As poéticas das experiências e das viagens de Carlos Vergara

"Carlos Vergara Viajante - Experiências de São Miguel das Missões" chega a Vitória

Publicado em 28/01/2015 às 10h48

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A poesia visual resultante do diálogo entre viagens, história e um olhar sensível compõem a exposição de um dos artistas plásticos mais criativos da arte contemporânea no Brasil: Carlos Vergara. Ele chega a Vitória com a exposição “Carlos Vergara Viajante – Experiências de São Miguel das Missões”, que tem abertura nesta quarta-feira (28) e fica em cartaz até o dia 5 de abril, no Centro Cultural Sesc Glória.

Fotografias de São Miguel das Missões são montadas em 3D, uma experiência única para quem visita a exposição – e bem difícil de reproduzir em papel-jornal
Foto: Cesar Duarte - Jornal A Gazeta

Na ativa desde os anos 1960, Vergara apresenta pinturas, fotografias em 3D e sudários – pequenos lenços em que ele “capta” a imagem real do lugar. “São monotipias feitas em lenços de bolso, que seriam a telinha do viajante. Esses pequenos recolhimentos de vestígios, pedaços, coisas, que são parte de um todo e te oferecem conteúdo para imaginar o todo”, destaca o artista.

Em constante busca criativa, Vergara estabeleceu residência temporária em São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, onde decidiu investigar a peculiar experiência das missões jesuíticas na cidade.

“Foi uma tentativa muito impressionante dos jesuítas de fazer uma relação nova com os índios e uma catequese de outra ordem, não aculturante”, destaca. “Foi uma tentativa de responder à grande pergunta que preside todas: como faremos para viver juntos? Essas missões foram uma tentativa de criação de uma sociedade horizontal, sem propriedade privada, tudo coletivo, sem chefes e empregados. Foi uma epopeia e isso me interessava”, diz ele.

Experiência

Um artista viajante, como se define, Vergara explica que não queria trazer paisagens e objetos catalogados, e sim mostrar sua experiência naquele local. “Vou com um olhar descobridor, de curioso, mas de uma curiosidade guiada pela vontade intelectual. E tentando não ficar subjugado, não trazer simplesmente fotografias, paisagens, mas uma espécie de experiência mais intensa que eu possa dividir com o outro”, detalha.

 

“A gente percebe que são ruínas mas têm uma que eu tentei ali, uma coisa dentro. Você tem uma vida entre as pedras; tanto uma vida animal como uma alma que você percebe que continua vibrando lá”, analisa.

Embora se relacione com seu objeto de reflexão e tenha vivido no local, Vergara

diz que não leva um olhar de antropólogo para as obras. “Sou um artista que trabalha com a poesia visual. Para um artista, há dois problemas: primeiro é ‘sobre o que eu vou falar?’ E o segundo é: ‘como?’ Tenho que encontrar a maneira mais eloquente para falar daquilo, sem descrever, sem ser literário, sem ser ilustrativo. Alguma coisa que invada a mente do espectador através de áreas sutis do cérebro, por uma porta poética”.

A marca das viagens em sua obra, diz o artista, é o exercício em alternar o olhar. “Arte se faz alternando dois olhares. Você olha para fora, olha para dentro, olha pra fora, olha pra dentro... e o trabalho sai desse exercício. O nosso olhar é muito pragmático. Somos ensinados desde criança a olhar para não tropeçar nas cadeiras. Para o olhar ser poético, a inteligência tem que funcionar sobre ele. Você tem que ensinar ele a ver o invisível do visível”, diz.

 

Minientrevista

 

“Também sou um semeador louco”. Carlos Vergara, artista plástico
Foto: Guarim de Lorena - Jornal A Gazeta

Há mais de 50 anos produzindo, Vergara diz que se diverte muito trabalhando. “Chamo meu ateliê de playground”, brinca.

Como o senhor vê o legado de sua arte?

Não sei, eu sou um trabalhador intenso. Eu costumo dizer que não existe o melhor artista brasileiro, existem vários artistas ótimos e você escolhe de quem você gosta mais. Não há forma de medir. É o que bater no teu ser, como uma música que te toca e não toca o outro.

Quando cria uma obra, o que busca?

Meu mestre querido, Iberê Camargo, com quem eu trabalhei muito, dizia algo que eu queria ter dito. “Eu sou um semeador louco, eu atiro sementes. Se pintar um terreno fértil, pode germinar.” Acho que herdei isso dele, também sou um semeador louco. Eu procuro um “ah!”, uma pequena vivência do sublime, que pode estar até em uma pedra.

 

Artistas capixabas exploram relações entre corpo e memória

 

Em diálogo com as obras de Carlos Vergara, cinco artistas capixabas se encontram na exposição “Corpo-Casa”, que ocupa simultaneamente o primeiro andar do Centro Cultural Sesc Glória. Artistas conhecidos como Orlando da Rosa Farya e Lara Felipe dividem espaço com os jovens Rick Rodrigues, Lou Sky e Luis Felipe Pôrto em um diálogo entre as memórias afetivas e o espaço do corpo. A curadoria é de Neusa Mendes e Fabrício Coradello.

Luis Filipe, Lou e Rick estão na exposição ”Corpo-Casa
Foto: Marcelo Prest - GZ

Luis Filipe apresenta uma instalação em que cataloga memórias da infância e de sua história de vida. “Falo de Venda Nova, onde nasci, da samambaia que é um marco da memória da minha avó”, diz ele.

Já Lou expõe o projeto “Provando a Existência”, que mistura fotografia e performances – as fotos são de David Benincá. “São performances espontâneas que trabalham a relação entre corpo e cidade”, diz.

Rick, por sua vez, apresenta desenhos em grafite colorido que remetem a elementos da memória. “São memórias afetivas e familiares”, detalha.

 

“Carlos Vergara Viajante - Experiências de São Miguel das Missões” e “Corpo-casa” Quando : desta quarta (28/02) a 5 de abril. Visitação de terça a sexta, das 9 às 20 horas. Sábados, domingos e feriados, das 10 às 19 horas.

Onde : Centro Cultural Sesc Glória. Av. Jerônimo Monteiro, 428, Centro, Vitória. Informações : (27) 3232-4750.

 

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