estava sangrando e pediu que ela colocasse novamente e fosse para o soro, declarou.
No dia, uma secretaria testemunhou a situação, segundo relatos da vítima para a filha. A assistente viu isso e saiu do escritório meio assustada, mas eles continuaram no consultório. Nesse momento, ele começou a forçar um beijo, que não é um carinho de profissão. Ele apertou e molestou a minha mãe Não quero nem falar para não reviver isso. É como se fosse comigo, declarou.
Houve uma outra situação em que a vítima precisou encontrar o médico e também houve os abusos. Nessa situação, a mãe ainda falou que gritaria para que alguém salvasse ela. Minha mãe falou meu marido está lá fora e ele dizia que era a palavra dele, de um médico, contra a dela, e que era poderoso, lembrou.
MUDANÇA DE PERSONALIDADE
A família só ficou sabendo de tudo o que estava acontecendo recentemente. De acordo com a jovem, que tem 18 anos, a mãe teve mudanças bruscas de comportamento após suspeitas de abusos contra o médium João de Deus, que repercutiu recentemente em todo o país
Ela não saía de casa e o casamento intimamente não tinha mais contato. Ela não queria participar de festas que a gente fazia, de família. Ela mudou e não se cuidava. Levava ela ao médico, não localizava o problema. Até que ela começou a participar de terapia e criou coragem para me contar. Foi um período longo até chegar esse momento, declarou a jovem.
Segundo a filha da vítima, foi uma coincidência outra pessoa denunciar o médico, como aconteceu no fim de semana. A primeira pessoa sempre vai tomar pedrada, mas incentiva outras pessoas. Tenho certeza que existem outras mulheres, que não tiveram coragem de denunciar, pontuou.
ACUSAÇÃO DE ESTUPRO
Pelos relatos da mãe, a filha acredita que o médico deveria voltar para a cadeia e que com a mãe ele tenha cometido um abuso sexual mais grave. Estupro não é só conjunção ou violência sexual, mas envolve ameaça também, como ele fez. Ele não vai parar. O que aconteceu com minha mãe foi em 2012, teve outro caso que surgiu agora, de 2015 e em 2019 agora. Na própria delegacia falaram que tinha mais gente denunciando, pontuou.
JUSTIÇA
Agora com o caso da jovem que o médico tentou beijar à força, a filha da vítima que hoje está com 59 anos espera que a Justiça seja feita, mas que a sociedade também para de culpar a vítima.
Nos comentários em redes sociais vi muita gente defendendo, dizendo que ele é carinhoso e dá beijos no rosto, mas nenhum assediador é um cara mal. Ele escolhe a pessoa mais vulnerável. Esperamos que as pessoas parem de culpar a vítima, porque é muito doloroso, pontuo.
OUTRO CASO
A reportagem da TV Gazeta também contou o caso de uma empresária de 42 que acusa o médico de tentativa de assédio em 2017. Na época ela foi ao hospital porque o médico é conhecido da família e quando foi se despedir dele no consultório foi empurrada contra a parede, quando ela foi assediada.
Segundo os relatos, na época ninguém da família acreditou nela. No entanto no último domingo (26), o próprio marido viu a reportagem do Gazeta Online, se assustou e contou para a esposa, incentivando ela a prestar queixa contra o profissional.
POSICIONAMENTOS
Para a TV Gazeta, o Hospital São Luiz, onde o médico atua, afirmou que irá apurar o caso e aguardar a investigação da Polícia para qualquer medida administrativa. Ressaltou, ainda, que repudia veementemente qualquer ato que coloque em risco a integridade física e psicológica dos pacientes.
O Conselho Regional de Medicina (CRM-ES) disse que a denúncia de assédio noticiada na imprensa local será apurada e que já está tentando reunir informações suficientes para dar início a uma Sindicância.
Já a Polícia Civil informou que investiga todos os casos formalizados nas delegacias, e orienta que as vítimas desse tipo de caso registrem a ocorrência em qualquer delegacia, munidas de todo material que comprove o crime e que auxilie a polícia no trabalho de investigação. Denúncias podem ser feitas por meio do Disque-Denúncia 181 ou pelo disquedenuncia181.es.gov.br, onde é possível a pessoa anexar imagens e vídeos de ações criminosas.
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