Eles eram o PSL, partido do atual presidente. Controlavam 12 diretórios estaduais e planejavam comandar nacionalmente a sigla. Já defendiam o liberalismo na economia e nos costumes. Mas aí a agremiação decidiu, em janeiro de 2018, dar acolhimento, apoio e estrutura para que o então deputado federal Jair Bolsonaro (ex-PSC) concorresse à Presidência da República. Como consequência, os membros do movimento Livres, até então figuras seletas e repletas de poderes decisórios, decidiram deixar o partido.
Presidente nacional do movimento, Paulo Gontijo afirma que os seis meses de governo não trouxeram nenhuma sombra de arrependimento na decisão de não se atrelar ao deputado que venceria a eleição. Pelo contrário. Apenas confirmaram que a saída foi a melhor escolha.
O Livres define-se como um movimento suprapartidário que se dedica à formação de novas lideranças. Gontijo é filiado ao PPS e disputou a eleição para deputado estadual no Rio de Janeiro em 2018.
Ele estará em Vitória hoje para debater Renovação Política e Gestão Eficiente, em evento da Comissão de Desburocratização e Empreendedorismo da Câmara de Vitória, colegiado presidido pelo vereador Mazinho dos Anjos (PSD).
O senhor vem a Vitória falar de renovação política. Qual o impacto na vida pública, na sua visão, da mudança de nomes no Congresso na eleição de outubro?
Vimos a criação de bancadas até então inexistentes a principal delas, a do PSL e a diminuição de algumas, até então tradicionais. Isso gerou, visivelmente, novas práticas. Algumas boas e outras ruins. Estrutura de gabinetes e corte de custos estão na pauta. Tem também uma hiperexposição. Parte dos eleitos é celebridade na internet. E existe uma coisa de discursos histriônicos. O excesso de exposição tem o efeito colateral de fazer o debate ser um pouco mais superficial.
E qual o balanço? As mudanças são mais positivas do que negativas?
Ainda é difícil saber. Temos a metade do primeiro ano. Vai depender do que vai ser aprovado na legislatura. Temos um período de curva de aprendizado.
O que tem achado do debate em torno da Reforma da Previdência? Às vezes, ela é colocada como salvação da lavoura.
O clima para a aprovação nunca foi tão favorável. Nunca se debateu tanto, e com razão. O tema é urgente. Ela é a mãe de todas as reformas. Definirá solvência ou insolvência do governo, espaço para investimentos e poderá ser ruptura com o corporativismo, ao menos parcialmente.
Acredita que tudo isso será alcançado pela reforma que passará?
Na questão fiscal, sim. Vai abrir espaço, mas não resolve tudo. É a mãe de todas as reformas, mas não resolve tudo. Tem que passar reforma tributária, a MP da liberdade econômica e reformas estruturantes.
Como avalia o esforço, por parte até de políticos tradicionais, para que a política seja feita desprendida de partidos?
É mais um sintoma de duas coisas: uma é a falência dos partidos como organizações. São lentos para se adaptarem. Todos tem regras pouco claras, são poucos transparentes. Outra coisa é que ninguém fala de reforma política. Temos 35 cartórios que monopolizam a vida política do país. O cidadão comum fica no modo de tanto faz, vota no personalismo.
O sistema político e eleitoral tem muitos vícios. É mesmo possível formar novas lideranças?
Movimentos políticos, e falando aqui da cadeira de um deles, tornam-se alternativas para isso. São forma de pressionar partidos de fora para dentro. No Livres, temos preocupação de formar, sim, novas lideranças. E não só eleitorais, mas intelectuais, de associações de bairro, que ajudem o debate público.
E dá resultado, de fato?
Temos casos de sucesso. Ganhamos a eleição suplementar da Prefeitura de Teresópolis (RJ). A eleição tinha um mês. Nosso candidato, que nunca tinha disputado nada, saiu de 0,7% para ganhar por dois votos de diferença. Existe demanda por político qualificado.
Mas como o cidadão pode diferençar a figura que quer entrar na política para fazer diferença do aventureiro?
O tempo vai mostrar. O politico qualificado tem que mostrar que é. A política são pessoas capazes de comunicar com o eleitorado, para dizer que não basta só cortar gastos.
O objetivo é formar líderes que passam longe do populismo.
Quando o Livres decidiu se afastar do PSL por causa do Bolsonaro, não acreditavam que ele seria liberal nem na economia. Mantém a opinião?
A análise foi muito acertada. Bolsonaro continua não sendo liberal na economia nem nos costumes. Ele tem uma equipe econômica liberal e qualificada que faz um bom trabalho, apesar do Bolsonaro. Boa parte do governo é um desastre gerencial.
Quais as pretensões do Livres?
Não vai virar um partido, vai ser um movimento suprapartidário. Nossa atuação ajuda a melhorar os partidos. Em 2020, a gente pretende eleger em torno de sete prefeitos e 20 vereadores no país.
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