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Mortes de motociclistas disparam no interior do ES

Mortes de motociclistas disparam no interior do ES

Em dois anos, casos aumentaram 48% fora da Grande Vitória

Publicado em 22 de julho de 2019 às 00:33

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Maura Wagmaker cuida do irmão, Gilmar, desde que ele sofreu um acidente de moto em fevereiro do ano passado. Ele perdeu um pé, teve lesões neurológicas e hoje usa uma cadeira de rodas. (Lucas Paixão)

A morte de motociclistas nas ruas, avenidas e estradas do Estado já é considerada uma “epidemia” por especialistas. Enquanto a frota de motos cresceu cerca de 5% entre 2016 e 2018, os acidentes fatais envolvendo motociclistas passou de 280 para 350, aumento de 25% em todo o Espírito Santo no mesmo período, crescimento alavancado pelas cidades do interior. Fora da Região Metropolitana da Grande Vitória, o aumento foi de cerca de 48% em dois anos, de 183 para 272 vítimas fatais. Os dados foram compilados pelo Observatório da Segurança Pública da Secretaria de Segurança Pública do Estado (Sesp).

Os municípios do Norte e Noroeste são os que mais sofrem com essa tragédia, que tira a vida principalmente de homens jovens. Linhares e São Mateus, por exemplo, registraram em 2018 o maior número de mortes de motociclistas da série histórica (a partir de 2000).

É em São Mateus que vive a dona de casa Maura Wagmaker, 43, que cuida do irmão, Gilmar Wagmaker, 40, desde que ele se envolveu em um acidente em fevereiro de 2018. A moto em que estava Gilmar colidiu de frente com outra em uma estrada de terra na zona rural do município. O piloto da outra motocicleta morreu no local. “Meu irmão foi quase morto para o hospital. Ele estar comigo hoje é um milagre”, conta Maura. Além de ter batido a cabeça e tido lesões neurológicas, Gilmar perdeu um pé e os movimentos de um dos braços.

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Meu irmão foi quase morto para o hospital depois do acidente. Ele estar vivo comigo hoje é um milagre

Maura Wagmaker
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Segundo Maura, desde o acidente com o irmão, outros sete conhecidos morreram em acidentes envolvendo motocicletas. “A gente acha que não vai acontecer com a gente, mas agora vejo que esses acidentes acontecem muito”, afirma. Mesmo com Gilmar desacreditado pelos médicos, ela segue cuidando do irmão na esperança que ele se recupere totalmente. “O meu Deus é muito poderoso”, diz.

A reportagem cruzou os registros de morte de motociclistas desde 2001 com a população dos municípios por ano. Os dados mostram que a taxa de ocorrências por 100 mil habitantes foi, no ano passado, três vezes maior no interior do que na Grande Vitória: 12,9 contra 3,8.

Até 2006, as taxas eram similares e vêm se dissociando desde então. Houve um pico significativo em 2012, que acompanhou um crescimento grande da frota de motocicletas, ocasionado pelas facilidades de crédito e incentivos fiscais do governo à indústria automotiva no fim do segundo governo Lula.

RECORDE

Os números este ano seguem essa tendência. Nos primeiros três meses de 2019 morreram 91 motociclistas no Estado. No mesmo período do ano passado, foram 64 mortes. “Se nada for feito com urgência, 2019 será o ano com mais mortes de motociclistas que temos registro, chegando em quase 400”, projeta um dos líderes do Movimento Capixaba para Salvar Vidas no Trânsito (Movitran), o engenheiro André Cerqueira.

IMPRUDÊNCIA

Gilmar era habilitado e no momento do acidente estava usando capacete, que ficou rachado com o impacto. Mas essa não é a realidade de muitos motociclistas, principalmente nas zonas rurais.

Segundo membros de sindicatos do interior do Estado ouvidos pela reportagem e que não quiseram se identificar, nas zonas rurais, é raro encontrar um motociclista que tenha habilitação. Muitos são menores de idade. Além disso, eles afirmam que há pouca ou nenhuma ação fiscalizatória nessas localidades e que, quando há, ela costuma ser mais educativa do que punitiva. “Tem a questão da estrada também. Muita gente anda na estrada de chão com motos feitas para o asfalto. E essas motos têm menos estabilidade nesse terreno, o que facilita o motociclista perder o controle e cair”, diz um deles.

Já nas zonas urbanas, como Linhares, Colatina e São Mateus, o diretor de Integração do Instituto Jones Santos Neves (IJSN), Pablo Lira, afirma que o processo de urbanização aumentou a população e trouxe mais poder aquisitivo a esses locais, o que gerou também um aumento de circulação de pessoas e de motos.

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A motocicleta é muito usada no interior tanto como meio de locomoção como de trabalho

Engenheiro André Cerqueira
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“Se antes compravam moto só por questões econômicas, hoje tem também a questão da mobilidade, afinal a moto é mais prática, mas ágil. Ela é usada no interior tanto como meio de locomoção como de trabalho. Tem cidade onde até o vaqueiro ‘toca’ o gado de moto”, aponta o engenheiro André Cerqueira.

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A queda de moto somada à colisão com um ponto fixo (poste, cerca, árvore) é a maior causa de mortes de motociclistas no Estado. “A falha do condutor é apontada como principal causa, por isso a conscientização para um trânsito seguro é tão importante. As campanhas têm que chegar no interior. A fiscalização também não pode ser deixada de lado. Infelizmente, no Brasil, a mudança de cultura passa pela multa. Foi assim com o cinto de segurança”, afirma Pablo Lira.

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